O Globo
A Lava-Jato, desmontada pelo procurador
Augusto Aras a pretexto de aperfeiçoar o combate à corrupção, havia conseguido
algo inédito na história do país: que condenados devolvessem dinheiro roubado.
Para a Petrobras, a maior vítima do esquema
de corrupção montado no governo Lula, a Lava-Jato devolveu pouco mais de R$ 3
bilhões.
Houve outros esquemas de devolução bem
engenhosos. As concessionárias de rodovias no Paraná, Ecorodovias e RodoNorte,
devolveram R$ 220 milhões, a primeira, e R$ 350 milhões, a segunda, na forma de
subsídios (redução) nos pedágios.
Outros R$ 416,5 milhões, recolhidos de
ladrões diversos, foram entregues aos cofres da União. A 11ª Vara da Seção
Judiciária de Goiás recebeu R$ 59 milhões.
Não acabou ainda. Há nada menos que R$ 10
bilhões que estão sendo devolvidos em parcelas.
Ou será que acabou?
Na verdade, não foi apenas a extinção da Lava-Jato. Está em curso no país um amplo processo de extinção de qualquer forma de combate à corrupção praticada pelas grandes empresas e políticos, um desmonte, como chamou o colega Merval Pereira.
Isso começou no STF, com o julgamento que
considerou o juiz Sergio Moro parcial no caso envolvendo o triplex do Guarujá —
apartamento que a OAS daria ao ex-presidente Lula, reformado ao gosto da
família.
Na ocasião, o ministro Gilmar Mendes, um
dos condutores do desmonte, disse que a decisão só valia para aquele caso.
Nada. Não só o próprio Gilmar, como o STF e
juízes diversos começaram a anular e arquivar processos com base naquela
decisão do STF.
Não deixa de ser curioso que a base das
acusações contra Moro e os procuradores da Lava-Jato sejam as mensagens
roubadas dos celulares daqueles procuradores. Dizem que a Lava-Jato usou provas
ilegalmente obtidas. E usam conversas ilegalmente obtidas para zerar a
Lava-Jato.
Reparem: o desmonte não é para declarar
todo mundo inocente, mas para sumir com os processos — arquivando, mudando de
foro e mandando começar tudo de novo, deixando prescrever, e por aí vai.
É exemplar o caso mais recente envolvendo o
ex-deputado Eduardo Cunha, condenado em duas instâncias a 14 anos de prisão. Há
pouco, a Segunda Turma do STF anulou a ação penal, em julgamento que terminou
empatado em dois a dois. Empate favorece o réu; logo, Cunha se livrou dessa.
Reparem a manobra, conforme explica o
procurador Deltan Dallagnol, que foi o procurador-chefe da Lava-Jato: em 2016,
o próprio STF recebeu acusação contra Cunha pelos crimes de corrupção passiva,
lavagem de dinheiro, evasão de divisas e caixa dois, pelo recebimento de US$
1,5 milhão na compra de um bloco de exploração de petróleo no Benin, na África,
pela Petrobras.
Cunha foi cassado, perdeu o foro, e o STF
mandou o caso para Curitiba. Cinco anos depois, o STF, por dois votos da
Segunda Turma (Gilmar e Lewandowski), diz que a competência não era de
Curitiba. E o envia para a Justiça Eleitoral.
Em 2019, o STF havia decidido que casos de
corrupção com o dinheiro indo para campanhas deveriam ser julgados na Justiça
Eleitoral. Mas a condenação de Cunha havia ocorrido muito antes disso.
Como nota Dallagnol, “a aplicação do
entendimento pró-passado é catastrófica: anulou os casos Pasadena, Mensalão
Mineiro, Calvário e Integração. Agora, o caso Cunha. E pode anular todos os
outros casos de políticos da Lava-Jato”.
A gente fica até com pena do Sérgio Cabral,
o único dos grandes que ainda continua em cana.
Mas eis o ponto principal: e os quase R$ 15
bilhões que foram e estão sendo devolvidos pelos que haviam sido condenados?
Nas próximas semanas, deve ser anulado o
último processo que ainda corre contra Lula. Não foi declarado inocente,
simplesmente cancelaram os processos.
Só falta agora os ex-condenados pedirem de
volta seu dinheiro. E só falta Lula pedir as escrituras do triplex e do sítio
de Atibaia.
Excelente matéria divulgada hoje, dia 18/09/2021, no Jornal O Globo, na coluna de Carlos Alberto Sardenberg. Políticos e grandes empresários brasileiros condenados, na Lava Jato, estão sendo beneficiados, com anulações de sentenças penais condenatória. E, mais, extinções de processos desses criminosos que usurpam o erário público. Tudo com a condescendência do guardião da Constituição da República Federativa do Brasil: STF. " Para a Petrobrás, a maior vítima do esquema de corrupção montado no governo Lula, a Lava Jato devolveu pouco mais de R$ 3 bilhões." " Só falta, agora, os ex-condenados pedirem de volta "seu dinheiro." Só falta Lula pedir as escrituras do triple e do sítio de Atibaia." Excelente matéria.
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