quinta-feira, 17 de junho de 2021

Eugênio Bucci* - Bolsonarismo vicia

- O Estado de S. Paulo

Milhões sorvem a torpeza bolsonarista como quem degusta um cálice de absinto

Em abril do ano passado, em artigo publicado na revista piauí (edição 163), Uma esfinge na presidência, o cientista político Miguel Lago propôs uma chave intrigante para interpretar o bolsonarismo. Segundo o autor, quanto maior e mais conflagrado for o confronto nas redes sociais, mais sustentação terá o presidente da República – e quanto mais baixo descer a reputação do governante, mais alto soará o alarido daqueles que o sustentam. Miguel Lago previu que a bandeira do impeachment não iria minar as bases de apoio de Bolsonaro; ao contrário, ajudaria a solidificá-las. Previu e acertou. A força política de Jair Bolsonaro tornou-se tanto mais determinada, embora minoritária, quanto pior ficou sua imagem perante a opinião pública minimamente esclarecida.

A explicação para essa modalidade pútrida de “quanto pior, melhor” vem da dinâmica peculiar das mídias sociais. As compactações das multidões virtuais seguem leis que pouco ou nada têm que ver com a política dita convencional. Enquanto na cartilha dos politólogos as alianças políticas resultam da negociação de interesses e se formalizam em programas propositivos, nos algoritmos das plataformas sociais tudo acontece de ponta-cabeça: o que rende audiência, empolgação e adesão não é o que pacifica, mas o que choca, ofende, escarnece – daí o sucesso das agressões, das manifestações de ódio e da infâmia. Se nos sindicatos ou nos partidos políticos o que reúne as pessoas são os acordos mais ou menos racionais, na internet o que as congrega é o êxtase de insultar e ultrajar um inimigo real ou imaginário, num fragor que não tem parte com a razão.

Maria Cristina Fernandes - Escada para o golpismo

- Valor Econômico

Se aprovar voto impresso, Congresso dará gás a Bolsonaro contra STF

A força do bolsonarismo não está na capacidade de cegar os adeptos mas de ofuscar a oposição. É isso que se passa com o voto impresso. A aliança para viabilizá-lo está mais fácil de sair do que a frente ampla contra o presidente Jair Bolsonaro. A velha desconfiança da urna eletrônica alia-se à fábrica de tramoias do bolsonarismo que, no limite, levará à falência de uma verdadeira campeã nacional, a apuração confiável dos votos.

Na última das três vezes que o Congresso chancelou o voto impresso o fez a partir de uma emenda do então deputado Jair Bolsonaro. Teve encaminhamento favorável da maioria dos partidos, foi aprovado mas caiu no Supremo. Desta vez, o defensor da proposta está no poder obcecado em contestar o resultado das urnas para nele permanecer. Muitos parlamentares continuam presos às suas convicções sem se importar com quem se aliaram.

Têm à disposição um sistema que funciona sem nenhuma prova de violação ao longo de um quarto de século. Preferem tentar o que uns veem, candidamente, como aprimoramento, outros, como vacina contra a propaganda bolsonarista de fraude e uns tantos, ainda, como chance de conquistar o eleitor do presidente, numa espécie de bolsonarismo sem Bolsonaro.

William Waack - Não dá mais

-  O Estado de S. Paulo

Eleições não trarão solução para falência dos sistemas de governo e partidário

Coube a Jair Bolsonaro o duvidoso mérito de demonstrar que o atual sistema de governo não funciona. O perigo do desenho de um sistema que opõe o vencedor de uma eleição plebiscitária (portanto, uma figura forte) a um Parlamento fracionado e com baixa representatividade (o sistema proporcional de voto brasileiro garante a desproporção) já vinha sendo apontado há anos. Nem era preciso esperar a chegada de uma caricatura de homem de Estado como o atual presidente. 

Caricaturas às vezes ilustram um argumento, e a maneira como Bolsonaro, em busca da reeleição, está negociando com uma agremiação política de aluguel (das quais existem dezenas) serviu também para reiterar a falência do sistema de partidos. A combinação do mau funcionamento de ambos – sistema de governo e sistema político-partidário – é, ao mesmo tempo, causa e consequência da profunda crise atual. 

Luiz Carlos Azedo - Não existe almoço grátis

- Correio Braziliense

A reunião de sete partidos rompeu o imobilismo das legendas que ainda não têm candidaturas definidas à Presidência. A iniciativa foi do DEM, partido engajado no governo

A busca de uma alternativa de centro para as eleições de 2022 reuniu, ontem, representantes de sete partidos, dando início às articulações para construção de uma candidatura robusta de centro. O perfil da reunião revela contradições que dificultam a convergência entre as forças de centro-esquerda e centro-direita do país, que terão de fazer concessões recíprocas. O compromisso firmado entre as siglas foi enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O encontro foi articulado pelo ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, que pleiteia a vaga de candidato do DEM.

Participaram da reunião ACM Neto (DEM), Mendonça Filho (DEM), Renata Abreu (Podemos), Bruno Araújo (PSDB), José Luiz Penna (PV), Aureo Ribeiro (Solidariedade), Roberto Freire (Cidadania) e Herculano Passos (MDB). Segundo o presidente do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire, não houve discussão de nomes. O presidente do PSDB, deputado Bruno Araujo (PE), disse que o grupo busca construir nomes viáveis para uma terceira via, supostamente desejada por 58% dos eleitores, segundo pesquisas.

A reunião rompeu o imobilismo dos partidos políticos que ainda não têm candidaturas definidas à Presidência. A iniciativa, para surpresa geral, foi do DEM, um partido muito engajado no governo federal, no qual se destaca a ministra da Agricultura, deputada Tereza Cristina (MS). A presença de ACM Neto e Mendonça Filho no encontro, ao lado de Mandetta, não somente prestigia a pré-candidatura de Mandetta, como sinaliza o possível desembarque da candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição. O presidente do PV, José Luiz Penna, é um dos principais articuladores da candidatura do ex-ministro.

Ricardo Noblat - Eleição presidencial no Brasil nunca foi uma caixinha de surpresas

- Blog do Noblat / Metrópoles

A tendência é que Lula e Bolsonaro avancem sobre o espaço do centro

Há um mar gigantesco que poderia ser navegado por um candidato que se oferecesse como alternativa a Lula e a Bolsonaro na eleição presidencial do ano que vem; é o que mostram as pesquisas de intenção de voto. O que falta: um candidato carismático capaz de unir meia dúzia ou mais de partidos que dizem estar à sua procura.

O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, diz que ficou satisfeito com os resultados da reunião que patrocinou, ontem, em Brasília, e que contou com a presença de presidentes e de representantes de vários partidos. Bem, mas Mandetta diria o contrário se a reunião tivesse sido malsucedida?

Merval Pereira - De lanterna na mão

- O Globo

Assim como Diógenes procurava pelas ruas de Atenas, de lanterna acesa na mão, “um homem honesto”, procura-se um candidato que seja não apenas honesto, mas capaz de mobilizar os eleitores que recusam mais uma vez a polarização entre Bolsonaro e Lula. A desistência de Luciano Huck e João Amoêdo de se candidatar à Presidência da República, além da prévia interna do PSDB para tentar unificar suas tendências em torno de um nome, colocou para andar a sucessão presidencial, que já tem três candidatos definidos: Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes.

Provavelmente, Doria vencerá a prévia do PSDB, mas não tem o apoio total do próprio partido. Terá de se mostrar como o candidato de São Paulo, o que lhe daria grande vantagem, pois geralmente os candidatos tucanos têm saído do estado com uma grande diferença de votos, de cerca de 5 milhões de votos para Fernando Henrique, até 7 milhões a favor de Aécio Neves.

Bela Megale - Partidos que buscam alternativa entre Lula e Bolsonaro

- O Globo

Representantes de sete partidos que se reuniram nesta quarta-feira, em Brasília, para discutir uma alternativa entre Lula e Bolsonaro na próxima eleição, se comprometeram em organizar uma agenda nacional que reúna pré-candidatos do grupo. Nesta lista estão nomes como o do ex-ministro Luís Henrique Mandetta (DEM-MS), do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), do governador Eduardo Leite (PSDB-RS), entre outros.

A ideia é realizar atividades conjuntas pelo Brasil, com o objetivo de iniciar a construção de um espaço alternativo à polarização e viabilizar uma opção da chamada terceira via em 2022.

Presidentes de PSDB, DEM, PV, Cidadania e Podemos participaram do encontro de ontem, além de representantes do Cidadania e MDB. PDT, PSL e Novo se comprometeram em estarem presentes no próximo encontro.

A avaliação dos dirigentes é que uma agenda conjunta é essencial para que o eleitor acredite que, na prática, há outros caminhos além de Lula e Bolsonaro. O formato dessas agendas ainda não foi definido, mas a proposta é mostrar pontos de convergência entre as siglas. As legendas não formaram o compromisso de ter um candidato comum, mas avaliam que o nome pode sair dessa iniciativa.

No próximo encontro, marcado para julho, os partidos vão definir essa proposta de agenda. Foi decidido que as conversas acontecerão mensalmente, em Brasília.

Bruno Boghossian – Especulação eleitoral

- Folha de S. Paulo

Saída de Huck obriga entusiastas da terceira via a cair na real

Luciano Huck já tinha dado todos os sinais de que não seria candidato a presidente. Sua saída da corrida eleitoral não pegou de surpresa os operadores do tal centro político, mas vai obrigar esse grupo a aceitar algumas verdades sobre o cenário da eleição de 2022.

O fato de o nome do apresentador ter circulado como opção por tanto tempo mostra que as elites partidárias ainda não traçaram um caminho para fabricar uma terceira via para a corrida presidencial. Esses políticos insistem que há espaço entre Lula e Jair Bolsonaro, mas não apresentam nomes com potencial para superar pelo menos um dos dois.

Huck procurava brecha numa arena eleitoral dominada por dois nomes já conhecidos do eleitor. Dirigentes dos partidos de centro-direita e centro-esquerda contavam com a exposição do apresentador na TV para chegar à corrida com um nome que fosse popular o suficiente, mas também parecesse uma novidade.

Empresários ainda não veem ‘nome forte’ para 3ª via

Desistência de Luciano Huck e Amôedo joga incertezas sobre candidato alternativo para 2022

Mônica Scaramuzzo / Valor Econômico

SÃO PAULO - Com o calendário eleitoral se aproximando, uma parte da elite industrial do país está voltando a discutir nomes de centro que possam ganhar tração em 2022, furando o cerco entre o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido). As desistências do apresentador Luciano Huck, da TV Globo, e de João Amôedo, do Partido Novo, de concorrer às eleições presidenciais aumentaram as incertezas sobre a possibilidade de que um candidato da terceira via possa ganhar força para ir ao segundo turno no ano que vem.

Preocupados com a polarização entre a esquerda e direita - as recentes pesquisas colocam Lula à frente de Bolsonaro -, o setor produtivo ainda não vê um nome forte capaz de concorrer em 2022. Mas acredita que uma união entre partidos poderia ser uma alternativa para se encontrar uma terceira via.

“Temos conversado com frequência, mas não estamos enxergando ainda essas alternativas”, disse um empresário sob reserva ao Valor. Os nomes que estão postos na mesa - os governadores de São Paulo, João Doria, e Eduardo Leite, ambos do PSDB; o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) - não são vistos como candidatos que possam fazer frente a Lula e Bolsonaro.

Para Jayme Garfinkel, da Porto Seguro, ainda não há consenso para a construção de um nome viável de centro. O empresário participa de discussões com grupos que reúne pesos-pesados como Pedro Passos, da Natura, Pedro Wongtschowski, do Ultra, Horácio Piva, da Klabin, e Fábio Barbosa, ex- Santander e ex-Febraban. “É uma construção que tem de vir da política.”

Grupo de partidos centristas reúnem-se para buscar consenso

Dirigentes de partidos almoçaram em Brasília, mas acreditam que nome da terceira via só deve sair no ano que vem

Andrea Jubé /Valor Econômico

BRASÍLIA - Dirigentes e parlamentares de sete partidos de centro reuniram-se ontem em um almoço em Brasília em busca de um consenso em torno de uma terceira via para disputar a Presidência da República, com musculatura para romper a polarização estabelecida entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O grupo já agendou nova reunião para o mês que vem, quando se pretende definir uma agenda de atividades dos pré-candidatos para o segundo semestre. Até lá, o grupo quer crescer aglutinando dez partidos grandes e médios em torno de uma alternativa ainda em construção. O objetivo é atrair para o próximo encontro, em julho, o PDT, o Novo e o PSL.

A reunião das lideranças de centro em Brasília vinha sendo articulada havia algumas semanas. Muitos já se falavam por telefone e vídeo, mas o encontro presencial, num cenário de muitos já vacinados contra a covid-19, foi viabilizado, principalmente, pelos presidentes do DEM, ACM Neto, do PSDB, Bruno Araújo, e pelo ex-ministro da Saúde e presidenciável do DEM Luiz Henrique Mandetta.

Além de Neto, Araújo e Mandetta, compareceram ao almoço os presidentes do Cidadania, Roberto Freire, do Podemos, Renata Abreu, e do PV, José Luiz Penna. O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), tinha um compromisso com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), no mesmo horário, e enviou o deputado Herculano Passos (MDB-SP) para representá-lo. O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), enviou como representante o deputado Áureo Lírio (Solidariedade-RJ). O PDT foi convidado, mas não compareceu nem enviou representante.

Na saída do encontro, realizado na casa de um advogado ligado ao DEM, no Lago Sul, Bruno Araújo disse que o grupo quer dialogar com a maioria dos brasileiros que ainda não se posicionou sobre as eleições.

“Queremos falar com essa maioria silenciosa, que não é quem está com bandeira vermelha nas ruas, nem quem está em cima de uma moto no fim de semana se manifestando politicamente”, disse o tucano, em alusão aos protestos contra Bolsonaro e aos passeios de moto promovidos pelo presidente.

Dirigentes partidários apostam em ‘maioria silenciosa’

Marcelo de Moraes / O Estado de S. Paulo

Se discutíssemos nomes hoje, a gente não se reunia pela segunda vez', disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire

BRASÍLIA – Um almoço reunindo dirigentes de sete partidos de correntes de centro avançou no compromisso de buscar unidade na construção de uma candidatura presidencial de terceira via para 2022. Sem ainda definir o nome de quem disputará a eleição, a ideia é apostar na "maioria silenciosa" do eleitorado que não quer votar nem no presidente Jair Bolsonaro nem no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os dois nomes que polarizam a disputa nesse momento. 

"O número de brasileiros que se posiciona hoje torcendo para que surja uma nova alternativa é maior do que o eleitorado de Bolsonaro e Lula. Mas essa é uma maioria silenciosa. Uma maioria que nem está com bandeira na rua, nem está em cima de uma moto no final de semana. É para esses brasileiros que nós queremos falar e dizer que a democracia vai oferecer alternativa. E o nosso grande esforço é que essas alternativas estejam concentradas", afirmou o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo. 

A decisão de não discutir ainda quem será o candidato foi estratégica. Nesse momento, a ideia é agregar o maior número possível de partidos em torno do projeto da terceira via contra Bolsonaro e Lula e falar num candidato, nesse momento, poderia atrapalhar essa costura política. "Se discutíssemos nomes hoje, a gente não se reunia pela segunda vez", disse o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire. Participaram do encontro representantes do PSDB, DEM, MDB, Cidadania, Podemos, PV e Solidariedade. 

Na prática, porém, a corrida por essa indicação está se restringindo cada vez mais. Hoje estão na lista o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), que propôs a reunião, além dos quatro nomes do PSDB que disputarão as prévias tucanos: João DoriaEduardo LeiteTasso Jereissati e Arthur Virgílio

Partidos de centro se reúnem para discutir candidatura única e descartam apoio a Lula ou Bolsonaro

Encontro teve a presença de presidentes de DEM, PSDB, Cidadania, PV e Podemos, além de integrantes de outros partidos. Apontado como presidenciável, Mandetta articulou o almoço

Paulo Cappelli / O Globo

BRASÍLIA — Presidentes de PSDB, DEM, PV, Cidadania e Podemos se reuniram nesta quarta-feira para discutir uma candidatura de centro para a eleição presidencial de 2022, a chamada terceira via. Também participaram do almoço, na casa do advogado Fabrício Medeiros, em Brasília, representantes do MDB e do SD. Ao final do encontro, os dirigentes indicaram que houve um consenso: as legendas não vão apoiar nem a candidatura do presidente Jair Bolsonaro nem a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Esse consenso foi anunciado, em entrevista à imprensa ao fim do evento, pelos presidentes do PSDB, Bruno Araújo, e do Cidadania, Roberto Freire.

— O número de brasileiros que se posiciona hoje para uma nova alternativa é maior que o apoio a Lula ou Bolsonaro. Mas é uma maioria silenciosa, que não faz motociata nem manifestação. É para esses brasileiros que queremos falar — disse Araújo.

Roberto Freire afirmou que a reunião não discutiu nomes de possíveis candidatos.

— O ambiente para uma terceira via à Presidência é muito positivo. No momento, não falamos de nomes, mas de programas — afirmou Freire.

Sem nome nem perspectiva, 7 partidos buscam terceira via para 2022 que atraia 'maioria silenciosa'

Grupo almeja alavancar um nome para disputar contra Lula e Bolsonaro, mas encontro revela esvaziamento e rachas

Ranier Bragon / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Dirigentes e integrantes de sete partidos de centro-direita e de centro-esquerda reuniram-se em almoço nesta quarta-feira (16) em busca de um objetivo que, nos bastidores, boa parte do mundo político já considera inviável —uma terceira via para disputar a Presidência da República contra Jair Bolsonaro e Lula em 2022.

Na saída do encontro, realizado na casa de um advogado ligado ao DEM, no Lago Sul, em Brasília, o discurso foi unânime: nomes não foram falados, mas houve consenso de que ninguém ali alimenta desejo de se incorporar a Bolsonaro ou Lula, pelo menos não no primeiro turno.

Nas palavras de Bruno Araujo (PE), presidente do PSDB, busca-se chegar aos corações da chamada “maioria silenciosa”, termo muito usado, geralmente, por políticos que enfrentam forte oposição nas ruas.

“Queremos falar com essa maioria silenciosa, que não é nem que está com bandeira vermelha nas ruas nem quem está em cima de uma moto no fim de semana se manifestando politicamente”, afirmou o tucano, em referência tanto aos protestos contra Bolsonaro quanto às motociatas patrocinadas pelo presidente da República.

Eliane Cantanhêde - Crescem polarização e medo de uma eleição sangrenta

- O Estado de S. Paulo

A desistência de Luciano Huck de concorrer à Presidência da República, já esperada há pelo menos dois meses, reforça que a política não é para amadores, a construção de uma forte opção de centro vai ficando cada vez mais difícil e a eleição de 2022 embica para uma polarização – certamente sangrenta – entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar disso, ainda é cedo para certezas.

Ao jogar a toalha, Huck seguiu os passos do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, que quer distância da política e do Brasil, e do meteórico João Amoêdo, que não deu para o gasto em 2018 e não consegue nem unir o próprio partido, o Novo, para uma nova empreitada tão ambiciosa.

A fila de presidenciáveis do centro vai, assim, enxugando. Ex-candidato à Presidência por duas vezes e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes segue firme em campanha, sem deslanchar e sem atrair nem centro, nem esquerda, nem direita. Apesar do recall de 2018, ainda não atingiu dois dígitos nas pesquisas.

Quanto menos nomes, mais sobressaem-se os do PSDB, um partido em crise de identidade e sem rumo, mas ainda assim uma das principais siglas do País, depois das duas vitórias de Fernando Henrique Cardoso em primeiro turno (1994 e 1998) e de ter disputado o segundo nas quatro eleições seguintes, contra o PT, até ser substituído pelo bolsonarismo em 2018.

Com prévias marcadas para 21 de novembro, os tucanos listam quatro pré-candidatos. Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus, não é levado a sério; Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, considerado muito verde; Tasso Jereissati, senador e ex-governador do Ceará, tido como muito maduro; e João Doria, governador de São Paulo, faz o gênero “tudo ou nada”.

Entrevista | Antonio Lavareda: ‘Desistência de Huck beneficia a centro-esquerda’

Antonio Lavareda, especialista em pesquisas eleitorais, diz que ‘terceira via’ precisaria encontrar candidato com dois dígitos nas pesquisas

Pedro Venceslau / O Estado de S. Paulo

Especialista em pesquisas eleitorais, o sociólogo Antonio Lavareda, presidente do conselho do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), disse ao Estadão que os partidos que buscam uma “terceira via” nas eleições presidenciais de 2022, como alternativa à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), precisam encontrar um nome que atinja os dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto até o início do ano que vem. “Não temos histórico de candidato presidencial exitoso no Brasil que não tenha ingressado no ano da eleição com o patamar de dois dígitos”, disse. 

Em 2022 haverá espaço para um ‘outsider’? 

A demanda do eleitorado em 2022 vai ser semelhante ao que foi em relação aos prefeitos em 2020. Na eleição municipal do ano passado já houve um espaço reduzido para outsiders e a demanda por políticos experimentados. 

Os partidos do centro já apresentaram 15 potenciais presidenciáveis. Esse número deve ser reduzido para quantos?

O número de pré-candidaturas reflete a fragmentação do sistema partidário. É natural que haja muitos pretendentes. De um lado é importante que essa coordenação exista, mas de outro um ou dois candidatos precisam crescer em intenção de voto. Quem vai apontara viabilidade da terceira via é o eleitorado, e não os dirigentes partidários. Há uma questão de calendário. Não temos histórico de candidato presidencial exitoso no Brasil que não tenha ingressado ano da eleição no patamar de dois dígitos. É importante que haja exposição desses candidatos. Essas forças de centro poderiam se organizar para debater em espaços públicos com máximo de cobertura dos meios de comunicação. O candidato de centro está um ano e meio atrasado em relação ao percurso de Bolsonaro. 

Quem deve herdar as intenções de voto de Amoêdo, Huck e Moro?

A saída do Sérgio Moro beneficia os candidatos da centro-direita. A de Luciano Huck beneficia candidatos eventuais da centro-esquerda, porque ele tinha uma base forte entre o eleitorado de menor renda e do Nordeste. Moro tem apoio eleitoral concentrado no Sul, Sudeste e entre eleitores de renda média e alta. Ele tem temática mais cultivada pela centro-direita, que a moralidade e a corrupção. Isso se aplica também para os eleitores do João Amoêdo. 

Se Ciro Gomes chegar aos dois dígitos no início de 2022, ele por pragmatismo pode ser opção para quebrar a polarização? 

De fato o desafio dele é avançar no eleitorado de centro e centro-direita. Ciro vai precisar tornar seu discurso mais compatível com as expectativas deste setor específico. Se conseguir isso, pode se viabilizar. Uma das questões da eleição do ano que vem é saber se eleitorado de centro-direita que tem crescido visivelmente de 2016 para cá vai continuar com o bolsonarismo ou vai retornar ao centro típico. 

Cristovam Buarque* - Comissão Marco Maciel

- Correio Braziliense

O Brasil perdeu um cidadão íntegro, honesto, dedicado ao interesse público, conforme suas convicções; um brasileiro que ao longo de toda a vida útil foi político, sem tirar proveito pessoal, sempre fazendo do diálogo a ferramenta maior da sua atividade. Na carreira, conseguiu ser presidente da Câmara dos Deputados durante o regime militar, e vice-presidente da República no regime democrático.

Pode-se discordar de suas ideias e de que lado ele estava em cada momento do processo político-eleitoral, mas não se pode acusá-lo de ter cedido aos métodos dos ditadores ou de quebrar o diálogo com os democratas. E é preciso reconhecer seu papel decisivo na reabertura democrática.

Ainda estudante, Marco Antônio, como era conhecido em Pernambuco, fazia oposição às forças de esquerda que governavam o Brasil e o Estado. Quando muitos se fizeram de esquerda para estar perto do poder, ele ainda jovem defendia e lutava por seu ideal liberal-cristão que alguns podiam chamar de direita.

Naquele tempo de Guerra Fria, o regime militar trouxe ideias liberais que ele defendia. Mas sua carreira foi feita graças aos votos dos pernambucanos em sintonia com propósitos ideológicos que nunca significaram aceitação dos métodos de ditadura ou de ruptura do diálogo. Quando sentiu que chegou o momento fez a opção e, sem o seu apoio enfático, a democracia não teria derrotado a ditadura em 1985, com a eleição de Tancredo Neves. Nas dificuldades da transição, ele foi decisivo com sua lucidez e capacidade de articulação.

Míriam Leitão - Juros altos e o alerta sobre a inflação

- O Globo

Os dois bancos centrais, do Brasil e dos Estados Unidos, admitiram preocupações maiores com a inflação, do que nas últimas reuniões. No Brasil, os juros subiram dentro do que se esperava, mas o recado foi que a taxa subirá além do que anteriormente estava registrado nos comunicados. Nos Estados Unidos, os juros não foram alterados, mas o aviso foi que eles subirão mais cedo do que era projetado. De tudo o que foi dito, o que ficou claro é que as taxas no Brasil vão até um patamar mais elevado do que se imaginava antes, porque os riscos inflacionários estão maiores.

A mudança de tom se viu em vários pontos da nota ao fim da reunião do Copom. O comunicado alertou que a inflação está mais persistente do que o esperado, “sobretudo nos bens industriais”, incluiu a crise hídrica na análise da conjuntura e avisou que as medidas da inflação estão acima da meta. Antes, o Copom falava em “normalização parcial” da taxa de juros.  Agora o aviso é que a normalização irá “para um patamar neutro”. Em bancocentrês isso é juros voltando a 6,5%.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

EDITORIAIS

O jogo ainda vai começar

O Estado de S. Paulo

 “É Bolsonaro e Lula”, disse o ministro das Comunicações, Fábio Faria, ao avaliar o cenário para a eleição presidencial de 2022. A declaração taxativa, feita em entrevista à Jovem Pan, mistura análise política e torcida: no cálculo dos bolsonaristas, as chances eleitorais do presidente Jair Bolsonaro crescerão se o oponente mais viável na campanha do ano que vem for mesmo, como sugerem as pesquisas, o líder petista Lula da Silva, cujo passivo judicial e político resulta em considerável rejeição.

A mais de um ano da eleição, qualquer projeção como a do ministro Faria é obviamente hipotética e provavelmente precipitada, e mais ainda porque decerto haverá outros candidatos relevantes além de Bolsonaro e Lula.

Compreende-se a pressa dos bolsonaristas em delimitar o certame o mais rapidamente possível, não só para capturar apoio de forças políticas que ainda não se definiram, mas para desde já investir no antipetismo como arma eleitoral, cuja eficiência é comprovada desde as eleições municipais de 2016 e que foi diretamente responsável pela vitória de Bolsonaro em 2018.

Contudo, malgrado a barulheira que produzem, nem só de Bolsonaro e Lula se faz a política brasileira. Na terça-feira passada, o governador de São Paulo, João Doria, anunciou oficialmente que disputará as prévias do PSDB para ser o candidato do partido à Presidência em 2022. Já são bastante conhecidas as pretensões presidenciais de Doria, mas a formalização de sua disposição em concorrer ao Palácio do Planalto coloca no jogo um postulante que tem a enorme visibilidade do governo de São Paulo.