sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Ruth de Aquino - Moro e os 3 passos para falar grosso

O Globo

A voz do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro é de taquara rachada. Já foi bem pior. Isso o deixa nervoso e suando na hora de discursar, porque uma palavra em falsete sai do tom no meio da frase. Taquara é uma planta da família dos bambus. A maioria tem caules ocos. Quando a taquara está verde e se quebra, o som é desagradável, estridente. 

Não sei se Moro tem cabeça oca e se está verde ou maduro para uma campanha presidencial, mas todos sabemos que o governo Bolsonaro está pra lá de podre. Moro é quem mais racha a direita. Não é o preferido da extrema-direita histérica e desarvorada (desculpe o pleonasmo). É o candidato dos bolsonaristas arrependidos, que preferem voz fina a baixo calão. 

 “Moro tira parcela importante dos votos de Bolsonaro e ameaça o segundo turno de Bolsonaro”, me disse o sociólogo Sérgio Abranches. “A última pesquisa Quaest pergunta se Bolsonaro merece mais quatro anos de mandato. E 40% dos que votaram nele em 2018 dizem que não merece. O eleitorado volante e conservador, preocupado com a desordem brasileira e frustrado com a corrupção, e que acreditou naquele sujeito vindo do nada, um deputado medíocre que empolgava como durão, esse eleitor abandonou o Bolsonaro. E é o eleitor do Moro”.

O ex-juiz precisa intensificar as aulas de fonoaudiologia se quiser ser o Ciro da direita e fulminar o arquirrival Bolsonaro, que ele mesmo ajudou a eleger em 2018, rasgando a toga. Moro não tem mais como recorrer às setinhas do Power-Deltan-Point ou a telefonemas vazados, agora é só sua voz mesmo e as pausas para o sorrisinho e a claque. Ele reconhece que esganiça na hora h. Ainda sai “coupção” em vez de “corrupção”. 

 

Abranches acha que Moro surpreendeu por estar bem treinado. No período fora dos holofotes, aprendeu a ler no teleprompter, a falar de um jeito mais palatável para o eleitor comum, sem juridiquês. Não tem carisma, não empolga. “Mas, se eu fosse marqueteiro hoje, diria que o Brasil está querendo menos um cara espetacular e mais um técnico frio. Só que tem o Lula, numa trajetória aparentemente incontestável. E o Moro não tira voto do Lula. Não pode. Seria o algoz contra a vítima”. 

Claro que o ex-juiz da Lava-Jato deve ter contratado um “coach vocal”. Na filiação ao Podemos, Moro controlou melhor as derrapagens sonoras. Pediu que não prestemos atenção em sua voz, mas em suas palavras. Prometeu ouvir o Brasil. Se possível, senhor juiz, sem nos grampear ilegalmente, sem vazar nossas ligações. Porque a rejeição a seu nome só é menor que a de Bolsonaro, que reagiu ao discurso: “Tinham (sic) dois teleprompter lá. O cara leu. Não aprendeu nada, não sabe o que é ser presidente nem ministro”. Até que enfim temos uma direita dividida. 

Há youtubers cantores que ensinam a ter voz mais afinada. Um deles, Beto Sorolli, aconselha prestar atenção em três passos. A inspiração e expiração, com costelas abertas e umbigo pra dentro. O fechamento das pregas (vocais), esticando ou contraindo, mas com consciência, escolhendo a hora. E finalmente os espaços onde a voz se projeta (ressonância) para expandir a consciência. Não dá para ficar oscilando sem critério ou controle, diz Sorolli. 

Não é que a fonoaudiologia tem tudo a ver com a política? Então, Moro, para atiçar ainda mais a ira da família rachadinha e tirar Bolsonaro do segundo turno em 2022, não esqueça: umbigo pra dentro, pregas no lugar e expansão da consciência. Para falar grosso contra os fascistas. Morô?

 

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