segunda-feira, 26 de julho de 2021

Catarina Rochamonte – Aliança pela corrupção

Folha de S. Paulo

Tendo parasitado todos governos desde Sarney, centrão deve, finalmente, chegar ao poder com Ciro Nogueira na Casa Civil

Tendo parasitado todos os governos da República desde o presidente José Sarney, o centrão deve, finalmente, chegar ao poder com a nomeação de Ciro Nogueira a ministro-chefe da Casa Civil.

Escanteado para um ministério de menor relevância, o general Ramos se disse surpreso e insatisfeito com a sua substituição. Afirmou, entre submisso e queixoso, que não sabia, estava em choque, mas que soldado não escolhe missão. E desabafou: “Se eu estivesse sendo trocado por alguém formado em Oxford ou Harvard, tudo bem, poderiam dizer que falhei. Mas é por um político aliado do presidente, é assim que funciona”.

Ciro Nogueira não foi diplomado em Harvard, mas, para dirigir a República da impunidade que se tornou o Brasil, ele tem credenciais: é réu no STF por organização criminosa, denunciado por corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça. Foi acusado de ter recebido R$ 2,5 milhões de propina da JBS para assegurar apoio do seu partido a Dilma em 2014 e acusado pelo MPF de ter recebido R$ 7,3 milhões de propina da Odebrecht. É diplomado em politicagem e foi aprovado com louvor por seus pares.

Para o deputado Rodrigo Maia, Ciro Nogueira é “muito competente e muito articulado” e levará a chance de impeachment de Bolsonaro a zero (Maia é um animador da candidatura de Lula e daqueles a quem interessa que Bolsonaro ‘sangre’ até outubro de 2022). O deputado Ricardo Barros, por sua vez, tuitou que estava “entusiasmado com a escolha de Bolsonaro” e que Ciro Nogueira “emprestará ao governo sua longa experiência na articulação política”.

O presidente Bolsonaro gosta de mandar, mas já não governa. O centrão agora tem completo domínio da máquina a partir da Casa Civil. A chave do cofre está entregue; o Brasil foi rifado. Em troca, Arthur Lira e Ciro Nogueira evitam o impeachment e garantem a Bolsonaro uma legenda para tentar a reeleição. Não deu certo a tal Aliança pelo Brasil, mas fechou-se sólida aliança pela corrupção.

 

 

 

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