segunda-feira, 28 de junho de 2021

Celso Rocha de Barros - Teve rachadinha na vacina?

Folha de S. Paulo

Há indícios de que Bolsonaro acobertou roubo de dinheiro de vacina em plena pandemia

Bolsonaro é tão ruim que, quando correu para comprar uma vacina durante a pandemia, todo mundo suspeitou que fosse falcatrua. E era mesmo.

O governo Bolsonaro recusou-se a comprar a vacina da Pfizer, a Coronavac do Butantan e metade da oferta do consórcio Covax Facility, em cada caso apelando para um argumento diferente. Como já dissemos aqui, estudos do epidemiologista Pedro Hallal mostraram que só as decisões sobre Pfizer e Coronavac causaram em torno de 95 mil mortes.

Eis que em 2021 toda a estrutura do governo Bolsonaro se mobiliza para acelerar a compra da vacina Covaxin, da Índia, que tinha todos os problemas apontados por Bolsonaro nas outras vacinas e mais alguns.

Segundo um volume expressivo de evidências e os depoimentos à CPI do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, o funcionário de carreira do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, a pressa tem uma explicação: trata-se de um esquema de corrupção coordenado pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara. O valor do contrato da Covaxin é de um bilhão e seiscentos milhões de reais.

Os irmãos Miranda contaram à CPI que quando foram ao Palácio do Planalto alertar Bolsonaro que havia pressão política para acelerar a importação da Covaxin, ouviram do presidente que se tratava de “rolo do Ricardo Barros”. Bolsonaro teria prometido que a PF investigaria o caso. Era mentira. A PF só instaurou inquérito sobre a Covaxin na última sexta-feira, quando Bolsonaro soube que o escândalo seria revelado na CPI.

Enfim, há indícios de que Bolsonaro acobertou roubo de dinheiro de vacina em plena pandemia. A gestão de Bolsonaro na pandemia acaba de fechar o bingo do Código Penal.

A partir daí, é possível suspeitar que Bolsonaro não tenha comprado as outras vacinas porque não lhe foi oferecido suborno. Nesse caso, Bolsonaro é tão ladrão que aceita cometer genocídio para ganhar dinheiro. Pode ser isso. Flávio Bolsonaro levou a turma da empresa Precisa, intermediária da mutreta, para uma reunião no BNDES. Durante o depoimento dos irmãos Miranda, Frederick Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro, estava trancado no banheiro feminino do senado. Ricardo Barros continua líder do governo.

Também é possível que Bolsonaro tenha deixado centenas de milhares de brasileiros morrerem pelos motivos que discuti na última coluna, até que, em janeiro de 2021, precisou correr atrás de vacina para competir com Doria. Quando Bolsonaro resolveu comprar vacina, lembrou-se que havia demitido todos os técnicos e os substituído por extremistas ideológicos e ladrões. Os extremistas eram contra a vacina. Quem sobrou para arrumar vacina foi a turma da roubalheira, que opera desse jeito aí.

Depois que Bolsonaro, de forma documentada e indiscutível, cometeu assassinato em massa contra o povo brasileiro, crimes de corrupção podem parecer menores. E, normalmente, seriam. Qualquer mãe que tenha perdido filho porque Bolsonaro não comprou vacina preferia que Bolsonaro lhe tivesse roubado a carteira.

Mas é importante lembrar que esta roubalheira aconteceu durante o assassinato em massa de 2020-2021, com dinheiro que poderia tê-lo evitado, e que talvez tenha sido parte da motivação por trás do assassinato em massa. O governo Bolsonaro pode ter matado filhos de mães brasileiras enquanto também lhes batia a carteira.

 

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