As
eleições na Câmara e no Senado Federal constituem a mais perfeita tradução do
Brasil real, da elite política que temos em todas as esferas da Republica, eleita
para nos representar.
Os
episódios revelados nos meios de comunicação, durante o recente processo
eleitoral, atestam a maneira subalterna como se comporta o Legislativo frente
ao Executivo, refletindo uma práxis política que se repete há décadas, ad
náusea, nos poderes republicanos.
Essas
eleições evidenciaram, mais uma vez, de maneira inequívoca, quais são os
valores culturais, econômicos e sociais da nossa elite política, demonstrando a
distância dessa elite política com os anseios da população que a elegeu.
O
que já foi revelado, nessas eleições recentes no Congresso Nacional, deve ter a
repulsa de toda a sociedade brasileira. O Governo Bolsonaro cooptou setores do
campo democrático, que se diziam oposição, vencendo nas duas casas
legislativas, com resultados além das expectativas do próprio Governo Federal.
Prevaleceu
o espírito de sobrevivência política de cada parlamentar, de olho nas eleições
de 2022, preocupados com os resultados eleitorais de 2020: a renovação dos
mandatos é uma tendência a ser considerada no cenário político brasileiro, em
função do descrédito da população nos partidos e na maneira de fazer política
das suas tradicionais lideranças.
O
que queremos e podemos fazer diante deste cenário político após as eleições na
Câmara e no Senado, frente ao Governo Bolsonaro? Qual o Brasil desejado?
As
forças políticas responsáveis pela transição e reconstrução da democracia brasileira,
conquistas consolidadas na Constituição de 1988, não foram capazes de uma unidade política e programática que nos
levasse a um projeto de nação moderna, socialmente inclusiva, econômica e
ambientalmente sustentável.
São os nossos desafios históricos que continuam atuais. A República está por ser construída. Qual Federação?
Impõe-se
o fortalecimento e a autonomia dos poderes republicanos que continuam
subordinados aos ditames do Executivo federal, o que vem acontecendo desde o
Governo Sarney, dificultando o avanço da democracia e as reformas tão
necessárias à sociedade brasileira.
Entre
avanços e recuos, com discursos e narrativas radicais, a maioria do espectro
político acabou de maneira pragmática se encontrando nessas eleições, apoiando
o Governo Bolsonaro, na Câmara e no Senado.
O
campo democrático, de oposição, foi derrotado nessa disputa eleitoral. Continua
a ser desafiado a construir sua unidade programática para uma efetiva ação
política, tendo como principal objetivo apresentar uma alternativa ao
Bolsonarismo, na disputa das eleições de 2022.
A
Cidadania deve continuar comprometida com o enfrentamento sistemático dos
graves problemas sociais, econômicos e ambientais vividos no cotidiano da sociedade,
agravados com a pandemia que se estende neste ano de 2021, cujo recrudescimento
deve preocupar a todos nós – cada um tem que fazer a sua parte, até que toda a
população esteja vacinada.
Portanto,
frente a esta realidade, continuamos a ser desafiados, em 2021, a persistir e
continuar a trabalhar para superar a triste e desoladora realidade social de
uma parcela majoritária da população brasileira, desrespeitada nos seus
direitos básicos, consolidados na nossa Constituição, a saber: de ir e vir,
moradia, educação, saúde, trabalho e renda, ainda uma agenda primordial, a ser
conquistada.
Quais
as questões estruturantes a serem consideradas neste contexto frente a essa
realidade?
No
Brasil, a melhoria da qualidade das políticas públicas atuais e as que deveriam
ser construídas levaria às mudanças
políticas, econômicas e sociais na medida em que sejam construídos novos
conteúdos e pactos entre os diversos atores políticos, econômicos e sociais.
A
ampliação da Democracia e a consequente participação da Cidadania são
instrumentos fundamentais no caminho dessas mudanças desejadas.
Os
brasileiros estão convocados a ter uma efetiva participação na defesa e na
ampliação dessas conquistas democráticas, cobrando a necessária autonomia e
harmonia entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
A
insustentabilidade política, econômica e social, em que vivemos no Brasil,
reflete as disfuncionalidades e limites das atuais estruturas políticas,
econômicas e sociais responsáveis pela formulação e implementação dessas
políticas nacionais.
O
funcionamento e as relações estabelecidas entre os poderes Executivo, Legislativo
e Judiciário, atualmente no Brasil, é a mais completa tradução dessas
disfuncionalidades. A autonomia dos entes federativos em relação ao
corporativismo do Estado e do Mercado é um dos desafios a serem perseguidos no
dia a dia da sociedade brasileira.
A
construção e os resultados de uma Governança Democrática estão relacionados com
os meios, os modos de construção, de implementação das políticas nacionais e
regionais, em cooperação com os entes da federação nos planos nacional,
estadual e municipal.
Os
avanços da Democracia, com conquistas efetivas para toda a sociedade, vão
acontecer na medida que for possível a construção de pactos políticos,
econômicos e sociais que garantam a construção e a implementação de políticas
públicas inclusivas para a maioria dos brasileiros.
Ainda
é importante destacar, nesse contexto, os limites do próprio Estado Nacional,
em uma sociedade cada vez mais global, ampliados com as crises política,
econômica, social e de valores que estamos enfrentando nesses tempos de
pandemia, evidenciando a interdependência e a complementariedade entre o
Nacional e o Internacional, desafiando o Brasil a um maior protagonismo no
cenário global, como caminho de afirmação da nossa nacionalidade.
Assim,
os presidentes recém-eleitos para a Câmara dos Deputados e para o Senado
Federal, assim como seus pares, devem ter a consciência e a dimensão das suas
responsabilidades constitucionais frente à sociedade brasileira, devendo estar
comprometidos com a autonomia dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, pré-requisitos de funcionamento
de uma República Democrática, almejada por todos nós.
Há
muito, alguns representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
são fortemente criticados nas redes sociais - alguns, inclusive, não podem
circular nas ruas das cidades brasileiras.
Hoje, regra geral, existe um clima de desconfiança permanente em relação
ao comportamento de uma boa parte de seus integrantes, particularmente em
relação a alguns membros do Judiciário.
Portanto,
sempre é bom lembrar: os eleitos nas distintas esferas da Federação são para
representar os interesses de toda a Sociedade, garantindo o funcionamento do
Estado de Direito e da Constituição. A Sociedade e o exercício pleno da
Cidadania são os principais instrumentos de pressão e vigilância frente a essa
preocupante realidade vivida pelos
poderes da Federação brasileira.
Há
que haver uma maior articulação entre os discursos e as ações das forças
democráticas no Congresso Nacional e na sociedade em geral, no caminho de uma
alternativa para a superação da crise política, econômica, social e de valores que estamos vivendo, buscando o fortalecimento da Sociedade
Civil, no caminho da consolidação e ampliação da Democracia, construindo as
bases de um novo pacto político, econômico e social, vislumbrando as eleições
de 2022.
Seremos
capazes?
*George Gurgel, Universidade Federal da Bahia, da Oficina da Cátedra da UNESCO-Sustentabilidade.
Estou com Tigo nesta jornada
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