segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Irapuã Santana - Dois protestos, um país

O Globo

Como se já não tivesse muita coisa com que lidar no seu dia a dia, o brasileiro se vê no meio de um turbilhão político.

No dia 7 de setembro, muita gente saiu às ruas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e às suas pautas contra o STF e a esquerda.

De outro lado, foi organizada uma manifestação pedindo o impeachment do nosso chefe de Estado. Mano Ferreira, diretor de comunicação da associação Livres, afirma que Bolsonaro gabaritou a lei de crime de responsabilidade e que precisa sair do cargo para o bem do país.

É preciso deixar claro, neste primeiro momento, que os fundamentos sobre os quais foram construídos os dois movimentos estão cobertos pela liberdade de expressão. O próprio STF já se posicionou a esse respeito, quando do julgamento da Marcha da Maconha.

Ainda que eu não concorde com as pautas defendidas no 7 de Setembro, não posso criminalizar as manifestações populares ocorridas. Isso quer dizer que todo mundo pode dizer o que bem entender? Não sem consequências. O presidente Bolsonaro cometeu, pelo menos, mais dois crimes de responsabilidade: (i) a violação ao livre exercício do Poder Judiciário; e (ii) o descumprimento de decisões judiciais.

Como falei na minha primeira coluna aqui, para cargos de autoridades, a liberdade de expressão é limitada por sua própria natureza.

Mas, como John Stuart Mill dizia, os problemas gerados pela liberdade apenas são resolvidos com a presença de mais liberdade ainda. Então não é cerceando o direito de manifestação alheio que solucionaremos o problema do apoio ao presidente, mas sim ampliando o debate.

Nesse sentido, a pauta da organização da oposição se mostra eficaz. A população pobre está sofrendo demais com a inflação altíssima, principalmente sobre os preços dos alimentos da cesta básica, levando as pessoas a pedir osso e gordura no açougue para não morrer de fome. A crise hídrica já bate às nossas portas. Sem falar na forma como o governo federal se omitiu durante a pandemia.

Ao contrário de 2013, quando não era apenas por causa dos R$ 0,20, mas contra tudo que estava aí. A oposição quer um impeachment em 2021, e a maioria das pessoas quer, para 2022, uma alternativa fora dos extremos e da polarização, a fim de que haja um governo sério e equilibrado, que tenha compromisso com seu povo.

Infelizmente, não sabemos exatamente o que essas movimentações relevantes no cenário nacional poderão produzir nos próximos meses. Mas precisamos de união para fazer o país voltar a caminhar, de projetos concretos, democráticos e dentro dos parâmetros constitucionais.

O grande desafio é ver como construir pontes dentro de um quadro aparentemente irreconciliável, em que os incentivos da lógica das redes tendem a gerar mais extremismo e menos empatia com as diversas realidades alheias.

Apesar de a foto parecer ruim, chego a ter uma visão otimista do nosso futuro. Já fomos capazes de superar crises muito maiores, e tenho o desejo e a certeza de que passaremos neste teste institucional de nossa democracia também.

 

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