sábado, 18 de dezembro de 2021

Alvaro Costa e Silva: O engenheiro da autodestruição

Folha de S. Paulo

Para compensar o desprestígio entre os evangélicos, reajuste aos policiais vai custar R$ 2,8 bilhões

Espero que os médicos estejam dando a atenção devida à apneia do sono presidencial. Os últimos dias foram de provocar insônia em qualquer homem saudável e equilibrado, quanto mais em Bolsonaro.

Segundo o Datafolha, Lula lidera a corrida com 48% da preferência eleitoralal; se hoje fosse outubro de 2022, ele ganharia no primeiro turno. No Brasil da pobreza e da fome, 53% avaliam o governo como ruim ou péssimo. O presidente ainda sofreu um golpe inesperado: entre os evangélicos, pesquisas apontam um empate técnico entre Lula e Bolsonaro, sinal da transferência de votos do segundo para o primeiro. O engenheiro da destruição —do país, da democracia, dos sistemas jurídico e policial, da saúde da população— está se autodestruindo.

A blindagem na Procuradoria-Geral da República já não funciona tão bem: o ministro Alexandre de Moraes, do STF, manteve a instauração de inquérito contra o presidente pela falsa associação entre a vacina da Covid e o risco de contrair o vírus da Aids. O argumento criminoso foi dito em alto e bom som, está nas redes, nem precisava de investigação para ser comprovado. Agora Herodes, digo, Bolsonaro age para impedir a imunização de crianças de 5 a 11 anos.

Com provável interferência do Planalto, a operação da Polícia Federal, que cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência, pode ter sido um tiro no pé. Ação lavajatista de quem atuou para destruir a Lava Jato, o lawfare contra Ciro abre a possibilidade de formar-se a sonhada frente nacional. No mesmo dia, sintomaticamente, Geraldo Alckmin deixou o PSDB e se prepara para reforçar a chapa de Lula.

Com 60% de rejeição, resta a Bolsonaro inflamar o tom golpista e acelerar a gastança. Para compensar o desprestígio entre os evangélicos, o reajuste aos policiais vai custar R$ 2,8 bilhões. Se o Brasil inteiro vestisse farda, a reeleição estaria no papo.

 

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