sexta-feira, 4 de junho de 2021

Vera Rosa - Braga Netto vira o ‘novo Pazuello’

- O Estado de S. Paulo

Para ministros do Supremo Tribunal Federal, o general Braga Netto, como Eduardo Pazuello, articula fazendo tudo que Jair Bolsonaro quer.

Apolitização dos quartéis, misturada à campanha presidencial antecipada, serviu para acender o sinal amarelo no Supremo Tribunal Federal (STF). A preocupação ganhou novos contornos com a absolvição do general Eduardo Pazuello pelo comando do Exército, agravada pela falta de interlocução com o ministro da Defesa, Braga Netto. Na avaliação de magistrados, Braga Netto virou “um novo Pazuello” e já demonstrou ter assumido perfil político para fazer tudo o que o presidente Jair Bolsonaro quer. Custe o que custar.

Com expressivas manifestações de rua contra Bolsonaro, juízes temem novo ataque às instituições, desta vez por parte dos fardados, com ameaças de insubordinação de soldados, cabos e sargentos do Exército. Em conversas reservadas, ministros do Supremo observam que a violência e o abuso praticados por policiais militares, como se viu nos últimos dias em Pernambuco, Goiás e no interior de São Paulo, também parecem fazer parte de um perigoso movimento da militância armada, em defesa da reeleição de Bolsonaro.

É exatamente aí que os caminhos de Braga Netto e Pazuello se cruzam. Bolsonaro pressionou o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, para não punir o ex-ministro da Saúde, que no último dia 23 participou de um ato político, no Rio, apesar de ser general da ativa. Incentivado pelo presidente, que quer vê-lo candidato a governador ou até mesmo a deputado federal, em 2022, Pazuello discursou animadamente em cima de um palanque de trio elétrico.

Braga Netto nada falou sobre a transgressão disciplinar, hoje arquivada, ao contrário do vice Hamilton Mourão, que chegou a defender uma repreensão a Pazuello. À frente da operação apelidada ironicamente por aliados do Palácio do Planalto como “Fica na sua, meu Exército”, Bolsonaro ainda nomeou o ex-ministro da Saúde, nesta semana, para a chefia da Secretaria de Estudos Estratégicos da Presidência. Foi um prêmio dado a Pazuello, que blindou o presidente no primeiro depoimento à CPI da Covid e agora será blindado pelo governo. O recado de Bolsonaro para o Exército foi um só: “Quem manda sou eu”.

Do outro lado da Praça dos Três Poderes, porém, integrantes do Supremo concordam com Mourão e dizem agora que a cúpula do Exército endossou a “anarquia nos quartéis”. A um ano e quatro meses das eleições de 2022, existe o temor de que um barril de pólvora esteja prestes a explodir. Motivo: se um general pode desobedecer às ordens, por que os praças não podem ocupar as ruas em defesa de Bolsonaro? E por que não engrossar protestos, assembleias sindicais e fazer greve?

Diante do clima de polarização política que tomou conta do País, principalmente após o ex-presidente Lula voltar à cena, e de um governo acuado por um vírus ceifando vidas, a falta de controle da tropa tem potencial para significar novos motins e rebeliões. E, para magistrados, Braga Netto – no figurino de escudeiro número um de Bolsonaro – não tem pulso para segurar essas manifestações.

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