Tucanos
trabalham para reforçar viés de oposição e identidade própria para disputa de
2022
João Pedro Pitombo / Folha de S. Paulo
SALVADOR
- Preparando
terreno para a sucessão de Jair Bolsonaro (sem partido), o PSDB
endureceu o discurso de oposição, isolou parlamentares do partido com
ligação mais estreita com o presidente e, nos estados, começa a ensaiar uma
aproximação até com partidos de esquerda.
Os
movimentos têm como objetivo tentar unificar a bancada no Congresso Nacional e
construir um discurso que consolide o partido como uma opção ao Planalto em
meio à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT).
A
legenda tem como pré-candidatos os governadores João
Doria (SP) e Eduardo
Leite (RS).
Na última quinta-feira (31), ambos assinaram uma carta em defesa da democracia divulgada em conjunto com outros quatro presidenciáveis: Ciro Gomes (PDT), João Amoêdo (Novo), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido). A coalizão é vista como embrião de uma possível união para a corrida presidencial.
O
principal movimento dos tucanos em direção à esquerda aconteceu, sem alarde, no
estado do Maranhão: depois de três anos afastado do partido, o vice-governador
Carlos Brandão deixou o Republicanos e retornou ao PSDB, onde deve disputar
a sucessão do governador Flávio Dino (PC do B). A parceria deve reeditar a
aliança local entre comunistas e tucanos de 2014.
Brandão
voltou ao partido na condição de presidente estadual, movimento que acabou
isolando o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), um dos mais fiéis aliados de
Bolsonaro no Nordeste. Há pouco mais de um mês, rasgou
elogios ao presidente em uma visita a Alcântara (98 km de São Luís).
O senador já anunciou que deve deixar o PSDB e se filiar ao partido que o presidente Bolsonaro escolher para disputar a sua reeleição. Rocha deve disputar o Governo do Maranhão ou tentar a reeleição ao Senado no próximo ano.
Ao
mesmo tempo em que isolou um dos seus quadros mais ligados ao bolsonarismo,
os tucanos
abriram um canal com o PC do B. O movimento foi celebrado pelo governador
do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que fez elogios público a Flávio Dino em
suas redes sociais.
“Decisão
correta apoiar um governador que dialoga, respeita as diferenças e trabalha
pela vacina e contra injustiças. O Brasil precisa de caminhos que levem a
união”, afirmou o governador gaúcho.
A
expectativa é que, junto com Carlos Brandão, pelo menos dois deputados federais
da base de Flávio Dino migrem para o PSDB na janela partidário. Um deles é o
deputado Gastão Vieira, hoje no Pros.
Movimento
na mesma direção aconteceu no Pará, onde o deputado federal Celso Sabino (PSDB)
anunciou há duas semanas que vai ingressar com um pedido de desfiliação do
partido na Justiça Eleitoral.
A
decisão de deixar o PSDB veio após sucessivos
atritos do deputado com a cúpula do partido. Em agosto de ano passado,
Sabino foi alvo de um pedido de expulsão no conselho de ética do partido após
ser indicado para o posto de líder da maioria na Câmara dos Deputados em
articulação com partidos do centrão como PP, PL e Republicanos.
Na
época, o PSDB já estava em rota de colisão com Bolsonaro e entendeu que não
caberia a um deputado do partido assumir um posto de liderança no bloco
majoritário do Congresso.
Meses
depois, o deputado foi escanteado na sua tentativa de disputar a Prefeitura de
Belém –o PSDB do Pará decidiu por não lançar candidato próprio. Por fim, o
clima se acirrou ainda mais após o Sabino anunciar
apoio a Arthur Lira (PP) na disputa pela Presidência da Câmara em
fevereiro. O PSDB apoiou o deputado Baleia Rossi (MDB).
“Quero
deixar o partido e tenho farto material probatório para mostrar que há
divergências com a cúpula do PSDB, especialmente a ala paulista”, afirma
Sabino, que aproveitou para disparar críticas ao governador João Doria, a quem
chamou de pessoa de pouco diálogo.
Outro
nome tucano com relação próxima com o presidente é o senador Izalci Lucas (DF),
que ocupou o posto de vice-líder do governo no Senado entre março de 2019 e
setembro de 2020.
Ele
assumiu o posto com autorização da cúpula do partido, mas deixou o cargo após o
PSDB decidir intensificar seu perfil de oposição. Com planos de concorrer ao governo
do Distrito Federal, o senador tende a permanecer no PSDB.
Para
o vice-líder do PSDB na Câmara, deputado Beto Pereira (MS), o partido
está trabalhando
para ter um discurso uniforme, se colocando no campo de oposição ao
presidente, mas podendo apoiar pontualmente projetos que tenham sintonia com a
linha programática da legenda.
“Não
há unanimidade no PSDB, mas um partido que quer construir um projeto nacional
tem que ter uma identidade própria. Não vamos deixar pessoas sem compromisso
programático tomarem conta do partido”, afirma o deputado.
Na
bancada do partido na Câmara dos Deputados, por exemplo, há um grupo que defende
uma relação mais estreita com Bolsonaro liderado o deputado Aécio Neves (MG).
Parte
dos deputados deste grupo deve deixar o PSDB até a janela eleitoral de abril de
2022, caso da deputada federal Mara Rocha (AC). Ela é irmã do vice-governador
Major Rocha (PSDB), que já deixou o PSDB e assumiu o controle do PSL no Acre.
Outra
deputada federal que tende a deixar o PSDB é Edna Henrique (PB). Delegada da
Polícia Civil da Paraíba, ela tem uma atuação política que
converge com a do presidente. A Folha apurou que ela pode migrar
para o Pros, partido presidido localmente por seu filho.
Além
de deputados e senadores, o PSDB também sofreu uma baixa importante ainda no
ano passado: Rogério Marinho, ministro
do Desenvolvimento Regional do governo Bolsonaro, pediu desfiliação.
Ele
era presidente de honra do PSDB no Rio Grande do Norte e justificou a sua
decisão alegando que, por ocupar um cargo no governo federal, afastou-se da
vida orgânica do partido.
Ao
mesmo tempo em que se afasta do bolsonarismo, o PSDB começa a construir pontes
com partidos mais à esquerda.
No
campo institucional, governadores tucanos como João Doria (SP) e Eduardo Leite
(RS) firmaram uma boa relação durante a pandemia com colegas petistas como Rui
Costa (BA) e Wellington Dias (PI) no âmbito do Fórum
dos Governadores.
Se
é improvável uma possível aliança entre PSDB e PT, mesmo nos estados, os
tucanos podem chegar em 2022 com parcerias locais com PC do B, PSB e PDT em
estados do Nordeste.
Em
Alagoas, por exemplo, o PSDB articula repetir a aliança com o PSB firmada em
Maceió que resultou na eleição do prefeito João Henrique Caldas (PSB) no ano
passado. O nome do PSDB para concorrer ao governo do estado é o senador
Rodrigo Cunha.
Outro
estado nordestino onde há proximidade PSDB e PDT é o Ceará, onde a
reaproximação entre senador tucano Tasso Jereissati e os irmãos Cid e Ciro
Gomes resultou em aliança já em 2020 para a prefeitura de Fortaleza. A
tendência é que a parceria se mantenha no próximo ano.
Parlamentares tucanos afirmam que, caso queria superar a polarização entre Lula e Bolsonaro, o PSDB precisa construir uma aliança ampla. Por isso, a ideia é estreitar parcerias tanto com setores da direita como da esquerda, passando por alianças regionais.
Paulo "preciso comer essa loira" Marinho tem que sair!
ResponderExcluirMAM