quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Ruy Castro - Ele sabe quando e para quem mentir

Folha de S. Paulo

Bolsonaro nega que esteja incendiando a floresta. Na verdade, só a sua cara de pau não pega fogo

O show se repete. Em Dubai, nesta segunda-feira (15), Jair Bolsonaro declarou, num evento para empresários e investidores, que são injustas as acusações de que seu governo está desmatando, queimando e destruindo a Amazônia. A floresta é úmida e não pega fogo, ele disse, e mais de 90% dela continuam intactas. As plateias de fora já não têm paciência para com Bolsonaro, mas ele continua achando que pode mentir à vontade. Sua cara de pau, sim, não pega fogo.

Entre nós, ainda há quem acredite que Bolsonaro mente por compulsão e já não sabe o que é mentira ou não. Não caia nessa. Ele não apenas sabe como sabe bem para quem e quando mentir. Ao mentir para os microfones internacionais, apenas finge se esquecer de que a maioria dos países tem gente séria no Brasil trocando informações, dados e projeções e mandando seus relatórios para a matriz.

Bolsonaro sabe que seus ouvintes em Dubai só botarão dinheiro em países confiáveis. Foram ali para fazer negócios, não turismo, e não têm tempo a perder com um palhaço. Eles sentem o cheiro de queimado e o cheiro de Bolsonaro, e isso é mais do que suficiente para fazê-los retirar seus investimentos e manter distância do Brasil.

Bolsonaro sabe também que eles não acreditam numa palavra dele, mas isso não o altera. Mesmo em Dubai, ele fala para os papalvos que, despejando copiosa baba, vão ouvi-lo nos cercadinhos e para os news-fakers que multiplicarão seus despautérios pelas redes sociais. O mundo é só um palanque para o político de baixo clero que ele nunca deixou de ser e cujo único objetivo é se sustentar no cargo, mesmo que para isso quebre o país.

Bolsonaro deve acreditar que os 58 milhões que o elegeram continuam-lhe cativos, sem perda de um voto. Ou então acha que não precisa mais deles porque, ganhando ou perdendo em 2022, se garante com os fardados, do guarda da esquina aos generais, que continua a pôr literalmente no bolso.

 

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