quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Bruno Boghossian: Aras vai com Bolsonaro até o fim

Folha de S. Paulo

Em 2022, país terá procurador-geral que dá conforto ao presidente para praticar desmandos

Assim que Augusto Aras tomou posse, Jair Bolsonaro definiu a relação entre os dois como "um amor à primeira vista". O procurador-geral fez questão de retribuir a declaração: prometeu uma atuação alinhada à "cultura judaico-cristã", brindou o presidente com tolerância máxima e chegou a chamar de "festa cívica" os atos golpistas de 7 de setembro.

A tabelinha continua firme. Na segunda (13), Aras pediu que o STF cancele um inquérito contra Bolsonaro pela falsa associação feita por ele entre vacinas contra a Covid e o HIV. O procurador já havia tentado barrar o caso em novembro, elencando 14 motivos para não investigar o presidente. Agora, ele diz que o inquérito não é necessário porque já existe uma ação na corte sobre o caso.

Aras poupa Bolsonaro da incômoda obrigação de responder pelos próprios atos. Para não levar o presidente ao Supremo, ele multiplicou o número de apurações conduzidas dentro da PGR, a pretexto de evitar a sobrecarga do tribunal. Ministros já apontaram "inércia" do procurador-geral e afirmaram que ele age como "espectador" em situações envolvendo o governo.

A generosidade se estende a aliados do presidente. Em junho de 2020, a PGR acusou Arthur Lira de ter recebido R$ 1,6 milhão de uma empreiteira. Tempos depois, quando o deputado se tornou o candidato de Bolsonaro à presidência da Câmara, a subprocuradora-geral Lindôra Araújo recuou, disse que as provas eram frágeis e pediu o fim do processo.

A PGR sabe ser ágil quando há outros interesses em jogo. Dois dias depois que Renan Calheiros apresentou o relatório da CPI da Covid, Lindôra tentou desengavetar um inquérito de corrupção contra o senador. Braço direito de Aras, ela havia pedido o arquivamento do caso meses antes, mas mudou de ideia.

Mesmo preterido na corrida por uma vaga no Supremo, Aras indica que vai com Bolsonaro até o fim. No ano eleitoral, o país terá um procurador-geral que é duro com adversários, mas dá conforto ao presidente para praticar seus desmandos.

 

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