quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Mariliz Pereira Jorge - Bolsonaro e o sexo matinal

Folha de S. Paulo

Deu uma aula sobre como qualquer pessoa jamais deveria se comportar

Jair Bolsonaro é o típico conservador que diz preferir um filho morto a um gay, fala em nome da família "tradicional", repudia a educação sexual nas escolas, mas usa um evento oficial do governo para insinuar que transou com sua mulher horas antes. Só faltou dar uma ajeitada nas partes íntimas para coroar o momento constrangedor.

Longe de mim ser pudica. Escrevi durante mais de dez anos sobre sexo em revistas masculinas. Levava àquele público a visão feminina, a minha, sobre a temática na tentativa de diminuir o abismo que há entre homens e mulheres em tópicos como desejo, frequência, filme pornô, consentimento e tudo o mais que deve ser discutido. Ou seja, tudo.

Minha vida sexual é também tema de crônicas nesta Folha, o que em geral deixa os bolsonaristas bastante eufóricos. Para eles é um horror que uma mulher fale ou escreva sobre sua sexualidade, que divida intimidades, ainda mais sendo "velha", como eu. Mesmo que eu jamais tenha exposto quem quer que seja por razões que eu imaginava óbvias.

Sexo, como pudemos perceber na fala do presidente e nas risadas da plateia, é um lugar confortável para homens, que alimentam publicamente o estereótipo do machão comedor, mesmo que seja à custa da própria mulher. No caso de Bolsonaro soa ainda pior, porque ele está longe de ser um sujeito que trata o assunto com naturalidade.

A impressão é que ele usou o palanque e a primeira-dama para responder provocações de quem o chama de corno e amplifica rumores de que "não dá no couro". Discussões machistas e sem relevância entre tudo o que há para se criticar neste governo, mas que ganham voz por meio de gente dita progressista.

Sobre Bolsonaro e o sexo matinal, para quem é tão preocupado com o que as crianças podem ou não aprender na escola sobre o tema, o presidente deu uma aula sobre como qualquer pessoa jamais deveria se comportar.

 

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