quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Bruno Boghossian - Um ministro pendurado

Folha de S. Paulo

Tribunal tem cadeira vazia porque presidente criou aliança defeituosa e pratica vandalismo institucional

Pendurada há 92 dias, a indicação de André Mendonça ao STF é um produto acabado da anomalia política que Jair Bolsonaro instalou no país. O tribunal tem uma cadeira vazia porque o presidente escolheu governar para falanges ideológicas, contratou a proteção de uma coalizão de aluguel e recorreu ao vandalismo institucional para exercer o poder.

O nome de Mendonça ficou travado porque só interessa a um dos lados da aliança disfuncional que mantém Bolsonaro no cargo. O presidente nunca escondeu que a indicação do ministro era o pagamento de uma dívida com líderes evangélicos.

O problema de Bolsonaro é que ele precisa de Silas Malafaia, que endossa manobras golpistas da porta do Planalto para fora, mas também depende de Ciro Nogueira, que protege o governo com base no que é dito a portas fechadas. O centrão conhece o tamanho de seu poder e tenta forçar a troca do nome escolhido.

Bolsonaro experimenta os efeitos dos acordos mal-ajambrados que costurou para sobreviver enquanto exerce sua vocação autoritária. Quem bloqueia a indicação de Mendonça é Davi Alcolumbre, um senador que foi patrocinado pelo governo com verbas oficiais nos últimos anos e agora é comparado pelo presidente a um torturador.

As motivações podem ser nobres ou indecorosas, mas o fato é que Alcolumbre impede que Bolsonaro mande um aliado para a corte que ele tenta destruir. Apesar de ter falsificado uma trégua, o presidente passou o ano em confronto aberto com o STF, espalhou mentiras sobre decisões do tribunal e liderou o protesto golpista que tinha o objetivo de forçar a derrubada de ministros.

Ao longo do processo, Bolsonaro fez com que Mendonça se comprometesse a abrir as sessões do tribunal com uma oração, disse que o novo ministro almoçaria com ele no Planalto uma vez por semana e deu a entender que havia combinado votos "contra as pautas progressistas". O próprio presidente conduz essa escolha com a mesma esculhambação com que trata o STF.

 

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