segunda-feira, 31 de maio de 2021

Cláudio de Oliveira* - Qual é o programa, senhores?

Um dos males do presidencialismo brasileiro é o culto à personalidade. Discutem-se os candidatos, a busca por um pai dos pobres salvador da pátria em detrimento de programas e propostas de governo.

Nas últimas campanhas eleitorais, o debate foi prejudicado pela forte propaganda mistificadora promovida por marqueteiros pagos a preço de ouro, sem que houvesse debate dos efetivos problemas nacionais e elaboração de um projeto de país na complexa realidade da globalização e da chamada revolução tecnológica 4.0.

Em 2014, a campanha de Dilma Rousseff, com o marqueteiro João Santana à frente, usou de mentiras contra seus adversários, em especial contra a então candidata da coligação PSB-PPS-Rede, Marina Silva, e escondeu ao máximo a crise fiscal e econômica do país, que viria a se revelar dramaticamente após desligadas as urnas. 

As medidas de ajuste fiscal anunciadas na sequência pelo ministro Joaquim Levy passaram a sensação de estelionato eleitoral a parcelas significativas do eleitorado e foram o combustível para a continuidade das manifestações de rua iniciadas em 2013.

O ápice da mistificação eleitoral aconteceu em 2018 com a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro utilizando-se desbragadamente de mentiras nas redes sociais, de polarização ideológica e de uma pauta de costumes, sem que fossem apresentadas soluções para os reais problemas que afligem a maioria dos brasileiros. 

Jair Bolsonaro usou o atentado que sofreu para fugir dos debates. O seu assessor econômico, Paulo Guedes, limitou-se a recitar a cartilha ideológica do ultra-liberalismo econômico de defesa do Estado mínimo. 

O economista mentia ao prometer acabar com o déficit fiscal no primeiro ano de governo com a venda das estatais, proposta sabidamente inexequível. Além do mais, sanear as contas públicas não é programa de governo, mas obrigação de qualquer um que esteja à frente do Poder Executivo. 

Não se discutiram medidas concretas de como retomar o crescimento econômico, condição necessária para tirar do desemprego cerca de 14 milhões de compatriotas e garantir a todos a renda necessária a uma vida digna. O resultado foi um pífio PIB de 1,1% no primeiro ano de governo. 

A desastrosa gestão da pandemia do coronavírus por Jair Bolsonaro, seu discurso e sua ação contras as vacinas, só têm prolongado a crise sanitária e econômica, com resultados trágicos não só em número de mortos, como também em falências, em especial do pequeno negócio, responsável pela maioria do emprego e da renda dos brasileiros.

Peço aos meus amigos que não entrem numa guerra de torcidas organizadas, no culto à personalidade e no oba-oba ideológico sem que os verdadeiros problemas nacionais sejam debatidos. Que nós, eleitores, cobremos de todos os candidatos propostas concretas para promover o desenvolvimento do país com prosperidade para todos. 

Como os pré-candidatos pretendem no governo ampliar a taxa de investimentos público e privado, condição necessária para a retomada do crescimento? Que reforma tributária pretendem promover para garantir o financiamento da saúde, do transporte, da educação, da pesquisa, da ciência, da tecnologia, da Previdência e dos programas assistenciais, entre eles o de renda mínima?

A pré-campanha eleitoral já está nas ruas por iniciativa do atual presidente da República. Desde já, os cidadãos devem ficar atentos para que a eleição que definirá o futuro do país não seja transformada em mais um espetáculo circense, para que, depois de fechadas as cortinas, os eleitores não tenham de enfrentar mais uma ressaca de estelionato eleitoral.

* Cláudio de Oliveira é jornalista e cartunista e autor dos livros ERA UMA VEZ EM PRAGA – Um brasileiro na Revolução de Veludo e LÊNIN, MARTOV A REVOLUÇÃO RUSSA E O BRASIL, entre outros.

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