O Globo
Marcelo Queiroga roubou a cena na comitiva
que acompanhou Jair Bolsonaro na ONU. O ministro da Saúde perdeu a compostura
diante de um protesto e fez gestos obscenos para os manifestantes. Depois foi
diagnosticado com Covid-19 e teve que adiar a volta ao Brasil. Cumprirá a
quarentena num hotel cinco estrelas de Nova York.
Apesar da concorrência desleal, outro ministro também conseguiu se destacar negativamente na viagem. Na mesma van em que Queiroga exibiu o dedo médio, o chanceler Carlos França fez o sinal de arminha na direção de brasileiros que criticavam o governo. A atitude causou desalento entre diplomatas que se mantêm críticos à extrema direita no poder.
França assumiu o Ministério das Relações
Exteriores em abril, depois da desastrosa gestão de Ernesto Araújo. Por não ser
um olavista fanático, já parecia melhor que o antecessor. Seu discurso de
posse, em tom sóbrio e sem delírios terraplanistas, chegou a ser interpretado
como um retorno da racionalidade ao Itamaraty. Talvez tenha sido excesso de
otimismo.
Em menos de seis meses, o chanceler já
dissipou boa parte da sensação de alívio. Ele começou abrindo o gabinete para
parlamentares que flertam com o radicalismo de Ernesto. Depois participou das
manifestações golpistas do 7 de Setembro. Chegou a viajar a São Paulo para
subir no palanque em que Bolsonaro insultou dois ministros do Supremo Tribunal
Federal.
O gesto de arminha às vésperas da reunião
da ONU, uma organização criada para buscar a paz mundial, indica que o
chanceler rasgou a fantasia. Cansou de bancar o moderado ou percebeu que esse
figurino não o seguraria na cadeira. Nenhuma das hipóteses o ajuda a se
diferenciar do antecessor.
Um experiente embaixador considera que
França imitou a marca registrada de Bolsonaro para se integrar à turma e
mostrar lealdade ao chefe. Ele afirma que era ilusão imaginar um chanceler com
ideias próprias no governo do capitão. Mas lembra que os diplomatas que
exageram na sabujice costumam ser relegados ao ostracismo quando o poder muda
de mãos. “O França ainda deve se arrepender amargamente de ter feito esse
gesto”, prevê.
O presidente na sua missão nefasta de destruir contribui com sua biografia desmontando também a boa diplomacia outrora apresentada pelo Brasil. Que vergonha.
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