segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Fernando Gabeira - Um país no retrovisor

O Globo

Na semana passada, li um pequeno livro do francês Jacques Attali, chamado “A economia da vida”, em que ele descreve como se preparar para uma nova pandemia dentro de dez anos.

O autor esboça uma história das epidemias desde quando as pessoas começaram a se reunir em grande número, na Mesopotâmia, na Índia e na China.

Uma de suas conclusões que me interessam aqui é que as epidemias derrubam governos, impérios e, às vezes, arrastam até religiões.

Até hoje, impressiona-me a ignorância de Bolsonaro e seus gurus, que se recusaram a perceber a dimensão gigantesca desse fenômeno e foram atropelados por ele, produzindo com sua política de avestruz mais de meio milhão de mortos.

Sei que muitos não concordam, mas, na minha opinião, Bolsonaro foi destruído pela pandemia, e não vejo como se recuperar, apesar da decantada memória fraca dos brasileiros.

Quando olho para seus passos, penso: em termos políticos, está lá um corpo estendido no chão. A tática de se unir aos grupos fisiológicos não é nada mais que uma continuidade da miopia, por outros caminhos.

Interessante é que declara ter entregado a alma do seu governo ao Centrão. Como se esse espaço político estivesse povoado por piedosos pastores que colecionam almas para sua salvação, e não por vorazes caçadores do tesouro.

Marcus André Melo* - O mistério do distritão

Folha de S. Paulo

O distritão é efeito da hiperfragmentaçao e fraqueza dos partidos

Muito já se escreveu sobre o distritão como modelo eleitoral exótico, mas pouco se falou sobre quem se beneficia de sua adoção. Afirma-se que o modelo favorece candidaturas individuais de grande apelo em detrimento dos partidos, mas quem ou o quê está por trás das mudanças —uma coalizão de celebridades? Um abissal desconhecimento técnico?

Para além das celebridades, há um grupo que ganha com o distritão: os deputados federais cuja votação é expressiva mas inferior ao quociente eleitoral, os quais necessitam de votos de outras candidaturas da lista partidária. Eles formam uma maioria expressiva: correspondem a 94,7% dos parlamentares eleitos.

A proposta já foi derrotada duas vezes, mas a situação atual é nova porque a proibição de coalizões em eleições proporcionais abalou o perverso equilíbrio existente. Sem o mercado persa de negociatas em torno da formação de chapas (e que envolvia também tempo de TV), a meta do quociente torna-se mais difícil.

E, quanto maior o quociente eleitoral (que varia de 1,5% do total de votos em São Paulo a 12,5% no Acre), maiores as dificuldades para atingi-lo individualmente, já que não será possível agregar “cauda” de outras legendas.

Cláudio de Oliveira* - Os democratas devem pautar o debate público

Dedicado à memória do jornalista Marco Antônio Tavares Coelho.

As forças democráticas precisam pautar o debate público do país. Esse debate não pode girar em torno da agenda de Jair Bolsonaro, pois ela não representa, em grande parte, os interesses e as necessidades da maioria da sociedade brasileira.

Naturalmente, quem está na chefia do Executivo tem grande força política para definir os termos do debate. O presidencialismo brasileiro concentra grande poder na mão do presidente, que detém a iniciativa política.

Também contribuem para tal fato, a fragmentação partidária e a fraqueza dos partidos políticos no Brasil. As oposições estão divididas e algumas delas voltadas para os seus problemas.

Mas, recentemente, no início da pandemia do coronavírus, a Câmara dos Deputados, então presidida pelo deputado Rodrigo Maia, mostrou capacidade política de propor os termos do debate e liderar, de algum modo, o enfrentamento da pandemia. Foram muitas as iniciativas dos deputados para a condução da crise sanitária, em contraste com o negacionismo, o boicote e a inação do governo federal.

Celso Rocha de Barros - Bolcentrão não salvou a democracia

Folha de S. Paulo

Até agora, Bolsonaro só pediu ao centrão que evite o impeachment enquanto o Planalto articula o golpe

Na live presidencial da última quinta-feira, Jair Bolsonaro voltou a ameaçar a democracia brasileira. Incapaz de arcar com o ônus da prova, resolveu sacar provas do ânus e mentiu que há risco de fraude nas eleições. Bolsonaro mente para dar um golpe. Quer dar um golpe para fugir da cadeia.

Isso aconteceu durante uma nova rodada de circulação do argumento “o centrão vai moderar Bolsonaro”. A nova rodada foi iniciada com a indicação de Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. Nogueira é um dos chefes do centrão.

Na última quinta-feira, a Folha publicou um artigo do jornalista Mario Rosa dizendo que “Bolsonaro não pode ser acusado de fascista, golpista, antidemocrata e, ao mesmo tempo, ao atrair um político experiente e presidente de um partido tradicional, receber a pecha de ‘contraditório’, ‘velha política’”.

Rosa está errado.

Não há qualquer contradição entre ser golpista e ladrão, muito pelo contrário. Pode ter havido uma ou outra ditadura honesta na história do mundo, mas a regra é que a turma sempre dá golpe para roubar, para roubar coisa grande. Sempre foi assim no Brasil, continua sendo.

A tese do “moderado pelo centrão” não é, vejam bem, absurda desde sempre. Os bolsonaristas querem dar golpe para roubar. Se pudessem roubar sem correr o risco de morrer durante um golpe fracassado, talvez o “Bolcentrão” nos levasse à moderação. Não era impossível que o centrão moderasse Bolsonaro.

Catarina Rochamonte - AfD e a miséria ideológica do bolsonarismo

Folha de S. Paulo

O presidente recepcionou calorosamente Beatrix von Storch no Brasil

O avô materno de Beatrix von Storch foi ministro de Hitler e seu avô paterno foi membro da SA; a questão, porém, não é o passado nazista dos seus avós, mas sua presente atuação política. Beatrix é vice-presidente da AfD (Alternativa para a Alemanha) e uma das principais responsáveis pela conversão desse partido, inicialmente moderado, em uma agremiação ultranacionalista, fundamentalista, xenófoba e racista da qual os liberais fugiram.

A AfD é hoje um partido populista de direita cujos membros são sistematicamente acusados de nutrir simpatias pelo nazismo. Um seu porta-voz afirmou orgulhar-se de sua ascendência ariana e declarou que imigrantes deveriam ser mortos com gás; um de seus deputados criticou a memória do Holocausto e Beatrix von Storch já defendeu que guardas de fronteira atirassem em refugiados que chegassem à Alemanha.

Ricardo Noblat - Guedes dispara seu míssil para tentar reeleger Bolsonaro

Blog do Noblat / Metrópoles

Calote no pagamento de dívidas da União reconhecidas pela Justiça dará R$ 40 bilhões para o governo gastar a mais em 2022

Esta tarde, em reunião marcada no Palácio do Planalto, o ministro Paulo Guedes, da Economia, jogará na mesa para conhecimento dos presidentes da Câmara e do Senado, e de um grupo seleto de colegas, o trunfo que imagina dispor de modo a garantir mais quatro anos de mandato a seu chefe Jair Bolsonaro.

Trata-se de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o parcelamento em nove anos de dívidas da União reconhecidas pela Justiça (precatórios). Se ela for aprovada pelo Congresso, o governo poderá gastar 40 bilhões de reais a mais do que o previsto em 2022, justamente um ano de eleições.

Em conversas intramuros, Guedes refere-se à PEC como “um míssil”, capaz de destruir os maus presságios que turvam o futuro do governo, e de alavancar a popularidade de Bolsonaro ora em declínio. Haveria assim dinheiro à farta para investimentos em programas de atendimento aos brasileiros mais pobres.

Sim, os governos, às vésperas de eleições, sejam eles de esquerda ou de direita, costumam descobrir a existência de pobres e de promover algum alívio para seus bolsos. Não necessariamente porque eles são pobres, mas porque votam. É uma receita universal, o que não significa que funcione sempre, a depender.

Mirtes Cordeiro* - Borba Gato, a história e o que a escola ensina

Falou & Disse

Muitos monumentos e estátuas têm sido derrubados como forma de restaurar a História.

Para que serve a história?

Há quem diga que a história serve para que possamos analisar os fatos e não cometamos os mesmos erros do passado e a sociedade possa corrigir os rumos a serem seguidos, sobretudo em momentos de alternância de poder.

Heróis representados em estátuas são sempre representantes do poder que se alterna e que representam a força, a bravura e a valentia no sentido da conquista, do desenvolvimento. Parece até que faz parte do sentimento da população admirar o que comandou com espadas ou metralhadoras na mão. É o que fica no imaginário, o sentimento da proteção, da defesa de todos. É também o que fica do que aprendemos quando passamos pelo ensino básico, até pouco tempo. Alguma coisa vem mudando.

Mas parece que não é assim. Os heróis admirados se impõem mais pelo medo que provocaram em um determinado tempo, às grandes maiorias afastadas dos poderes. Era o caso dos escravos no império romano, que ruiu e deu lugar ao sistema de produção agrícola feudal, dos servos e vassalos no tempo do feudalismo, das pessoas escravizadas trazidas da África para as Américas na época do mercantilismo, antecessor do sistema capitalista e dos povos que conviveram e ainda convivem com as ditaduras modernas em vários países, a partir do século XIX.

Ricardo Costa, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em palestra sobre para que serve a história, afirma que “ao contrário do que definiram, (vários interlocutores) nossa sociedade cada vez mais é menos reflexiva, cada vez possui menos capacidade de refletir, de entender e de discutir a realidade. Isso acontece por se tratar de uma sociedade de consumo, de massa, de gente que cai no apelo fácil da leitura superficial, quando não da força da televisão, passatempos fúteis alçados à categoria de cultura. A crise pela qual passam as ciências sociais e o questionamento acerca da função da história em um curso de História, são provas contundentes disso”.

Bruno Carazza* - O IBGE e o ministro da pedra lascada

Valor Econômico

Paulo Guedes é o responsável pelas mazelas que ele próprio critica

Na tarde do dia 29 de maio de 1936, Getúlio Vargas convocou ao seu gabinete o ministro das Relações Exteriores, José Carlos de Macedo Soares. Um dos seus mais fiéis apoiadores, o advogado, industrial e político paulistano estava à frente do Itamaraty havia quase três anos, período em que desempenhou missões delicadas, como a mediação das negociações de paz entre Bolívia e Paraguai na Guerra do Chaco.

Nas semanas anteriores, Vargas havia mandado esvaziar algumas salas do segundo andar do Palácio do Catete para abrigar um novo órgão. Para comandá-lo, nomeou Macedo Soares como seu presidente, função que seria exercida cumulativamente ao cargo de chanceler. Na cerimônia de posse, diante de seu ministério, anunciou: “Tenho tal interesse pelo Instituto Nacional de Estatística que lhes dei a minha Casa e o meu Ministro”.

Tamanho prestígio não se manteve. Em seus recém-completados 85 anos, o órgão oficial de estatísticas do país, rebatizado em 1938 como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), viveu muitos altos e baixos. Essa saga é contada em detalhes por Nelson Senra no monumental História das Estatísticas Brasileiras, um conjunto de quase quatro mil páginas, organizadas em quatro volumes, que descrevem como as estatísticas brasileiras foram desejadas (1822-1889), legalizadas (1889-1936), organizadas (1936-1972) e formalizadas - de 1972 a 2002, último período coberto pela obra, publicada em 2006.

Gustavo Loyola* - Remendo tributário

Valor Econômico

Projeto não atende as necessidades mais urgentes e pode trazer maiores dificuldades para os contribuintes

Qualquer iniciativa de reforma tributária no Brasil deveria considerar, no mínimo, quatro fatos incontestáveis da nossa realidade: a péssima distribuição de renda, a elevada carga de impostos, a frágil situação fiscal e a extrema complexidade da legislação tributária. Infelizmente, o projeto de reforma do Imposto de Renda encaminhado pelo governo ao Congresso Nacional parece ter ignorado alguns desses fatos e, por isso, merece ser modificado pelo Legislativo ou simplesmente ser rejeitado.

Inicialmente, é bom lembrar que o governo colocou a reforma do IR como prioritária em relação às demais iniciativas que tramitam no Congresso, inclusive no que diz respeito ao projeto do próprio Executivo que unifica o PIS e a Cofins. Trata-se de um equívoco pois as maiores dores sofridas pelos contribuintes brasileiros são devidas à péssima legislação relativa aos tributos indiretos e não àqueles que incidem sobre a renda. A colocação das mudanças do IR à frente dos demais temas de reforma tributária parece indicar a falta de compromisso do governo com a necessidade de melhorar o ambiente de negócios no país, com vistas a trazer ganhos de produtividade indispensáveis para a aceleração do crescimento econômico.

Sobressai especialmente a omissão do governo federal no tema da reforma do ICMS e do ISS e a criação de um Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) que, abarcando também tributos federais como o IPI, possa desmontar o manicômio tributário ao qual estão sujeitos os contribuintes no Brasil. Há bons projetos com esse objetivo no Congresso Nacional, notadamente o PEC 45/2019 que se baseia em estudos liderados pelo economista Bernardo Appy. Como se trata de uma reforma que impacta os três níveis de governo, a presença do governo federal no debate é condição necessária ao avanço da iniciativa. O que se viu, ao contrário, foi o Executivo colocar o seu próprio projeto de unificação das contribuições (PIS e Cofins), agora também escanteado para segundo plano.

Denis Lerrer Rosenfield* - O mito de Cuba

O Estado de S. Paulo

É nessa ditadura que o PT e a esquerda desnorteada procuram se espelhar?

Cuba é uma amostra da desordem intelectual reinante na esquerda brasileira, em particular no PT, considerando que esse partido se coloca como alternativa democrática de poder. Desordem tanto mais preocupante porque ela expõe a natureza autoritária do partido e de seu líder, ambos não hesitando em defender e em elogiar um regime político carcomido, criador de miséria, de violação dos direitos humanos, incapaz de produzir vacinas contra a covid-19 para a população que diz encarnar. Regime policialesco que controla no detalhe a vida de seus cidadãos, súditos da ditadura comunista. É esse exemplo de democracia que Lula da Silva e o PT pretendem apresentar nas próximas eleições?

O ex-presidente chegou mesmo ao ápice do hilário ao declarar que, não fosse o embargo americano, Cuba seria a Holanda. Talvez não saiba que na Holanda vigora um regime capitalista, defensor da propriedade privada no campo e na cidade, fruto da tolerância religiosa e de um passado de importante país comercial, que até hoje permanece. Boa parte das exportações brasileiras do agronegócio entra na Europa através de seus portos. Tampouco deve ele saber que se trata de uma monarquia constitucional, assegurando aos seus cidadãos amplo direito de expressão, comunicação, circulação e participação política. É isso que Lula está querendo para Cuba? Pretende ele converter o regime comunista para o capitalismo e a democracia?

Cuba sofre o embargo americano. Diga-se de passagem que é uma medida burra, pois o próprio comércio seria um elemento de dinamização capitalista de sua economia, além de oferecer uma narrativa “anti-imperialista” para o Partido Comunista e para a esquerda mundial, que pensa representar alguma coisa. Dito isto, os americanos não cercaram a ilha com sua frota nem impediram o seu livre-comércio com outros países do mundo. O regime cubano, frise-se, pode comercializar com qualquer país do planeta, salvo os Estados Unidos. Poderia ter um profícuo intercâmbio comercial e tecnológico com a China (a exemplo do Brasil), com a Rússia, com a União Europeia, e assim por diante. Se não o faz é porque é ineficiente economicamente, incompetente no trato diplomático e fechado em si mesmo. Eis as condições de manutenção da ditadura comunista. Quanto menor abertura, melhor para ela.

Miguel de Almeida - A criação da direita religiosa

O Globo

A provável assunção de André Mendonça como ministro do STF faz parte de uma sedição urdida ainda na década de 1960. Por trás da indicação de alguém “terrivelmente evangélico”, esconde-se a reação de alguns bispos católicos à modernização pregada pelo Concílio Vaticano II.

Enxergaram ali uma guinada intolerável na Igreja.

Em oposição às ideias saídas do encontro convocado pelo Papa João XXIII, houve uma união inédita entre bispos conservadores, teólogos e ativistas moralistas. E ainda políticos oportunistas. Por rejeitar uma sintonia da religião com uma postura em defesa da justiça social, menos vetusta (o abandono do latim nas missas…), os descontentes iniciaram um processo reacionário de tomada do poder em todos os níveis da sociedade. Touché: décadas depois, vemos a ocupação de espaço político no Congresso, na mídia e na Justiça.

O recém-lançado livro do professor Benjamin Cowan, “Moral majorities across the Americas: Brazil, the United States, and the creation of the religious right”, traz toda a história da reação conservadora, com nomes aos bois e documentos, além de seguir as relações dos sediciosos brasileiros com os americanos. Sim, as vitórias do Bozo e de Trump seguem um roteiro ideológico traçado pelos militantes moralistas ali nos sessentas do século passado. É de fato um troço transnacional. Bem sabe o Mourão ao suar pela Universal em terras africanas.

Irapuã Santana - Voto em branco?

O Globo

O Brasil tem assistido perplexo ao trabalho do Congresso acerca das eleições de 2022. Tivemos o aumento do fundo eleitoral na votação da LDO, bem como a apresentação de duas propostas de emenda constitucional — PEC 125 e PEC 135. Por fim, ainda há um grupo de trabalho relatado pela deputada Margarete Coelho (PP-PI), que sistematizará toda a legislação sobre o tema.

Nesse panorama, é preciso dar plena atenção a três pontos importantes, sobre os quais nenhum diploma legislativo poderá ser aprovado sem enfrentar o devido debate: voto impresso, distritão e participação de candidaturas negras.

Do jeito que se desenha toda a reforma, os congressistas pretendem a manutenção e a perpetuação do poder, asfixiando a renovação política e promovendo um verdadeiro apartheid eleitoral, ao estabelecer condições para que apenas candidatos brancos e ricos possam concorrer com chances reais de ganhar as eleições.

Washington Olivetto - Vejo o Rio de Janeiro

O Globo

Adoro Londres, onde moro e que defino como a melhor Nova York do mundo. O que não significa que eu não goste de Nova York. Pelo contrário, gosto e muito.

Por isso mesmo, tive o maior prazer em rever a série “Faz de conta que NY é uma cidade”, do diretor Martin Scorsese, com a escritora Fran Lebowitz. Revi os sete episódios, a que já havia assistido em janeiro deste 2021, entre o início da noite de sábado e a madrugada de domingo retrasado.

Sempre gostei de Scorsese. Dos seus longas-metragens, como “Taxi driver” e “Touro indomável”; dos seus documentários, como aquele sobre os Rolling Stones, filmado no Beacon Theatre, da Broadway com a Rua 74; e dos seus vídeos, como “O cinema por Scorsese”, com observações interessantíssimas sobre os filmes italianos.

Sempre gostei de Lebowitz.

Já no fim dos anos 1970, época das minhas primeiras idas a Nova York, eu comprava a Interview, do Andy Warhol, numa das bancas de jornal do Village e lia entusiasmado os textos de Lebowitz, apesar de perder muitos detalhes, devido à ruindade do meu inglês.

O que a mídia pensa: Editoriais

EDITORIAIS

Recordes sinistros

O Estado de S. Paulo

Desemprego, inflação e endividamento batem recordes no Brasil, tornando mais inseguro o dia a dia de famílias ainda sujeitas a uma pandemia mortífera

Desemprego, inflação e endividamento batem recordes no Brasil, tornando mais inseguro o dia a dia de famílias ainda sujeitas a uma pandemia mortífera, num país com vacinação atrasada e governo concentrado em arranjos políticos e objetivos eleitorais. As projeções da inflação ao consumidor já se aproximam de 7% em 2021, superando de longe o teto da meta, mas nenhum sinal de trégua aparece no mercado. Novos aumentos são prenunciados pela alta dos custos de produção, turbinados pelas cotações internacionais de matérias-primas, pelo encarecimento da energia e pela taxa de câmbio. Nem tudo chegará ao comprador final, mas algum repasse ocorrerá, como tem ocorrido, e assim o dinheiro já escasso ficará ainda mais curto.

O surto inflacionário hoje enfrentado pelos brasileiros é um dos legados da grande crise sanitária de 2020. Parte dos problemas é atribuível a desarranjos no sistema produtivo. A oferta de certos insumos e componentes industriais foi prejudicada e nem todos os desajustes foram corrigidos. Pelo menos as pressões daí derivadas devem ser temporárias. Mas, apesar desse adjetivo, a duração desses efeitos ainda é desconhecida. De toda forma, o aumento de custos continua intenso e dificulta qualquer previsão otimista.