domingo, 4 de julho de 2021

Bruno Borghossian - Golpismo sem vergonha

Folha de S. Paulo

Presidente não busca urna segura, mas um pretexto para não entregar a faixa em 2022

Jair Bolsonaro dedicou os últimos dias à preparação do golpe que pretende liderar em outubro do ano que vem. Ao longo da semana, ele repetiu suspeitas vazias de fraude nas urnas eletrônicas, insinuou que pode se recusar a deixar o cargo e pediu apoio para um levante caso a esquerda vença a eleição.

O presidente tenta adicionar novos elementos à teoria que serve de base para sua conspiração. Com o objetivo de instigar bolsonaristas mais radicais, ele inventou a existência de um conluio entre partidos políticos e ministros do STF para reabilitar o ex-presidente Lula, fraudar a disputa de 2022 e dar a vitória ao petista.

"Vamos ter problemas no ano que vem. Como está aí, a fraude está escancarada", disse, na quinta (1º). "Tiraram o Lula da cadeia, tornaram ele elegível para ele ser presidente na fraude. E isso não vai acontecer."

Bolsonaro inaugurou uma nova fase de seu plano depois que uma articulação política enterrou a proposta do voto impresso na urna eletrônica. Ao perder esse joguete e observar a vantagem de seu principal adversário nas pesquisas eleitorais, o presidente decidiu falar com mais clareza na possibilidade de um golpe.

"Eu entrego a faixa presidencial para qualquer um que ganhar de mim na urna de forma limpa. Na fraude, não", afirmou. "Não vou admitir um sistema fraudável de eleições."

O presidente nunca apresentou o menor indício de fraude e já sabe que o sistema de votação não deve mudar até o ano que vem. Bolsonaro não quer contestar a segurança das urnas, mas encontrar um pretexto para não entregar a faixa em 2022.

Pela segunda vez, o presidente indicou que tem medo de ir para a cadeia se a esquerda voltar ao poder. Na quinta, ele citou a prisão da ex-presidente boliviana Jeanine Añez, acusada de conspirar contra a democracia. "Estão sentindo alguma semelhança com o Brasil?", perguntou.

Em seguida, Bolsonaro pediu apoio aos que cobram "medidas drásticas" do governo. "Eu não vou chutar o pau da barraca. Mas, se chutarem, a força é muito maior do nosso lado."

 

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