quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Mariliz Pereira Jorge - Por que Bolsonaro quer se reeleger?

Folha de S. Paulo

Para não ser preso, porque sabe que ultrapassou as quatro linhas da Constituição

Para não ser preso. Ele sabe que já ultrapassou as quatro linhas da Constituição, apenas não tinha deixado claro que está ciente das possíveis consequências, ainda que as negue. Num encontro com líderes evangélicos, no último sábado (28), disse o seguinte: "Eu tenho três alternativas para meu futuro: estar preso, estar morto ou a vitória. Pode ter certeza que a primeira não existe".

Na atual conjuntura, não existe mesmo. Blindado pelas leis, pelo cargo, pela Procuradoria-Geral da República e por Arthur Lira, só resta a ele continuar escondido atrás da faixa presidencial para diminuir as chances de responder por seus crimes e de não poder mais usar a máquina do governo para proteger seus filhos, que talvez já estivessem em cana.

Jair Bolsonaro não governa desde que assumiu a Presidência. No começo por pura incompetência, mas há meses desistiu de fazer de conta que tem algum compromisso com o país. O mais incrível é o centrão financiar um governo vergonhoso e usar o país inteiro como fiança, enquanto a agenda de Jair se resume a passeios de moto, inaugurações e encontros com governistas. Os focos são a campanha para 2022 e a construção de sua imagem do mito perseguido.

Ao falar sobre as alternativas, Bolsonaro apenas manipula o inconsciente da militância. A tecla da "vitória" é o mantra golpista usado para que sua reeleição seja o único resultado de uma "eleição limpa". Sempre que apela para a morte, ele ressuscita o fantasma de Adélio e alimenta a figura de herói, já venerada na Bolsolândia.

A novidade é falar sobre ser "preso" e se antecipar perante seus seguidores a possíveis desdobramentos dos inquéritos nos quais é investigado no STF e no TSE. Há uma lista de crimes pelos quais Bolsonaro já poderia ter sido removido do cargo, mas naturalizou-se a presença de um criminoso na Presidência. E ele fará tudo para ser reeleito se não der um golpe antes.

 

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