sábado, 25 de dezembro de 2021

O que pensa a mídia: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Um convite ao diálogo

O Estado de S. Paulo.

Em um passado não muito distante, a sociedade já mostrou que é capaz de se unir quando precisa

Em um passado não muito distante, a sociedade já mostrou que é capaz de se unir quando precisa.

Em algum ponto da história recente do País, a sociedade renunciou ao diálogo e passou a tratar o debate político como uma guerra de eliminação do “outro”, vale dizer, de qualquer um que não comungue dos mesmos valores, visões de mundo ou ideias para o futuro do Brasil. Há não muito tempo, o diálogo entre atores tidos como irreconciliáveis foi determinante para dar fim a crises tão severas que pareciam insolúveis. Desafortunadamente, isso parece ter se perdido.

A Constituição de 1988 é o exemplo maior de que a concertação civilizada em torno da miríade de interesses em jogo em uma sociedade complexa como a brasileira é possível. O País mal havia saído de uma ditadura que durou longos 21 anos. Decerto, havia forças muito poderosas que se recusavam a enxergar o alvorecer das liberdades. Contudo, ao final daquela Assembleia Constituinte, pode-se dizer que quase todas as forças políticas representadas no Congresso saíram com a percepção de que seus interesses, de alguma forma, foram contemplados pela Lei Maior. Em que pesem os problemas que remanescem no texto constitucional, em boa medida causados pelo afã dos constituintes em privilegiar direitos sobre deveres, o País deu um salto civilizatório com a promulgação da chamada “Constituição Cidadã”, filha legítima do diálogo entre os cidadãos e seus representantes.

O diálogo franco entre cidadãos, governo e o conjunto das forças representativas da sociedade – imprensa, igrejas, sindicatos, partidos políticos, universidades, etc. – também teve importância capital para debelar a hiperinflação que havia décadas transformava em pó a renda dos brasileiros do dia para a noite. Tratava-se, então, de uma crise longa e gravíssima. Pois é seguro afirmar que não haveria Plano Real caso forças antagônicas na arena política não pactuassem em torno de consensos mínimos, a começar pelo fato de reconhecerem a existência do problema da hiperinflação. Hoje, nem isso. Em nome da ideologia, diverge-se até do que é fato.

A capacidade de dialogar, ou seja, a compreensão de que aqueles que têm valores, visões de mundo e propostas para o País diferentes não são inimigos a serem eliminados, mas, antes, representantes de interesses legítimos de segmentos da sociedade que precisam ser ouvidos, é atributo fundamental da boa política.

Há quase uma década, o debate racional em torno de propostas para livrar o País de mazelas históricas, como a desigualdade e o baixo crescimento, está interditado por uma renhida peleja que nem sequer pode ser chamada de “disputa política”, pois se vê de tudo, menos a abertura ao diálogo da qual é pressuposto. Soluções legítimas e duradouras para os problemas nacionais – problemas estes que a política foi concebida justamente para resolver – só hão de surgir por meio do diálogo. Não há alternativa.

Urge, portanto, recuperar a capacidade da sociedade para dialogar sobre questões que afetam todos os cidadãos. O clima de guerra fratricida que se instalou no País, é preciso enfatizar, foi estimulado por lideranças políticas irresponsáveis que só triunfam em meio ao caos, em meio ao esgarçamento do tecido social, dividindo os brasileiros entre falanges. Não é uma condição inata da nacionalidade. A sociedade já demonstrou em outros momentos trevosos que é capaz de se unir quando precisa.

O ano que se avizinha será extremamente desafiador. A Nação assistirá a uma luta pelo poder como há muitos anos não via. A campanha eleitoral certamente será marcada não pelas mentiras que todo candidato conta, e sim por uma avalanche de desinformação destinada a embaralhar a noção de realidade e premiar os delinquentes políticos. Sendo assim, cada cidadão, no seio de sua família e no seu círculo de amizades, precisa criar barreiras para não se deixar influenciar por esses arautos da desunião. Em recente artigo no Estado, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, lembrou que “todas as esferas da vida só prosperam com diálogo civilizado e construtivo”. Com razão, Mourão exortou seus concidadãos a “superar a agenda do confronto, do ‘eu contra você’ e ‘nós contra eles’”.

Não se busca a concórdia absoluta, que só existe nos cemitérios, mas sim a recuperação do diálogo minimamente civilizado entre os cidadãos, o que já fará um bem enorme ao País.

De novo o golpe

O Estado de S. Paulo.

Como em todas as vezes em que se viu acuado, o governo volta a poluir a opinião pública com insinuações golpistas para mascarar sua incompetência

Em evento da Agência Brasileira de Inteligência, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, disse que tem de tomar “dois Lexotan na veia por dia” para não induzir o presidente Jair Bolsonaro a tomar uma atitude drástica contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Poucos dias depois, o senador Flávio Bolsonaro declarou à revista Veja que no 7 de Setembro Bolsonaro estava “saturado” com as decisões do Judiciário e que “todo mundo estava acreditando que o presidente iria causar uma ruptura institucional”. Na narrativa de Flávio, o pai, “em sua sabedoria”, resistiu e resiste a pressões golpistas “pelo bem do Brasil”.

Como que a desmenti-lo, apenas poucas horas antes Bolsonaro afirmou a uma plateia de empresários que, caso a decisão do STF a propósito do marco temporal de terras indígenas não esteja de acordo com a sua vontade, ele terá de “tomar uma decisão”.

É estupefaciente que, enquanto o País luta para vencer desafios graves, como a nova cepa do vírus, a inflação, o desemprego ou a aprovação do Orçamento, o próprio governo volte a fabricar tensões artificiais.

Exumar uma suposta conspirata engendrada por congressistas e ministros do STF para derrubar Bolsonaro, como fez Flávio Bolsonaro em sua entrevista, sugere uma tática desesperada. Pesquisas recentes mostram que as intenções de voto para Luiz Inácio Lula da Silva cresceram quase na mesma proporção da rejeição a Bolsonaro.

O confronto é o ar que Bolsonaro respira. Toda vez que se vê em uma situação adversa, incita suas tropas invocando ameaças ao “povo” que só poderiam ser respondidas com soluções autoritárias. O pretexto é o que estiver ao alcance da mão – pode ser a investigação de um blogueiro ou uma decisão sobre o marco temporal –, e quando não há nada, simplesmente saca do vácuo um factoide, como a fraude das urnas eletrônicas.

Não que haja risco iminente de ruptura. A esta altura já está claro que, se Bolsonaro não parte para as vias de fato, é muito menos por sua “sabedoria” do que por sua impotência.

Mas o constante “morde e assopra” desvia a atenção do País dos problemas reais e degrada a institucionalidade democrática. O verdadeiro risco é que a sociedade, enfastiada com as investidas antirrepublicanas do próprio governo, se habitue a contemporizá-las ou, pior, torne-se indiferente.

O presidente é o primeiro a promover essa confusão. Em setembro, apenas dois dias depois de dizer a seus apoiadores que não cumpriria mais decisões do ministro Alexandre de Moraes e que se o presidente do STF não enquadrasse o Poder Judiciário ele poderia “sofrer aquilo que nós não queremos”, Bolsonaro publicou sua Declaração à Nação alegando que nunca teve a “intenção de agredir quaisquer dos Poderes” e que suas palavras “decorrem do calor do momento”. Neste mês, o presidente quebrou a trégua e voltou a hostilizar o ministro.

Tanto pior quando a complacência é estimulada pelas próprias instituições democráticas. Haja vista a renitente negligência da Procuradoria-geral da República ou as esquivas do Congresso para responsabilizar o presidente por seus abusos. Repetidamente a sociedade é instada por alguma autoridade governista a fazer vista grossa ao jeito “espontâneo” do presidente, como quem condescende às pirraças de um menino mimado.

Este é um governo que se jacta de ser o guardião da lei e da ordem, mas que a todo momento insufla a subversão. Não que seja capaz de levá-la a cabo. Até para ser autoritário Jair Bolsonaro é incompetente. Mas, justamente para camuflar essa incompetência sob uma cortina de fumaça, ele dá azo, de quando em quando, aos seus pendores autoritários, fabricando crises artificiais.

A sociedade brasileira não teme seriamente um golpe. Já está claro que Bolsonaro não teria apoio para essa aventura. Mas, enquanto ele tiver em mãos o Poder Executivo, não é uma opção para os brasileiros deixá-lo falando sozinho. Já em 2022 a chance estará ao alcance de todos. Com o toque de um botão, os eleitores poderão livrar o País deste estorvo e, de quebra, abrir caminho para que ele acerte suas contas com a Justiça.

Mal avaliado

Folha de S. Paulo

Congresso resistiu a investida golpista, mas deu apoio interesseiro a Bolsonaro

O Datafolha apurou que apenas 10% dos brasileiros aprovam os trabalhos do Congresso Nacional. A avaliação é negativa (ruim/péssimo) para 41% e regular para 45%. É um julgamento severo, mas em linha com o de outras legislaturas.

Desde que esse tipo de pesquisa começou a ser feito, nos anos 1990, numa única ocasião, em 2003, as avaliações positivas superaram numericamente as negativas (24% a 22%), porém ainda assim dentro da margem de erro.

Eleitores tendem a ser duros com os parlamentares porque estes fazem parte de um órgão coletivo. Cada votante, afinal, elegeu no máximo 1 entre 513 deputados e 3 entre 81 senadores.

O atual Congresso, como os anteriores, coleciona uma combinação de acertos e erros —um copo meio cheio, meio vazio.

Do lado positivo, os parlamentares não se deixaram intimidar por Jair Bolsonaro, nos períodos em que o mandatário não poupou ataques aos demais Poderes e ao que chamava de velha política.

Os atuais congressistas evitaram, ademais, que propostas desvairadas, como o excludente de ilicitude para policiais e o Escola sem Partido, entre tantas outras, fossem convertidas em lei.

Outro ponto alto foi a aprovação da reforma da Previdência, ainda que o assunto já tenha chegado bem debatido pela legislatura anterior. Outras peças importantes avançaram, notadamente as novas regulações do saneamento básico e das ferrovias e a autonomia do Banco Central.

Cumpre destacar a CPI da Covid no Senado, que teve papel importante ao expor desmandos do Executivo, além de ajudar a combater o negacionismo na população.

Infelizmente, a lista de erros do atual Congresso não é muito menor. Não avançamos em reformas vitais, como a tributária e a administrativa. Os parlamentares, é verdade, não são os únicos culpados.

É preciso também criticar a Câmara dos Deputados, em particular seus presidentes, por nem ao menos iniciar as discussões sobre um eventual impeachment de Bolsonaro. De todo modo, eles só agiram desse modo porque a maioria da Casa não se insurgiu.

Por fim, e essa talvez seja a maior nódoa da atual legislatura, os partidos capitaneados pelo chamado centrão passaram nos últimos tempos a dar sustentação passiva e interesseira à gestão de Bolsonaro.

Fizeram-no por cargos e verbas, como ficou claro em votações recentes, como a da desastrada PEC do Calote, que resultou em dinheiro extra para as emendas parlamentares, e na derrubada do veto ao fundão eleitoral.

Atitudes como essas insuflam a má avaliação das duas Casas —e, pior, da atividade política.

Desde o Big Bang

Folha de S. Paulo

Mais poderoso telescópio no espaço testará teorias sobre a evolução do universo

Segundo o conhecimento acumulado pela astronomia nas últimas décadas, as primeiras estrelas relampejaram por volta de 100 milhões de anos depois do Big Bang, o evento que, 13,8 bilhões de anos atrás, deu origem ao cosmo.

Após consumirem todo o seu combustível, esses astros primevos extinguiram-se em explosões ciclópicas, semeando o universo com uma variedade de novos elementos químicos. Dessa centelha primordial emergiu uma longa e contínua cadeia evolutiva responsável por gerar tudo o que existe hoje —de galáxias a planetas, de micro-organismos até o ser humano.

Testar a acurácia de teorias como essa está entre as principais missões do telescópio James Webb, um projeto da Nasa e das agências espaciais do Canadá e da Europa que deve levantar voo neste sábado (25) ou nos próximos dias.

Tudo em torno do James Webb é grandioso. Construído ao longo de três décadas e ao custo de US$ 10 bilhões, o novo engenho foi concebido para ser o mais poderoso telescópio já lançado no espaço.

Seu espelho primário, formado por 18 hexágonos de berílio banhados em ouro, possui 6,5 metros de diâmetro —uma peça que, para caber no foguete Ariane 5, necessita ser dobrada tal qual um origami.

Na viagem até o seu destino espacial, um ponto a 1,5 milhão de km de distância da Terra, o James Webb executará uma meticulosa coreografia para desembrulhar, além de seu espelho, uma estrutura do tamanho de uma quadra de tênis cujo objetivo é protegê-lo do calor e manter seus instrumentos em temperaturas baixíssimas.

Depois de encontrar sua órbita, o sucessor do célebre telescópio Hubble ainda precisará de mais alguns meses de testes para perscrutar um capítulo desconhecido da nossa histórica cósmica.

Para tanto, o artefato foi configurado para detectar um tipo de radiação, a infravermelha, invisível tanto aos nossos olhos como às lentes do Hubble. Só assim será possível captar a luz das primeiras estrelas que, devido à expansão do cosmo, acaba deslocada para comprimentos de onda mais longos.

A missão do telescópio vai além e passa pela observação dos colossais buracos negros que existem nos centros de galáxias e de planetas localizados fora do sistema solar, entre outros tópicos.

Trata-se, em suma, de investigar não só como tudo começou mas de que forma, a partir do Big Bang, chegamos até aqui.

Trabalho no Brasil evoluirá com mais lentidão que lá fora

O Globo

Porteiro de prédio, cobrador de ônibus, flanelinha, empacotador, ascensorista e tantas outras ocupações há muito não existem mais em países desenvolvidos. A persistência de funções dessa natureza no Brasil está ligada a uma característica triste e essencial da nossa economia: a baixa qualificação da mão de obra. Como tais atividades não geram riqueza, o resultado são os índices baixíssimos da produtividade do trabalho brasileiro, na comparação com os outros países.

Não se trata de problema que dê para resolver de uma hora para outra. Se os empregos que não geram riqueza fossem eliminados, haveria disparada no desemprego, sem que a produtividade maior acarretasse mais desenvolvimento ou melhor condição de vida. Mas o mercado de trabalho não pode ficar estagnado nas profissões improdutivas. Num momento em que a tecnologia transforma todos os setores com oportunidades para automação e ganhos de eficiência, o custo da produtividade baixa é uma economia pouco competitiva, incapaz de atrair investimentos, crescer e gerar prosperidade.

Daí a importância de acompanhar as mudanças no mercado profissional, como faz estudo recente dos economistas Janaína Feijó, Laísa Rachter de Sousa Dias, Fernando de Holanda Barbosa Filho e Fernando Veloso, vinculados ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). A análise das ocupações em ascensão e declínio no Brasil, feita com base em dados do IBGE entre 2012 e 2019, traz motivos para celebração, mas também para preocupação.

No campo das notícias alvissareiras, eles verificaram alta de 10% ao ano em ocupações ligadas à tecnologia. Também constataram “declínio de funções administrativas e técnicas associadas às funções repetitivas e operacionais”, bem como expansão naquelas “centradas nas pessoas”, críticas para uma economia moderna. “Esses tipos de atividades podem refletir algumas tarefas criativas e sociais menos suscetíveis à automação e, portanto, com maior demanda no futuro”, escrevem.

Os dados revelam, porém, quão persistentes são as atividades que exigem pouca formação. Entre as ocupações que mais cresceram, estão vendedores e “vendedores de rua”, que somam 4,5% da força de trabalho. Houve, em contrapartida, queda em funções técnicas ligadas a engenharia, ciências físicas e biológicas, controle de processos e exploração agropecuária, além de postos de direção. O grosso da geração de empregos se deu no setor informal.

Para o futuro, o estudo avalia que as ocupações com maior participação no mercado serão: vendedores, trabalhadores domésticos, agricultores, escriturários, motoristas, cabeleireiros, pedreiros, cozinheiros, costureiros, professores, profissionais de enfermagem, mecânicos. Nenhuma das 15 ocupações citadas está ligada à economia do conhecimento. De 46% da população empregada, tais ocupações representarão 54% da mão de obra em 2029.

“As ocupações ligadas a TI ainda representam parcela pequena do total de empregos”, afirmam. “Esses achados sugerem que as mudanças na força de trabalho e nas ocupações ocasionadas pelos rápidos avanços nas tecnologias digitais tenderão a acontecer em ritmo mais lento no Brasil que nos países desenvolvidos. Isso se deve às características próprias do mercado de trabalho brasileiro, que possui força de trabalho com baixo nível educacional e grande contingente atuando informalmente.”

Melhorar arbitragem no futebol em 2022 é desejo que une todas as torcidas

O Globo

Fosse um time, a equipe de árbitros que apitou o Campeonato Brasileiro neste ano estaria rebaixada. Mais que a incontestável hegemonia do Atlético Mineiro, campeão do Brasileirão e da Copa do Brasil, a competência de Hulk, artilheiro das duas competições, o talento de André, do Fluminense, atleta-revelação, ou a sucessão de dribles do rubro-negro Michael no gol escolhido o mais bonito do torneio, o que dominou as resenhas esportivas ao longo de 2021 foram os erros de arbitragem e as trapalhadas do árbitro assistente de vídeo (VAR), cuja função, em tese, é corrigir os deslizes.

O desempenho sofrível foi reconhecido pela própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ainda que aos 44 minutos do segundo tempo. Em 12 de novembro, quando já corria a 31ª rodada de um total de 38, a CBF deu cartão vermelho ao presidente da Comissão de Arbitragem, Leonardo Gaciba. O estopim para a demissão foi um erro de Vinicius Gonçalves Dias Araújo no jogo entre Flamengo e Bahia no Maracanã, vencido pelo rubro-negro por 3 a 0. Dias marcou um pênalti em favor do Flamengo quando a bola bateu no peito do zagueiro Conti — e não na mão. Manteve a decisão mesmo após analisar as imagens do VAR. Foi só mais uma das lambanças que, ao longo do campeonato, desagradaram a todas as torcidas indistintamente.

Diante de apitos desafinados, a CBF decidiu mandar os árbitros de volta à sala de aula. Quando o Brasileirão já rumava para o fim, cerca de 70 árbitros, assistentes e árbitros de vídeo se concentraram na Granja Comary, em Teresópolis, para um curso de reciclagem. As atividades não se restringiram às aulas teóricas e práticas. Foi preciso apurar também a forma física, essencial a uma boa arbitragem. O objetivo imediato era reduzir o número de erros na reta final do campeonato, mas o teste mesmo acontecerá no ano que vem.

É claro que a controvérsia faz parte do futebol, e não é o VAR que acabará com ela. A checagem, adotada no Brasileirão desde 2019, veio para aperfeiçoar a arbitragem, para torná-la melhor e mais justa. Só que, no Brasil, até o VAR consegue ser desvirtuado. O que era para ser correção de rumo acabou se transformando em grande confusão. Demora-se uma eternidade para tomar uma decisão — e não se evitam os erros. Foi, por isso, acertada a decisão da CBF, tomada também tardiamente, de divulgar os diálogos entre o árbitro e a cabine do VAR, assim como os vídeos da linha de impedimento, a exemplo do que já acontecia noutros países. Quanto mais transparência, melhor.

Não deixa de ser reconfortante que ao menos haja disposição da CBF para mudar o quadro. Se não for suficiente a reciclagem na Granja Comary, que se façam outras, até melhorar o nível da arbitragem brasileira. É inaceitável que árbitros e assistentes de vídeo, com suas patacoadas, apareçam mais que os verdadeiros donos do espetáculo. Espera-se que em 2022 os jogadores voltem a ser protagonistas. Uma arbitragem mais competente e menos histriônica é o desejo legítimo de todas as torcidas.

 

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