segunda-feira, 18 de maio de 2020

Fernando Gabeira - Gente em tempos sombrios

- O Globo

Tanto na guerra quanto na pandemia, escolhas erradas nos levam ao pior dos mundos

Dizem que vivemos a maior crise depois da Segunda Guerra. Não conheci a Segunda Guerra: ela é tão antiga que me colheu nos primeiros anos de vida.

Isso não me impede de comparar. Para o Brasil, creio, a Segunda Guerra foi menos devastadora que a pandemia do coronavírus. Perdemos 471 homens e tivemos 12 mil feridos. Nesta semana, a pandemia já alcança 200 mil casos e ultrapassa as 15 mil mortes.

Na Segunda Guerra, Vargas demorou mas acabou encontrando o rumo, e o Brasil se colocou do lado certo no conflito. Bolsonaro subestimou a importância do vírus e, infelizmente, não alterou sua posição diante dos fatos, recusando-se a desenvolver uma política nacional e solidária.

Isso configura uma tempestade perfeita. Tanto na guerra como na pandemia, escolhas erradas nos levam ao pior dos mundos.

Mas não adianta chorar. Sempre me interroguei sobre como sobreviver no pior dos mundos. Não tive respostas definitivas.

Lembro-me de que estava cobrindo a chegada dos refugiados albaneses numa praia italiana, no fim do regime. Na multidão que saía do navio, vi um casal vestido modestamente, mas com muita elegância. Pareciam tranquilos e felizes. Imaginei que eram ligados por um profundo laço amoroso, e isto os ajudou a atravessar o pesadelo do regime autoritário de Enver Hoxha.

Mais tarde li “Homens em tempos sombrios”, de Hannah Arendt. Ali era a coragem intelectual diante do stalinismo e do fascismo que despontava como elemento essencial na sobrevivência.

Demétrio Magnoli - Suécia, vida e morte

- O Globo

O colapso econômico cobra vidas

Os secretários estaduais de Saúde bateram a porta na cara do agora ex-ministro Nelson Teich. Diante de uma proposta de diretrizes sobre níveis de distanciamento social, responderam que, enquanto a curva da epidemia sobe, não é hora de discutir o assunto. Nossa polarização política reflete-se como guerra retórica entre dois extremismos. Num polo, Bolsonaro e seus lunáticos fantasiam-se de defensores da economia e dos empregos. No extremo oposto, configura-se um fundamentalismo epidemiológico que, vestido com a roupagem da ciência, exibe-se como o exército da vida. A Suécia oferece uma alternativa à dicotomia irracional.

O país escandinavo rejeitou a polaridade filosófica vida versus morte e sua tradução estratégica: saúde pública versus economia. Distinguindo-se de quase toda a Europa, navega por medidas brandas de isolamento social que não abrangem quarentenas extensivas. O fundamentalismo epidemiológico acusou-a de renegar a ciência, cotejou sua taxa de mortalidade por Covid (34 por 100 mil) com a de seus vizinhos (Noruega: 4,3; Finlândia: 5,1) e, num julgamento sumário, declarou-a culpada de desprezo pela vida.

Cacá Diegues - A estratégia da mentira

- O Globo

Militantes brasileiros do autoritarismo armado se dedicam à fabricação inesgotável de fake news

Todo mundo mente nesse mundo. Quando a gente é criança, mesmo que ninguém nos ensine a mentir, a gente mente. Às vezes, por motivos até louváveis, como livrar a cara de um amigo ameaçado por meninos da turma da namorada recém-conquistada. Outras, para contar vantagens inconsequentes, como na qualificação exagerada do pai ou de um tio. Pode-se mentir também por excesso de imaginação, impossível de ser contida.

Na minha infância, em Maceió, uma senhora negra tomava conta dos filhos de meus pais, narrando estórias maravilhosas para nos fazer dormir. A mim, por exemplo, Bazinha me contava as aventuras do Zumbi dos Palmares que, entre outras virtudes empolgantes, sabia voar, lá pela Serra da Barriga, perto de nossa cidade. Mais tarde, lendo de Monteiro Lobato a Ariano Suassuna, acabei verificando decepcionado que alguns heróis desses autores contavam estórias mais audaciosas que as da Bazinha. Isso para não falar dos livros de João Ubaldo Ribeiro, que li muito mais tarde, claro.

Ricardo Noblat - Celso de Mello deve autorizar divulgação de vídeo sigiloso

- Blog do Noblat | Veja

República à beira de um ataque de nervos

Dez entre os onze ministros do Supremo Tribunal Federal apostam que o decano da Corte, Celso de Mello, confinado no seu apartamento em São Paulo, autorizará ainda hoje a divulgação sem cortes do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril último onde o presidente Jair Bolsonaro, segundo o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, ameaçou intervir politicamente na Polícia Federal.

No entendimento da maioria deles, a possível decisão de Mello nesse sentido foi reforçada com a publicação, ontem, pela Folha de São Paulo, do relato que o empresário carioca Paulo Marinho diz que ouviu do senador Flávio Bolsonaro sobre uma operação da Polícia Federal que seria deflagrada entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2018. A operação foi adiada para não prejudicar seu pai.

O desembargador Abel Gomes, presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, enrolou-se para explicar por que a operação ficou para depois do segundo turno. Primeiro negou o adiamento. Depois disse que ela ficara “para um momento mais oportuno”. Motivo: não para “favorecer quem quer que seja”, mas para evitar “a falsa percepção de que tinha “motivações políticas”. Taokey?

Paulo Baía* – O brasileiro é um cadáver barato

- O Dia

Os ministros podem fazer e dizer o que quiserem pois estão protegidos por um ato de excludente de ilicitude.

Eu assisti na íntegra as entrevistas do ministro Chefe da Casa Civil, general Braga Netto, do ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos e do Ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes.

Os três afinados relativizaram a pandemia da covid-19.

É um indício de que o governo federal vai torpedear toda a política de combate a tragédia sanitária de governadores e prefeitos. As falas dos senhores ministros deram a entender que a covid-19 foi superestimada por institutos de pesquisas brasileiros, universidades, entidades médicas e de saúde no Brasil.

Como não sou um especialista em saúde pública, sanitarismo e epidemiologia, ancorei minha percepção nos relatos do Roberto Medronho, Edmilson Migowski, Denise Pires de Carvalho, Nísia Trindade Lima, Olga Chaim e/ou outros cientistas das universidades brasileiras, universidades dos EUA e Europa.

Vinicius Mota - Epidemias bagunçam o poder

- Folha de S. Paulo

Um novo vírus ajuda a enfraquecer a Presidência da República

Na edição de 2 de janeiro de 1895, O Estado de S. Paulo informava que “foram concedidos 40 passaportes a passageiros que seguem para a capital federal”. Pouco antes, com o aparecimento de casos de cólera no vale do Paraíba, o governo central suspendera a comunicação ferroviária regular entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

A emissão desses bisavós dos “passaportes da imunidade”, discutidos hoje como opção para deixar pessoas com anticorpos contra o novo coronavírus circularem, foi à época uma tentativa de contornar o problema. A oligarquia paulista se viu ameaçada de asfixia comercial pelas reações à difusão de notícias sobre a doença. Suas exportações, sendo o café a estrela, foram alvo de restrições sanitárias nos portos de estados e países compradores.

Veículos alinhados ao Partido Republicano Paulista, sócio da mudança do regime no país em 1889, minimizavam o surto. “Foi maior o pavor que o mal causado”, disse o Correio Paulistano. “Resta que o governo federal atenue o vexatório rigor das medidas de prevenção que tem adotado contra pessoas e gêneros procedentes deste estado.”

Leandro Colon – As pistas de Marinho

- Folha de S. Paulo


A entrevista do ex-aliado se soma às acusações de Sergio Moro sobre interferência na PF


As gravíssimas informações dadas por Paulo Marinho à jornalista Mônica Bergamo, da Folha, têm potencial explosivo e dependem agora da boa vontade das autoridades em investigá-las.

Marinho era do núcleo duro da campanha de Jair Bolsonaro, e a riqueza de detalhes sobre o vazamento do caso Queiroz, com nomes, datas e locais, dá verossimilhança à sua narrativa. Há pistas de sobra para quem quer de fato apurar seu relato.

Por outro lado, se essa história for verdadeira, Marinho ajudou Flávio naquela época, calou-se por longo período e só decidiu contar o que sabe após virar adversário político da família Bolsonaro. Não tem bobo nem santo aí, até porque Marinho, como suplente do senador, tem interesse direto numa eventual derrocada do mandato do 01 de Bolsonaro.

Marcus André Melo* - O jogo da culpa

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro espera que os governadores se saiam mal mas o tiro pode sair pela culatra

O confinamento mandatório tem se generalizado como resposta à Covid-19 e, diferentemente do voluntário, impõe custos importantes às pessoas; seu potencial para a manipulação política é assim elevado. Que efeitos poderão produzir?

A estratégia era clara para Bolsonaro quando introduziu uma clivagem entre confinamento e caos econômico.

Governadores e prefeitos seriam responsabilizados pelo horror sanitário: afinal são os gestores dos serviços de saúde. Por outro lado, caberia ao presidente a responsabilidade pelo colapso da renda e aumento da pobreza. Quanto menos protagonismo no combate à pandemia —um inimigo que ninguém derrota, mas apenas controla danos— melhor.

Essa é a estrutura dual da responsabilização política em nosso arranjo institucional: ela cria papéis distintos para os diferentes atores políticos.

Celso Rocha de Barros* - Em 2018, venceu quem fugiu da polícia

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro foi eleito porque tinha esquema de acobertamento de escândalos

A entrevista do empresário Paulo Marinho a Mônica Bergamo, publicada pela Folha neste domingo (17), mostrou que Jair Bolsonaro e seus filhos dispunham de um esquema de acobertamento dentro da Polícia Federal durante a eleição.

Segundo Marinho, um delegado da PF avisou Flávio Bolsonaro de que a operação Furna da Onça, em que o esquema Queiroz foi descoberto, seria desencadeada. O mesmo delegado, sempre segundo Marinho, disse que "nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição".

Pense por um minuto no que isso quer dizer.

Em 2018, na "eleição da Lava Jato", o eleitorado queria dizer ao sistema político que "a corrupção é inaceitável". Milhões de brasileiros pobres votaram em um programa econômico em que nunca tinham votado, só para transmitir essa mensagem. O Brasil arriscou sua democracia, sua estabilidade social, e agora vê seus filhos morrendo às dezenas de milhares na epidemia para bancar essa aventura.

Era tudo mentira.

Mathias Alencastro* - Vida e morte da frente ampla

- Folha de S. Paulo

Escolha de Jilmar Tatto é fim de uma era

A esquerda brasileira padece de uma ilusão portuguesa. Muitos acreditam que a famosa geringonça, a aliança entre socialistas, bloquistas e comunistas, seria, na sua encarnação tropical, uma parceria entre PT, PC do B e PSOL.

Mas o gênio do premiê português, António Costa, chefe e idealizador do projeto, está na sua capacidade de mobilizar esses partidos da esquerda para ocupar o centro do tabuleiro político.

Com o apoio envergonhado dos seus aliados, ele capturou as bandeiras conservadoras do rigor fiscal e da segurança pública.

Na semana passada, Costa, em mais um gesto de ruptura, aproveitou o desconfinamento para declarar o seu apoio à reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente de centro-direita.

Moscou, Istambul, Budapeste, capitais políticas e financeiras estão na linha de frente do combate ao populismo de seus respectivos chefes de governo. Em todas essas cidades, os progressistas foram além da experiência portuguesa, juntando partidos de todos os bordos.

Carlos Pereira - Modo sobrevivência ativado

- O Estado de S.Paulo

A ‘maior minoria’ proporcionada pelo Centrão pode ser a ‘vida extra’ do governo Bolsonaro

Quando o modo sobrevivência em um videogame é ativado, não é permitido pausas ao jogador, que deve continuar jogando em uma sessão ininterrupta tentando não morrer. Do contrário, “the game is over”!

Nessa modalidade, o jogo apresenta obstáculos cada vez mais difíceis. Ao tempo em que coloca o jogador contra a parede, o modo sobrevivência funciona como um bônus, dando a ele uma última oportunidade de lambuja para que possa se redimir e aprender com erros antes cometidos e oferecer melhores respostas aos problemas e desafios. Indica, portanto, que nem tudo ainda está perdido, mas as condições de sobrevivência são precárias.

As recentes e radicais inflexões do presidente Bolsonaro sugerem que foi ativado o modo sobrevivência em seu governo. Ora vejamos: até muito pouco tempo atrás, Bolsonaro demonizava o presidencialismo de coalizão argumentando que este era baseado em um jogo sujo de “toma lá, dá cá”.

José Goldemberg* - Energia e meio ambiente após a covid-19

- O Estado de S.Paulo

Maior respeito pela ciência pode ser uma das consequências mais positivas desta tragédia

Por mais grave que seja a atual pandemia, ela acabará passando, como aconteceu com outras no passado. Nenhuma, porém – nos tempos modernos –, atingiu tantos países e levou a uma paralisação econômica tão profunda, decorrente da imposição de quarentena, que é indispensável para evitar a propagação da doença.

Uma das muitas consequências desta quarentena é a redução do consumo de energia, principalmente no setor de transporte, que representa mais de 25% de toda a energia consumida no mundo.

O que aconteceu no setor do petróleo foi o que se chama “tempestade perfeita”. A demanda diminuiu justamente na ocasião em que havia excesso de produção. O cartel dos grandes produtores – principalmente a Arábia Saudita e a Rússia – não conseguiu fixar cotas de produção, que mantinham o resto do mundo refém do petróleo que produzia. O preço do petróleo não decorria dos custos de produção, era fixado arbitrariamente para suportar a economia dos regimes políticos e sociais dos países-membros do cartel.

Como consequência da falta de acordo dos produtores, o preço do barril de petróleo caiu de cerca de US$ 80 o barril para menos de US$ 20. No mundo pós covid-19 ele dificilmente voltará aos níveis anteriores, pois grande número de empresas e pessoas descobriram que home office funciona e o mesmo aconteceu com o ensino a distância, além do comércio eletrônico.

Bruno Carazza* - Nau à deriva

- Valor Econômico

Estamos perdidos entre o #fiqueemcasa e as manifestações de Bolsonaro

Passei o sábado esperando o pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV. Anunciado pelo próprio presidente da República na sexta-feira, o comunicado oficial poderia indicar os novos rumos da estratégia do governo no combate à covid-19 depois da segunda troca de ministro da Saúde em menos de um mês. Perdi o meu tempo.

Perder tempo, aliás, tem sido a tônica dos governos no Brasil quando se trata do enfrentamento da pandemia. A Organização Mundial da Saúde alertou sobre a detecção de casos de pneumonia provocados por um novo tipo de coronavírus em Wuhan, na China, em 10 de janeiro. Somente doze dias depois o Ministério da Saúde brasileiro se manifestou oficialmente, por meio de uma nota à imprensa declarando que estava acompanhando o assunto junto à OMS.

Após a publicação da Lei nº 13.979, de 06/02, que declarava emergência de saúde pública em todo o país, o governo federal só começou a se mexer em 11/03. Por meio da Portaria nº 356, o Ministro da Saúde orientava as secretarias estaduais e municipais sobre como proceder em relação ao isolamento de casos suspeitos e a decretação de quarentenas. Àquela altura, já haviam sido confirmados 52 casos no Brasil.

A partir da confirmação da primeira morte em território nacional, em 16/03, o que se viu foi uma proliferação de medidas descoordenadas sendo tomadas em âmbito municipal, estadual e federal com o propósito de “achatar a curva” de contágio. Nesta data Bolsonaro criou um comitê de crise para supervisionar e monitorar os impactos da covid-19 - apenas com seus ministros, sem nenhum representante dos governos regionais ou locais.

Sergio Lamucci - Cenário econômico piora, com país à deriva

- Valor Econômico

País caminha para número alto de mortes e recessão gravíssima

O cenário para a economia brasileira continua a se deteriorar. Com o ambiente político cada vez mais nebuloso, pioram as perspectivas para a atividade econômica e para as contas públicas, em meio a uma crise de saúde gravíssima. Bancos e consultorias seguem o ritual de redução das estimativas para o desempenho do PIB em 2020, e a avaliação crescente é que a recuperação depois do tombo será lenta. Retrações de 6% a 7% aparecem em várias projeções.

Na saúde e na economia, o Brasil parece caminhar para o pior dos mundos, devido à falta de coordenação na resposta à pandemia da covid-19, com a insistência do presidente Jair Bolsonaro em afrouxar o isolamento social, na esperança de acelerar a retomada da atividade.

O quadro é de um número elevadíssimo de casos e mortos pela covid-19, aliado a um mergulho da atividade econômica no segundo trimestre e, tudo indica, por uma retomada vagarosa. A incerteza é enorme, num país em que é raro passar um dia sem uma nova crise ou ruído político desnecessário. Não há nenhuma previsibilidade, o que tira a segurança para as decisões de consumo e investimento.

Em meio à grave crise na saúde, Bolsonaro provocou a saída de dois ministros da área em menos de um mês, insistindo em contrariar as prescrições dos especialistas e trombando com governadores e prefeitos. Essa resposta desastrada ao problema sanitário afeta a imagem do país, prejudicando o investimento.

Luiz Carlos Mendonça de Barros* - Acompanhamento da crise econômica

- Valor Econômico

No Brasil, vamos precisar iniciar um debate sobre a questão de novos estímulos para enfrentar 2021

Na coluna de abril desenhei para o leitor do Valor uma linha do tempo do meu cenário para a recuperação da economia brasileira até 2021. Aproveito para substituir o termo “otimista”, que utilizei então, pelo de “construtivo” para evitar os comentários de estar sendo uma espécie de Polyana sobre o nosso futuro. Tomo emprestado do ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, que também sofria com a mesma qualificação de excesso de otimismo em relação à democracia no Brasil, como confessou em recente entrevista ao canal CNN.

Neste período, entre as minhas duas colunas, foi possível aprofundar o entendimento sobre dois temas: a duração esperada da quarentena social e a natureza da recessão econômica que vai se seguir. Tenho aproveitado o lockdown radical em meu apartamento para acompanhar as informações disponíveis sobre estas duas questões. A partir delas, e de manifestações de pessoas envolvidas na linha de frente do combate à crise, foi possível reduzir um pouco da falta de visibilidade sobre a intensidade da crise que vamos enfrentar.

A primeira informação relevante vem das várias curvas disponíveis que mostram a evolução do número de pessoas infectadas - e também mortas - pela covid-19 nos cem dias que já se seguiram ao início da pandemia. Neste conjunto de curvas fica claro que nas próximas semanas a maioria dos países poderá iniciar um processo de volta ao trabalho e à maioria das atividades de empresas e cidadãos.

O que a mídia pensa - Editoriais

• Bolsonaro e as atividades essenciais – Editorial | O Estado de S. Paulo

À medida que governadores e prefeitos de cidades de grande e médio portes são obrigados a ampliar as medidas de isolamento social, adiando a reabertura do comércio, o presidente Jair Bolsonaro vai fazendo o oposto. Depois de ter baixado no dia 7 de maio um decreto que inclui atividades industriais e construção civil como atividades essenciais, em meio ao avanço da pandemia da covid-19, na semana passada ele assinou outro decreto, desta vez incluindo academia de ginástica, salão de beleza e barbearia no rol de serviços essenciais.

“Academia é vida. As pessoas vão aumentando o colesterol, tem problema de estresse (sic). Vai ter vida mais saudável. Fazer cabelo e unhas é questão de higiene”, alegou. Um dia antes de anunciar o novo decreto ele informou que já tem outras atividades em mente para listar como essenciais. “Devo botar mais profissões como atividades essenciais. Vou abrir a economia”, disse ele a apoiadores, em frente ao Palácio do Planalto. Ao todo, a lista já contém 57 atividades classificadas como essenciais.

Ao serem classificadas como essenciais, do ponto de vista da União essas atividades e serviços ficam autorizados a continuar em operação no período de quarentena. O problema é que a estrutura federativa do País confere aos Estados e municípios prerrogativas legais para que, em suas jurisdições, possam fazer o oposto, adotando sistemas mais drásticos de rodízio de automóveis e circulação de pessoas e exigências mais severas para reabertura de fábricas e lojas. Têm poderes, inclusive, para adotar planos de emergência, restringindo o acesso da população ao transporte público para reduzir risco de contágio.

Poesia | Carlos Pena Filho - Marinha

Tu nasceste no mundo do sargaço
da gestação de búzios, nas areias.
Correm águas do mar em tuas veias,
dormem peixes de prata em teu regaço.

Descobri tua origem, teu espaço,
pelas canções marinhas que semeias.
Por isso as tuas mãos são tão alheias,
Por isso teu olhar é triste e baço.

Mas teu segredo é meu, ó, não me digas
onde é tua pousada, onde é teu porto,
e onde moram sereias tão amigas.

Quem te ouvir, ficará sem teu conforto
pois não entenderá essas cantigas
que trouxeste do fundo do mar morto