segunda-feira, 28 de junho de 2021

Catarina Rochamonte - Bolsonaro e Barros - 'A política como ela é'

Folha de S. Paulo

Embora governistas tentem repassar o crime de prevaricação para costas de Pazuello, é ao presidente que ele deve ser imputado

“Isso é coisa do (...)”, teria dito Bolsonaro ao deputado Luís Miranda e seu irmão Luís Ricardo Miranda, após ser alertado dos graves indícios de corrupção no processo de aquisição da vacina indiana Covaxin.

No depoimento dos irmãos à CPI da Covid, o suspense em torno desse nome durou até o momento em que o senador Alessandro Vieira o declarou com todas as letras e a senadora Simone Tebet convenceu o depoente a verbalizá-lo. Trata-se de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara; aquele mesmo que, ao assumir tal liderança, disse que o fazia justamente na hora em que o presidente Bolsonaro se articulava com “a política como ela é”.

Na política como ela é, Barros tem ficha corrida: foi condenado por fraude quando prefeito de Maringá e teve o mandato de deputado cassado pela Justiça Eleitoral por compra de votos (decisão anulada por recurso). No momento, está denunciado por improbidade administrativa em caso de fraude na aquisição de medicamentos quando ministro da Saúde no governo Temer. Esse último processo faz link com o atual escândalo Covaxin: no primeiro, Barros teria favorecido a empresa Global Gestão em Saúde; agora estaria tentando favorecer a Precisa Medicamentos. Ambas são sócias e têm mesmo dono.

Bolsonaro é um presidente fraco, que se submete ao centrão e tem medo de Ricardo Barros; isso foi dito e dramatizado pelo deputado Luís Miranda na CPI. O medo desorienta: em pronunciamento que antecedeu o depoimento, Onyx Lorenzoni, em nome do presidente da República, disse que mandaria investigar os denunciantes, e não o crime denunciado.

Embora senadores governistas tenham tentado repassar o crime de prevaricação para as costas largas e submissas do ex-ministro Pazuello, é ao presidente que ele deve ser imputado.

Enquanto os indícios de corrupção diziam respeito apenas a governadores, prefeitos e ao Consórcio do Nordeste, a CPI fechou os olhos. Pelo menos agora os olhos dos senadores estão bem abertos.

 

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