sexta-feira, 18 de junho de 2021

Bernardo Mello Franco - A agonia da terceira via

O Globo

Luciano Huck desistiu de concorrer à Presidência. Preferiu assumir o lugar do Faustão. O animador estava indeciso entre governar o país e comandar um programa de auditório. Ao escolher a segunda opção, mostrou que não era a pessoa certa para a primeira.

A candidatura Huck já havia sido ensaiada antes da eleição de 2018. O clima era favorável a um outsider, mas ele não quis arriscar a fama no campo minado da política. Um deputado de sete mandatos se fantasiou de novidade e conseguiu chegar lá.

O novo recuo do apresentador expõe os problemas da direita liberal, que hoje reivindica o rótulo de “centro”. Com apoio do empresariado, o grupo tenta fabricar um presidenciável para concorrer com Lula e Jair Bolsonaro. A ideia já esbarrava na falta de votos. Agora começa a agonizar com a fuga de candidatos.

O ex-ministro Sergio Moro puxou a fila das desistências. Desgastado após romper com o capitão, mudou-se para os EUA e sumiu do debate político. A anulação de suas sentenças no Supremo parece ter sepultado de vez a hipótese de uma aventura eleitoral.

Na semana passada, foi a vez de João Amoêdo pular do barco. Sua pré-candidatura durou apenas nove dias. Foi bombardeada por deputados do Novo que viraram linha auxiliar do bolsonarismo.

A retirada do trio poderia reabilitar a velha dobradinha entre PSDB e DEM. No entanto, os dois partidos estão em processo de autofagia. O antigo PFL acaba de expulsar Rodrigo Maia, reforçando os laços com o governo. Isso pode fazer do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta o próximo a deixar o páreo.

Os tucanos começaram a se depenar antes do habitual. Apesar da vacina e da máquina do governo paulista, João Doria não decola. Enfrenta resistências na sigla e apareceu com apenas 3% no último Datafolha.

A pesquisa indicou haver pouco espaço para a tal terceira via. Lula e Bolsonaro somam dois terços das intenções de voto, e os outros pré-candidatos patinam na casa de um dígito.

Ciro Gomes foi a maior vítima do retorno do ex-presidente: encolheu para 6%. Ele contratou o marqueteiro João Santana e mudou o discurso para tentar atrair o eleitorado antipetista. Mas deve ter dificuldade até para segurar a legenda do PDT.

 

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