domingo, 11 de julho de 2021

Bruno Boghossian - O plano B de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Com a certeza da impunidade, presidente faz exibição pública de seu arsenal golpista

Jair Bolsonaro fez uma exibição pública de seu arsenal golpista ao longo da última semana. Pressionado por suspeitas de corrupção e pela perspectiva de uma derrota nas urnas, ele renovou suas ameaças explícitas à democracia e disse, despreocupadamente, que o país pode não ter eleições no ano que vem.

O presidente desfila com a certeza da impunidade. Bolsonaro espalha suspeitas falsas de fraude nas urnas eletrônicas há mais de um ano e avisa a quem quiser ouvir que está disposto a comandar um levante se for derrotado nas próximas eleições. Praticamente ninguém o incomodou ao longo dessa campanha.

Até aqui, Bolsonaro teve o consentimento de personagens que têm a chave para sua sobrevivência imediata. O procurador-geral da República, que deveria investigá-lo, não viu nada de errado em mais essa coletânea de ataques. Já o presidente da Câmara e os bem alimentados parlamentares de sua base acreditam que tudo deve continuar como está.

Graças a essa boa vontade, Bolsonaro operou nas bordas do autoritarismo ao longo do mandato. Se não cruzou a fronteira, não foi por desinteresse, mas por falta de força política. Agora, é seu enfraquecimento que o empurra para o outro lado. Na prática, o presidente já abandonou o território democrático.

A movimentação de Bolsonaro surgiu no radar de duas autoridades na última sexta-feira (9). O presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, afirmou que agir para impedir as eleições é crime de responsabilidade. O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM), classificou como "inimigo da nação" aquele que patrocina retrocessos dessa natureza.

Na articulação golpista, Bolsonaro usa a desculpa de que está em busca de "eleições limpas". As eleições, no entanto, deixaram de ser limpas no momento em que o presidente da República passou a ameaçá-las, com a guarida dos comandantes militares.

Bolsonaro pode até vencer nas urnas (o que parece cada vez menos provável), mas ter mais votos do que seus adversários é só um plano B.

 

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