sábado, 14 de agosto de 2021

George Gurgel de Oliveira* - As Mudanças Climáticas e o Relatório do IPCC

Estamos vivendo uma situação mundial e nacional de crises. A pandemia colocou em evidência a insustentabilidade da sociedade brasileira e mundial. São insustentáveis a maneira de ser e agir da sociedade global, herdeira da revolução industrial, nas suas relações políticas, econômicas, sociais e ambientais estabelecidas entre si e com a própria natureza.

O mais completo relatório publicado recentemente pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que congrega a comunidade científica mundial, nos alerta e reafirma as preocupações dos relatórios anteriores, desde 1990, apontando danos irreversíveis no presente e no futuro do Planeta em função da intervenção humana a nível global, continental e regional.

As conclusões e os cenários do referido Relatório são alarmantes. Deveria ser objeto de preocupação de todos nós, da cidadania, da sociedade brasileira e mundial.

Segundo o Relatório, os níveis de concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera são maiores do que em qualquer época nos últimos dois milhões de anos. Ainda em relação aos níveis de concentração de metano e dos gases de efeito estufa na atmosfera são os maiores já registrados pelo menos nos últimos 800 anos. Alerta para a necessidade de medidas efetivas e urgentes a ser implementadas e os danos irreversíveis já causados aos ecossistemas a nível mundial, continental e regional. O aumento da temperatura global vem trazendo acontecimentos climáticos extremos como secas, inundações e ondas de calor atingindo as populações e os ecossistemas do Planeta.   

Assim, o aquecimento aumentou a temperatura global nos últimos 50 anos provocando o degelo e o consequente aumento do nível do mar, impactando  os ecossistemas do Planeta e a  própria humanidade.

O aquecimento global impacta o cotidiano das populações em todo o mundo: os vários eventos climáticos se combinam, muitas vezes de maneira trágica, trazendo mortes, sofrimentos e impotência às populações afetadas diretamente pelas mudanças climáticas em curso.

O imperativo das mudanças.

O sinal vermelho do IPCC frente às mudanças climáticas conclama a consciência crítica e o espírito de sobrevivência da humanidade colocando de maneira imperativa a tomada de medidas urgentes no caminho de uma reorientação de valores de ser e de ter da sociedade contemporânea.

Coloca a necessidade de mudanças comportamentais da sociedade frente à complexidade dos desafios a serem enfrentados em função do aquecimento global no caminho de novas relações a serem construídas, centradas na vida e na preservação da natureza.

A construção dessas alternativas, através do dialogo e da cooperação permanentes, é o desafio colocado às dificuldades que estamos vivendo na sociedade frente ao aquecimento global e à própria pandemia que desnudou a insustentabilidade do mundo em que vivemos

O que temos a dizer como sociedade brasileira e mundial?

Nesse contexto é que devemos avaliar o Relatório recém divulgado do IPCC em relação às mudanças climáticas e às medidas urgentes a serem tomadas a nível global, nacional e regional . Qual a responsabilidade dos países mais desenvolvidos do mundo frente aos desafios colocados neste Relatório, particularmente os EUA, a China, o G7, a Comunidade Europeia e a Rússia, importantes protagonistas da cena política e econômica mundial, causadores de uma boa parte desse aquecimento global?

Como relacionar os desafios mais amplos colocados pela pandemia e as medidas efetivas a favor do desaquecimento global?

O isolamento social proporcionado pela pandemia está nos aproximando e nos fazendo pensar e agir de outra maneira, entendendo melhor as nossas limitações e fragilidades individuais e coletivas. Há uma preocupação maior para o que nos faz humanidade: a cooperação, a solidariedade nos desafia em toda parte no enfrentamento das crises econômica, social e ambiental que estamos vivenciando já no segundo ano de pandemia.

As mudanças que estão acontecendo no mundo do trabalho e da cultura, a vida em home office, estão impactando de maneira significativa o nosso cotidiano de trabalho e lazer, a forma de viver de cada um de nós. Qual a dimensão dessas mudanças? Como aproveitar essa crise planetária trazida pela pandemia no caminho dessas urgentes e necessárias transformações no caminho de uma nova economia de baixo carbono, centrada em uma matriz industrial e energética baseada em energias renováveis a favor de uma sociedade sustentável?

Nesse contexto é que devemos discutir o aquecimento global e as mudanças a serem realizadas a nível mundial e em cada país, se quisermos enfrentar efetivamente a questão das mudanças climáticas durante e pós-pandemia. A educação, a ciência e a tecnologia são fundamentos dessas mudanças inadiáveis e devem estar a favor da vida, de novas relações a serem construídas entre a humanidade e a própria natureza.

A realidade mundial e brasileira grita a favor dos excluídos, exigindo mudanças. Coloca nas ruas e nas redes sociais a tragédia social de milhões de pessoas, excluídas das conquistas sociais elementares: trabalho, alimentação, moradia, saúde-saneamento básico, educação e mobilidade. A pandemia e a crise climática alertam a sociedade contemporânea que as vidas importam, independente da cor da pele, das convicções políticas e religiosas e do lugar que cada ser humano ocupa na escala social.

Estamos desafiados como humanidade. Devemos no nosso cotidiano incorporar práticas sustentáveis, exigindo dos governantes e da cidadania mudanças comportamentais que nos transforme. O que estamos fazendo cada um de nós a favor da vida e da preservação da natureza? Podemos fazer mais?

O futuro da sociedade pós-pandemia deve e pode ser sustentável, superando com a urgência devida as relações de poder e de funcionamento dos organismos multilaterais a exemplo da ONU, FMI, Banco Mundial, OIT, dos blocos econômicos regionais e em cada sociedade nacional, no caminho de novas relações entre os povos, construindo uma cultura a favor da democracia e da paz que nos leve à almejada sustentabilidade política, econômica, social e ambiental. 

Nesse contexto, o enfrentamento do aquecimento global e seus impactos na própria humanidade deve ser o centro das preocupações das organizações governamentais e não governamentais, a nível nacional e mundial. 

Portanto, os questionamentos, desafios e possibilidades de mudanças no caminho de uma sociedade sustentável baseada em uma economia de baixo carbono estão colocados para a sociedade brasileira e toda a humanidade. Há espaço para a construção de novas relações políticas, econômicas e sociais no Brasil e no mundo preservando o ser humano nas suas relações entre si e com a própria natureza.

Assim, as condições estão dadas para a transição almejada, com cenários plausíveis a serem escolhidos, como acontece nos momentos cruciais da história da Humanidade.

Seremos capazes?  

*Professor Doutor, da Oficina da Cátedra da UNESCO em Sustentabilidade da UFBA e do Conselho do Instituto Politécnico da Bahia

 

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