segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Carlos Melo* - Manifestações ficam aquém do potencial

O Estado de S. Paulo

A manifestação marca o descontentamento de boa parte da população, mas ficou aquém do potencial do antibolsonarismo. Sem ser gigante, não se configurou num marco na direção do impeachment. Vetos múltiplos, e a incompreensão de que se luta uma luta por vez, normalmente, somam zero.

A ausência de lideranças capazes de fechar feridas comprometeu o potencial do protesto e gerou desconfortos com o resultado. O grito retumbante do antibolsonarismo, hoje maior força política do País, ainda não foi dado.

Fragmentado em interesses eleitorais e por tais ressentimentos, o antibolsonarismo perde oportunidade de exercer pressão sobre o Congresso Nacional e sinalizar para as Forças Armadas. Ao dividir-se em manifestações dispersas, fica menor. A oposição passa a se resumir em esperar a próxima manifestação.

O processo de impeachment – do qual brasileiros são especialistas – é gradativo, mas requer saltos. Sempre carecerá do estrondoso rugido das ruas. Não foi desta vez; Bolsonaro se acalma e o Centrão sorri.

Se é certo crer que um golpe no Brasil não teria dia seguinte, é conveniente considerar que desatinos não se prendem a cálculos racionais. No Brasil, a esperança ainda é equilibrista e sabe que a democracia anda “na corda bamba de sombrinha”.

*Cientista político e professor do Insper

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