sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Bruno Boghossian -Tribunais encurralam Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Respostas do STF e do TSE obrigam presidente a abandonar estado de tensão controlada

Nenhum político forte precisa intimidar ministros do Supremo Tribunal Federal ou avisar pelo rádio que pretende desrespeitar a Constituição para pavimentar o caminho de um golpe de Estado. Jair Bolsonaro decidiu exibir todas as suas fraquezas com a escalada retórica que protagonizou nos últimos dias.

Sem interesse em governar, o presidente trabalhou para fabricar uma crise completa. Atacou decisões do Judiciário, ironizou o fato de ter se tornado investigado por espalhar mentiras sobre o sistema eleitoral e mostrou que sua única alternativa de sobrevivência política é forçar um conflito continuado até 2022.

O plano original de Bolsonaro era cultivar um estado de tensão controlada. Além da tentativa de sabotar a confiança dos eleitores na urna eletrônica, o presidente acoplou seu conhecido discurso de perseguição, com insinuações de que o Judiciário conspira para tirá-lo do poder. O roteiro era conhecido, mas a situação fugiu de seu controle.

O STF e do TSE encurralaram Bolsonaro ao longo da semana. Na segunda-feira (2), o presidente se viu investigado por ameaçar a realização das eleições e precisou simular um recuo estratégico: afirmou que sua briga não era com os tribunais, mas apenas com o chefe da corte eleitoral, Luís Roberto Barroso.

A encenação durou pouco. Dois dias depois, quando Alexandre de Moraes decidiu investigar Bolsonaro no inquérito das fake news, o presidente foi para cima do ministro ("a hora dele vai chegar") e declarou que preparava uma resposta “fora das quatro linhas da Constituição”.

A ameaça obrigou o presidente do STF, Luiz Fux, a abandonar sua mansa política de acomodação. O ministro disse que, "quando se atinge um dos integrantes do tribunal, se atinge a corte por inteiro" e cancelou um encontro que teria com Bolsonaro.

O presidente sentiu. Em sua live semanal, ele manteve ataques aos ministros e à urna eletrônica, mas tentou convencer Fux de que não disse o que disse. Nos intervalos, voltou a falar bobagens sobre a cloroquina.

 

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