quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Cristiano Romero - A economia em Eduardo Leite

Valor Econômico

Aod Cunha, assessor de Leite, consultou dezenas de economistas

O momento do país é tão desafiador que, antes de aceitar o convite de Eduardo Leite (PSDB) para cuidar do programa econômico de sua pré-candidatura à Presidência, o economista Aod Cunha disse ao governador do Rio Grande do Sul que precisava de um tempo não para pensar na oferta, mas, sim, nesta confusão a que chamamos de Brasil. Tempo neste caso é freio de arrumação para organizar ideias, refletir sobre novos desafios, acertar um texto-base com o governador e partir para o debate, necessário e raro neste canto do hemisfério Sul, o 7º mais povoado do planeta.

Aod propôs algo inédito ao pré-candidato - ideias todos temos, especialmente, no reino dos economistas, profissionais treinados para encontrar solução para qualquer problema, o que significa, muitas vezes, ignorar seus efeitos negativos para milhares, talvez milhões, de chefes de família. O titular desta coluna pede licença, então, para contar duas histórias - uma engraçada, outra, trágica - sobre economistas.

Num evento da campanha presidencial de Lula (PT) em 2002, o então candidato ao Senado Aloízio Mercadante foi escalado para falar à plateia antes do saudoso escritor Ariano Suassuna. Economista de oratória entusiasmada, do tipo cujo discurso apresenta o problema acompanhado da solução - insofismável, a seu ver -, Mercadante fez grande apanhado sobre as mazelas do país, deixando Ariano impressionado a cada raciocínio concluído.

Chegada a sua vez de falar, o autor de o “Auto da Compadecida” iniciou sua fala da seguinte maneira: “Rapaz, falar depois de Aloízio Mercadante não é fácil não. Pense num cabra sabido...”. No Nordeste, o sinônimo de “sabido” é esperto. Sem desmerecer da cultura de Mercadante, o que Ariano quis dizer ao nobre correligionário foi: “Menos, Mercadante, menos. Ninguém sabe tudo, logo, muito menos a resolução de todos os males”. A plateia veio abaixo.

Em meados de 2011, a inflação, que já vinha pressionada do ano anterior, ameaçava disparar e o então presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, confessou a este repórter que, para aquietar o IPCA, de modo a colocá-lo no rumo da meta - na ocasião, esta era 4,5% e o índice oficial acumulava em 12 meses variação de 6,5%, o Comitê de Política Monetária (Copom) teria que elevar a taxa desemprego em dois pontos percentuais. Na ocasião, isto significava subir os juros de tal maneira que as empresas demitissem dois milhões de pessoas.

Tombini não dissera nada de sobrenatural ou malvado. A receita está nos manuais de economia. O problema é que a maldade no Brasil é grande, principalmente naquela época, porque, como mais da metade do crédito da economia era subsidiada, isto é, era tomada pelo Tesouro a custo de mercado e emprestada a grandes empresas abaixo desse custo, o BC era obrigado a arrochar os juros para cima de quem não recebia dinheiro subsidiado - as pequenas e médias empresas, os informais e os pais de família - e, assim, obter o mesmo efeito.

A história conta que, no fim de agosto de 2011, Tombini foi chamado ao Palácio do Planalto. Lá, a então presidente Dilma Rousseff mandou seu subordinado abaixar, em vez de aumentar os juros. Dilma cortou o plano “malévolo” do Banco Central. Só que não.

Contrariando seus pares, Aod Cunha e Eduardo Leite estiveram com os principais formuladores de política econômica do país nos últimos 30 anos _ Pérsio Arida, Armínio Fraga, Marcos Mendes, Joaquim Levy, Ana Carla Abrão, Elena Landau, Edmar Bacha, Vinícius Carrasco, Renato Paes de Barros, Vinícius Botelho, entre outros. A maioria dos encontros foi presencial.

As conversas não se limitaram a economistas. Eles estiveram com organizações sociais, empresários, gestores de recursos. "Qual é a ideia? Precisamos ter uma visão inicial nossa e fechar com o candidato, como ele enxerga o país. Para ele ter conforto, queremos 'validar' essa visão macro. Não pedimos engajamento de ninguém, apenas procuramos ouvir pessoas que respeitamos.

“O Brasil é um país que, nos últimos 40 anos, cresce menos que o mundo. Mesmo no boom de 2000-2009, a nossa média de crescimento é um pouco mais baixa que a média global e muito mais baixa que é a média dos emergentes”, observa Aod (ver gráfico). “Particularmente, na última década, mesmo tirando 2020 (por causa da pandemia), o país cresce muito menos que o mundo e os emergentes.”

Paramos de crescer antes do auge do bônus demográfico, isto é, quando havia mais pessoas trabalhando do que aposentadas. “Do fim da dácada de 1990 até 2019, o crescimento médio anual próximo de 2%. Se a gente quebra esse crescimento de 2% entre aumento da força de trabalho, que é a forma de olhar o papel da demografia, e de produtividade, temos 1,5% de avanço da força de trabalho e 0,5% da Produtividade Total dos Fatores (PTF). A produtividade do trabalhador está estagnada. Nesta década, estamos caindo de 1,5% para 0,5%; na próxima, zero. Crescimento de longo prazo virá só da produtividade”, explica o economista, que foi secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul.

Leite disputará, no domingo, a prévia do PSDB para decidir quem será o candidato tucano em 2022. É provável que ele perca a contenda para João Doria, governador de São Paulo. Espera-se que as ideias debatidas com tanto afinco neste período sejam aproveitadas não só pelo PSDB, mas por todos aqueles que entrarem na disputa presidencial.

 

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