sábado, 14 de agosto de 2021

Vera Magalhães - Inquéritos 'moderadores' do STF vão até as eleições

O Globo

Não devem ser encerrados antes das eleições os inquéritos 4.781 e 4.874, do Supremo Tribunal Federal, ambos sob a relatoria de Alexandre de Moraes. O primeiro foi aberto em 2019 e ficou conhecido como inquérito das fake news. Teve sua constitucionalidade atestada pelo plenário do STF em junho do ano passado.

O segundo foi instaurado pelo próprio Alexandre de Moraes em julho, a partir do inquérito dos atos antidemocráticos, que foi arquivado. Ele apura a existência de uma organização criminosa digital que atua com vários núcleos para atacar a democracia. Foi nesse segundo inquérito que se deu a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson nesta sexta-feira.

Os dois inquéritos são "siameses", complementares. Há coincidência de personagens e de métodos apurados, e o segundo foi aberto para "driblar" a recomendação do procurador-geral da República, Augusto Aras, pelo arquivamento da investigação sobre os atos antidemocráticos promovidos por bolsonaristas em 2020.

Ministros com os quais conversei nesta sexta-feira, depois da prisão de Jefferson, atestaram: os inquéritos funcionarão como a forma de o STF defender a si e às demais instituições dos ataques do presidente e de seus apoiadores. Num momento em que bolsonaristas começam a evocar um inexistente poder "moderador" das Forças Armadas em caso de choque entre os Poderes, os ministros do STF dizem que são os inquéritos que têm o condão de moderar o golpismo crescente no seio do bolsonarismo.

Diferentemente de outras épocas, em que temas como esse costumavam dividir o Supremo, a decisão de Moraes de acatar o pedido da Polícia Federal para a prisão preventiva de Jefferson foi amplamente apoiado internamente. 

Como Jefferson não tem mandato, Moraes nem consultou Fux antes. Também não pretende tomar a iniciativa de submeter sua decisão ao plenário, como fez com Daniel Silveira. Essa tem sido a praxe apenas para detentores de mandato. Isso só deverá ocorrer se houver recurso da defesa e Moraes acatar.

O primeiro inquérito, de 2019, foi prorrogado já várias vezes, e cabe ao relator pedir mais prazo para as investigações.

Moraes também não pretende concluir nada que dependa da decisão de Aras, que tem sido refratário a acatar pedidos de prisão e outras providências contra aliados do presidente.

Os ministros viram nas declarações de Jefferson depois da prisão, mencionando o nome da mulher de Alexandre de Moraes e chamando o ministro para um "duelo" ameaças, que agravam sua condição e reforçam a necessidade de prisão preventiva.

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