Precisamos
ter cuidado com as tomadas de posição automáticas e irrefletidas que adotamos
em tempos de polarização. Nem tudo aquilo que Bolsonaro propõe é ruim, apenas
porque ele propôs. É o caso do voto impresso auditável, uma proposta bastante
razoável, que tem o respaldo de muitos especialistas e é adotada com bons
resultados noutros países.
Embora
a medida seja apropriada, ela certamente não é oportuna, seja porque não temos
tido casos de fraude, seja porque a substituição dos equipamentos é cara e a
implementação, demorada. E deveríamos ter outras prioridades em tempos de
Covid-19.
O
voto impresso tem muitos apoiadores no Congresso. A medida chegou a ser
aprovada na minirreforma de 2015, mas foi derrubada depois pelo STF. Agora, o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tenta aprová-la por meio de uma
proposta de emenda à Constituição de autoria da deputada bolsonarista Bia Kicis
(PSL-DF).
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, tem se esforçado em defender o legado da urna eletrônica, que pôs fim às fraudes recorrentes das cédulas de papel e aguentou bem o teste prático das eleições democráticas dos últimos 25 anos, sem que tenha mostrado problemas relevantes.
Mas,
ainda que seja segura, ela tem problemas. Seu modelo de criptografia fechado
tem sido alvo de críticas de especialistas, que defendem que um sistema aberto
seria mais robusto porque permitiria uma auditoria permanente da comunidade
acadêmica e de outros interessados.
Críticos
também têm apontado que o sistema de impressão do voto, depositado
automaticamente na urna, permitiria uma auditoria da máquina que não fosse
apenas a inspeção do software, seria de melhor entendimento e transmitiria mais
segurança aos eleitores.
Essa
poderia ser uma discussão acadêmica sobre aperfeiçoamentos técnicos do sistema
de votação, mas ela é hoje bem mais do que isso.
Desde
as eleições de 2018, Bolsonaro tem criticado a confiabilidade da urna
eletrônica sem que tenha apresentado qualquer evidência concreta de fraude.
Apesar disso, acredita que ganhou as eleições passadas com uma margem maior que
a oficialmente registrada e ameaça que, se o sistema de votação não for
modificado, pode não aceitar o resultado das eleições, como fez Donald Trump.
Não
está claro se o objetivo da proposta que está tramitando agora é realmente
implementar o voto impresso auditável para as eleições de 2022 ou se é apenas
um jogo de cena que permitiria a Bolsonaro dizer que tentou resolver o problema
da confiabilidade das urnas, mas foi impedido pelo Congresso, pelo STF ou pelo
“sistema”. Ainda que a proposta seja aprovada por Câmara e Senado antes de
outubro deste ano, não seria viável implementar mais que um projeto-piloto para
as próximas eleições.
Apesar de cara e apressada, pode ser conveniente aprovar a proposta de uma vez, dadas as circunstâncias políticas. No mérito, a proposta de fato aperfeiçoa o sistema de votação. E ela pode retirar dos autoritários um dos argumentos que seguramente serão usados para criar instabilidade nas eleições de 2022.
Pelo lido, a covardia se torna argumento para tirar das mãos dos autoritários qualquer desculpa! A CPI amarelou; agora este artigo tolo, escrito por quem não sabe nada sobre TI.
ResponderExcluirMAM