domingo, 31 de outubro de 2021

Paulo Fábio Dantas Neto* - Mais Brasil e mais Brasília: a via política como solução

“Mais Brasil, menos Brasília” era um slogan a que Jair Bolsonaro apelava quando o governo eleito em 2018 ainda despertava expectativa positiva em partes da sociedade brasileira, fora do círculo cada vez mais estreito do eleitorado que hoje ainda o trata como mito. Mas o slogan não guardava afinidade apenas com a candidatura vencedora naquelas eleições. Funcionava, subliminarmente, como cartão de visitas da chamada “nova política”, que muitos imaginavam estar surgindo no Brasil, após a blitz que a Operação Lava-jato dirigiu à chamada “velha política”. Esse foi o nome-fantasia com que a ética faxineira batizou seu real adversário, o sistema institucional onde se opera a política de todos os partidos e lideranças políticas. Lamentavelmente, a elite política reagiu à blitz de autoproclamados guardiães de virtudes republicanas com uma espécie de strip tease. Entregou-se a ritos autofágicos, com quase todas as suas facções partidárias caindo no autoengano de tentar surfar na onda do lava-jatismo para escapar do afogamento geral que ela pretendia causar.

A omissão e o escapismo das lideranças e partidos que acabaram entregando o país à extrema-direita foram de tal monta que correram da raia tanto a facção de esquerda que ocupava o governo e que - exatamente por estar no governo - havia sido atingida pelos primeiros petardos da Lava-Jato, quanto as facções de centro e de direita que se uniram pelo impeachment de uma presidente já caída em desgraça pela rejeição popular e foram igualmente alcançadas, na sequência, pela perversidade de uma operação que degenerou, como se sabe, em toda sorte de arbitrariedades.  Omitiu-se o grupo governante até 2016 ao fazer ouvidos moucos aos protestos de 2013 (que legitimamente e pacificamente cobravam eficácia e transparência do governo na prestação de serviços públicos) e ao tentar refratá-los pelo despiste para uma fictícia reforma política, chegando ao ponto de ameaçar a Carta de 1988 com uma insólita ideia de Constituinte. Já os grupos que apearam do poder aquele grupo governante também se omitiram ao negarem ao governo de transição que criaram o apoio e a solidariedade necessários para que se desse em clima de unidade a travessia até as urnas, hora em que os litigantes prestariam contas aos eleitores. As forças derrotadas na batalha do impeachment tentaram escapar pela narrativa do “golpe” e as vencedoras por um salve-se-quem-puder que fugia à responsabilidade política pela solução encontrada. Da combinação desses escapismos resultou a catástrofe atual.

Merval Pereira - Sem lugar de fala

O Globo

A ida de Bolsonaro à reunião do G20 não tem a menor importância. O importante é ele não ir à reunião mundial do clima na Escócia, da qual depende nosso futuro, e o do mundo. Tanto no G20 quanto na COP26, ele não tem lugar de fala, não tem nada a dizer. Não ir à COP26 é sinal de que o assunto não é prioridade do país. Como explicar que acabou de dar uma pedalada para mudar o critério de emissão de carbono, para poder poluir mais ?

Somos o quarto ou quinto país em emissão de carbono, ao lado de China, Rússia, Índia e Estados Unidos. O Brasil já foi protagonista na discussão sobre meio ambiente, e no esforço de reduzir a emissão de carbono. Hoje é um pária internacional. O país tem uma fonte de riqueza espetacular na Amazônia, e o governo só faz destruí-la, não entende que uma árvore em pé é mais importante economicamente do que derrubada.

O Brasil estaria com a faca e o queijo na mão nesse assunto. Se tem um país no mundo que tem todas as condições, uma matriz energética muito limpa, este é o Brasil. Nossa energia é 80% limpa, renovável com as hidrelétricas, a da China é 60% de carvão mineral, nossa vantagem comparativa é imensa. Para Sérgio Margulis, doutor em economia ambiental pelo Imperial College de Londres e  pesquisador sênior  do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS), a racionalidade econômica seria o Brasil puxar por essa agenda, onde temos uma vantagem enorme. “É uma questão econômica, comercial, não tem nada de esquerda ou de direita”, ressalta.

Elio Gaspari - O aviso do xerife de 2022

Folha de S. Paulo / O Globo

Moraes sabe como funcionam as milícias e quem as financia e como rola o dinheiro

Um ano antes do pleito de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral escreveu uma boa página de sua história. Livrou a chapa de Jair Bolsonaro da cassação e avisou aos interessados que se repetirem o golpe das notícias falsas e das milícias eletrônicas, pagarão pelos seus delitos. Nas palavras do ministro Alexandre de Moraes, que presidirá a Corte em 2020: “Irão para a cadeia”.

A decisão unânime do TSE acompanhou o voto de 51 páginas do corregedor Luiz Felipe Salomão. No ambiente envenenado da política nacional, Salomão apresentou uma peça redonda e cirúrgica na demonstração das malfeitorias cometidas e equilibrada na conclusão de que faltaram provas e as impressões digitais necessárias para justificar a cassação de uma chapa três anos depois de sua posse. O magistrado mostrou a letalidade do vírus e abriu o caminho para a advertência de Moraes.

Passados três anos do festival de patranhas de 20018, Alexandre de Moraes chegará à presidência do TSE em agosto, com a estrela de xerife no peito. Salomão fez sua carreira na magistratura; Moraes, no Ministério Público, com uma passagem pela Secretaria de Segurança de São Paulo. Além disso, na condução do inquérito das notícias falsas conhece as obras e pompas das milícias eletrônicas e mostrou-se rápido no gatilho ao mandar delinquentes para a cadeia. Zé Trovão, o caminhoneiro foragido, decidiu entregar-se à Polícia Federal. Na estrela de xerife de Moraes brilha o destempero com que Jair Bolsonaro investiu contra ele, chamando-o de “canalha”.

Moraes sabe como funcionam as milícias e quem as financia e como rola o dinheiro. Salomão, por seu turno, já firmou a jurisprudência que congela os recursos que as alimentam. As conexões internacionais dessas milícias, um fato que há três anos estavam no campo da ficção cibernética, hoje estão mapeadas. Se há um ano elas tinham o beneplácito do governo americano, hoje têm o FBI no seu encalço.

Com Moraes na presidência do TSE é possível prever que entre o início dos disparos propagadores de mentiras e a chegada dos responsáveis à carceragem passarão apenas dias ou, no máximo, poucas semanas. Basta ler o voto de Salomão e acompanhar as decisões de Moraes para se perceber que os reis das patranhas de 2018 são hoje sócios de colônias de nudismo.

Eliane Cantanhêde – Pedras lá, tapete cá

O Estado de S. Paulo

Ausente da COP26 e isolado no G20, o risco de Bolsonaro é, sim, levar ‘pedrada’

Com seu jeitão de caserna e a sinceridade de (quase) sempre, o general e vice-presidente Hamilton Mourão explicou por que o capitão e presidente Jair Bolsonaro, apesar de estar ali perto, na Itália, se recusou a ir à COP 26, na Escócia: “Ele vai chegar num lugar em que todo mundo vai jogar pedra nele?”

Mourão, que é responsável pela Amazônia, mas foi dispensado da COP, ainda tentou ajeitar as coisas, justificando que muitas críticas são “equivocadas”, por um certo viés ideológico e o peso do interesse econômico. Mas, como todo o mundo, literalmente, sabe, há motivos aos montes para “pedradas”.

Segundo o Observatório do Clima, o Brasil andou na contramão do mundo em 2020. Com pandemia e recuo na atividade econômica, a emissão de CO² teve uma redução média mundial de 7%, mas o País emitiu 10% a mais, um desastre na comparação internacional e também interna. Foi o pior resultado desde 2016. Por quê? Por causa do desmatamento da Amazônia, um marco da era Bolsonaro.

Luiz Carlos Azedo - Quando o conceito é fatal

Correio Braziliense / Estado de Minas

De agosto de 2020 a junho deste ano, registramos os maiores índices de desmatamento. São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso registraram mudanças impressionantes

Houve uma mudança muito significativa na conjuntura política. Em primeiro lugar, a ameaça de um golpe de Estado, que deixou o país à beira de um ataque de nervos, desapareceu do horizonte próximo após o 7 de Setembro. Não houve a adesão militar contra o Supremo Tribunal Federal (STF) que o presidente Jair Bolsonaro esperava, as reações das instituições políticas e da sociedade esvaziaram a mobilização golpista. Desde então, o eixo da vida política nacional se deslocou da crise sanitária, cuja crônica política e criminal está no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado sobre a pandemia da covid-19, para a crise da nossa economia, tendo por pano de fundo a antecipação da disputa eleitoral de 2022.

Especialistas em planejamento sabem que um erro de conceito pode ser fatal. Muitas vezes, o erro decorre de um falso diagnóstico; outras, de um conceito errado. A tempestade perfeita pode ser fabricada quando as duas coisas coincidem com uma concepção equivocada, por exemplo, o negativismo em relação à ciência. No caso da pandemia, o erro de diagnóstico foi considerar a covid-19 uma “gripezinha”; o de conceito, apostar na “imunização de rebanho” para manter a economia aquecida. Com isso, buscou-se toda sorte de atalhos para evitar a recessão, que passou a ser o objetivo do governo, em vez de salvar a vida das pessoas. A cloroquina entra nessa história como uma poção mágica. Havia outra solução simples para um problema tão complexo (acreditem, elas também existem) — a vacinação em massa.

Bruno Boghossian - A teoria do caos

Folha de S. Paulo

Presidente opera nessa frequência para conseguir dividendos políticos sem muito trabalho

Quando caminhoneiros ameaçavam bloquear estradas em protesto contra a disparada do preço do diesel, em 2018, Jair Bolsonaro assumiu o papel de padrinho político do movimento. Então pré-candidato ao Palácio do Planalto, ele disse que só uma paralisação poderia "forçar o presidente da República" a dar uma resposta aos motoristas.

Bolsonaro enxerga as questões econômicas pela lente do caos e das soluções mágicas. Naquela época, ele incentivou um ato que provocaria desabastecimento, acreditando que o governo seria obrigado a baixar o preço dos combustíveis numa canetada. Depois de chegar ao poder, o presidente mostrou que não tem outra doutrina para encarar os problemas que surgem pela frente.

Vinicius Torres Freire - Vai ter CPI das emendas parlamentares do 'Bolsolão'?

Folha de S. Paulo

Lira teme investigação do dinheiro que sela o acordo governo-centrão, diz Calheiros

O senador Renan Calheiros (MDB) disse que o deputado Arthur Lira (PP) está preocupado "com o que pode vir de investigação" sobre um certo tipo de emenda parlamentar, as ditas "emendas de relator".

A fim de garantir dinheiro também para essas emendas, Jair Bolsonaro, Lira e o centrão querem aumentar o gasto federal em 2022 e decretar moratória de parte dos precatórios.

"Isso [emendas de relator] vai causar talvez o maior escândalo do Brasil de todos os tempos", disse Calheiros na semana passada, em nova querela com Lira, seu inimigo em Alagoas.

Calheiros estava falando do quê? Foi apenas canelada ou conhecimento de causa? Essas emendas também são investigadas pelo Tribunal de Contas da União e serão examinadas pelo Supremo. São rolos dentro de rolos.

Bernardo Mello Franco – A Marinha e a chibata

O Globo

A Comissão de Educação e Cultura do Senado aprovou a inscrição de João Cândido Felisberto no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. O marujo morreu há 52 anos, foi anistiado duas vezes e é reconhecido como um ícone da luta contra o racismo. Ainda assim, a Marinha tenta barrar a homenagem.

Filho de escrava, João Cândido liderou a Revolta da Chibata, movimento de marinheiros que parou o Rio em 1910. Os rebeldes tomaram quatro navios na Baía de Guanabara e apontaram os canhões para a cidade. Ameaçavam abrir fogo se as punições físicas não fossem abolidas.

Às vésperas do motim, o marujo Marcelino Rodrigues Menezes havia sido castigado diante da tripulação do encouraçado Minas Gerais. Foi amarrado ao mastro e levou 250 chibatadas.

A rebelião mobilizou 2.379 praças aos gritos de “Viva a liberdade” e “Abaixo a chibata”. Em mensagem ao presidente Hermes da Fonseca, eles protestaram contra a rotina de maus-tratos:

“Pedimos a V. Exª. abolir a chibata e os demais bárbaros castigos pelo direito da nossa liberdade, a fim de que a Marinha brasileira seja uma Armada de cidadãos, e não uma fazenda de escravos que só têm dos seus senhores o direito de serem chicoteados.”

Míriam Leitão - O país candidato a vilão em Glasglow

O Globo

A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, COP-26, começa hoje com o Brasil sendo o mais óbvio candidato a vilão.O país será acusado de violar o Acordo de Paris e, além disso, aumentou suas emissões quando o mundo as reduziu. Os especialistas dizem que nada do que o governo disse até agora faz sentido, porque não existe plano de implementação. A direção da Conferência já disse, reservadamente, a alguns observadores, que se o Brasil não atrapalhar já será bom. Um país na contramão do mundo e da História. A única boa notícia é a ausência de Jair Bolsonaro na reunião de líderes. Assim, não passaremos muita vergonha.

—O Brasil chega como vilão na COP por dois motivos. O primeiro pela pedalada climática que o GAP Report (divulgado pela ONU) deixou claro. Ela permite ao Brasil o aumento das emissões em relação ao que estava acordado. Outra coisa é que o mundo reduziu as emissões em 7%, e o Brasil subiu em 9%. Então esse é o desenho de um vilão. A gente chega como uma caricatura —disse a advogada Stela Herschmann, especialista em políticas climáticas do Observatório do Clima e que está em Glasgow.

Dorrit Harazim - O coral humano

O Globo

Fervilha o mundo da coreografia geopolítica. A cúpula de líderes do G-20, em Roma, engatada na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), em Glasgow, pretende imprimir um sentido de urgência e emergência para os múltiplos problemas que afligem a Terra. Dado o estado de desesperança geral, o noticiário sobre os dois conclaves está sendo caudaloso. E é bom que assim seja, pois, para a humanidade que encerra 2021 com fome, falta de ar e futuro incerto, seria importante poder confiar na existência de um ou mais líderes com visão e maturidade. Difícil. Todos parecem trazer na bagagem poucos remédios, só fardos.

Por sorte, sempre podemos nos abrigar em vozes humanistas que ajudam a não esquecer o ontem e a pensar no amanhã. Assim, foi um bálsamo captar, por mero acaso, uma longa entrevista do dramaturgo Ariel Dorfman ao programa Hard Talk, da BBC de Londres. Dorfman, aos 79 anos, disserta sobre sua condição de cidadão em trânsito entre duas culturas, duas línguas, dois mundos. Nascido na Argentina de pais imigrantes judeus, crescera nos Estados Unidos, mas foi fincar raízes no Chile do presidente socialista Salvador Allende, de quem se tornou conselheiro cultural. Ali desabrochou sua carreira de escritor. Com o golpe militar de 1973, viu seus livros serem banidos e queimados e retornou como exilado aos EUA — justamente o país que havia desempenhado papel crucial para a instalação da ditadura no Chile.

Em parte devido a essas circunstâncias pessoais, acabou se tornando um voyeur que olha o mundo com compaixão. Nestes tempos de nacionalismos em ascensão e muros em profusão, Dorfman explica não precisar pertencer a lugar algum, pois fez da literatura seu lar e da família, amigos e imaginação, suas raízes. “Já vivi momentos de terror absoluto e de alegrias intensas... mas não sou pregador de nada, apenas tenho o privilégio da imaginação. Como intelectual, tenho o dever de fazer perguntas difíceis”, diz o autor da monumental “A morte e a donzela”, peça teatral que leva ao palco apenas uma mulher sentada frente a frente de seu presumível torturador.

José Roberto Mendonça de Barros - Descendo a ladeira

O Estado de S. Paulo

O desarranjo da política econômica solidifica nossa trajetória em direção à estagnação

A semana passada foi um marco em direção à perda de sustentação da economia. O populismo econômico, que já domina a Câmara e o Palácio do Planalto, finalmente conseguiu o aval do Ministério da Economia para quebrar o teto de gastos, com a mentirosa desculpa de que não existe outra forma para ajudar os pobres. Como inúmeros colegas já demonstraram, não existe escassez de boas soluções, como a redução da escandalosa farra do boi com as emendas parlamentares de todos os tipos, especialmente as secretas.

O relevante é que o regime fiscal foi destruído e está aberto o caminho para a volta da elevação do endividamento público, por meio da expansão eleitoreira dos gastos. A primeira rodada atinge algo como R$ 90 bilhões, sendo metade financiada pela redução dos pagamentos de precatórios, por meio de uma PEC específica, e que equivale a um calote parcial da dívida pública. A outra metade resultará da alteração do cálculo do valor nominal do teto, na qual a antiga fórmula (que pegava os 12 meses de inflação terminados em junho) foi substituída pela utilização da inflação no ano corrente.

Celso Ming - Descasamento de objetivos e a COP 26

O Estado de S. Paulo

A Conferência do Clima da ONU (COP 26) que começa neste domingo, em Glasgow, Escócia, está mais carregada de ceticismo do que de boas expectativas.

Os comentaristas já apontaram dificuldades que comprometem seus resultados, como a pandemia, a ausência de importantes chefes de Estado e de governo e a falta de recursos para as iniciativas dos países em desenvolvimento.

Mas nenhuma explicação seria completa se não começar pelo enorme descasamento entre os macro-objetivos da agenda ambiental atual e da COP 26.

O primeiro é o que já foi definido no Acordo de Paris, em 2015, que é de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Essa meta implica drástica substituição da energia de fonte fóssil por energia de fonte renovável. É por isso que a questão climática passa pelo equacionamento da transição energética e também por que as grandes negociações se concentram sobre a maneira de administrar essa transição.

Lourival Sant’Anna - Déficit de liderança generalizado

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro não vai a Glasgow para não enfrentar hostilidade pela imagem de vilão do meio ambiente

A Conferência sobre Mudança Climática (COP26) é um teste de liderança. É papel dos governantes convencer as populações de que os sacrifícios para conter o aquecimento hoje são necessários para evitar sofrimento maior no futuro. Entretanto, a COP-26 começa com um déficit de liderança generalizado.

O presidente dos EUA, Joe Biden, não conseguiu, antes de viajar, desatar o nó dentro da própria bancada democrata para encaminhar a aprovação na Câmara do pacote de US$ 1 trilhão para infraestrutura convencional, que por sua vez abriria caminho para a apreciação dos programas sociais e ambientais no valor de US$ 1,75 trilhão – reduzido à metade do montante inicial de US$ 3,5 trilhões.

O presidente da China, Xi Jinping, nem sequer vai à conferência, por causa das múltiplas crises que enfrenta em casa: escassez de energia – causada em parte pela brusca redução do uso do carvão –, estouro da bolha do setor imobiliário e desaceleração econômica. Vladimir Putin também ficará em Moscou, para enfrentar o surto de covid-19, que está mais uma vez fora de controle na Rússia.

Cristovam Buarque* - Coalizão Responsável

Blog do Noblat / Metrópoles

Os representantes da chamada “terceira via” precisam entender que este não é um tempo de Nem Nem, mas de Não

Nesta semana, a terceira via apresentou seu 12º candidato à presidência da república, com poucas intenções de voto e sem apresentar narrativas do que propõem para seus governos. Não se vê a construção de um nome que possa enfrentar os dois polos e nenhum projeto que possibilite minimamente conduzir o país à partir de 2023. Tampouco se percebe estratégia no sentido de uma composição entre todos que se opõem a reeleição do atual desgoverno, e tudo que isto representaria para o futuro do país.

A sensação é que o quadro político se divide em três sectarismos: petistas, bolsonaristas e nem-nemistas, estes fragmentados, até aqui, em 12 partes. A divisão e recusa dos nem-nemistas para dialogar com o PT só se explica pela possibilidade de Bolsonaro ser excluído do segundo turno. Alternativa que parece pouco provável. Contar com isto é uma irresponsabilidade que precisa ser evitada.

Dificilmente qualquer dos 12 fragmentos da terceira via chegará ao segundo turno sem apoio do PT, e outra vez poderá ser difícil ao PT ganhar no segundo turno sem apoio explícito dos candidatos contrários ao Bolsonaro. Além disto, não será bom para o Brasil ser governado pelo PT sem apoio das demais forças democráticas responsáveis. Mas o silêncio do PT em relação à unidade no primeiro turno e à coalizão depois da eleição leva os democratas brasileiros temerem que 2022 repita 2018, e o PT perca a eleição por falta de apoio das demais forças, ou repita 2014, e o governo do PT se perca por falta das correções de rumo que permitam governar. Em 2018 o PT perdeu por falta de apoio, em 2014 por falta de coalizão responsável. O clima de antagonismo que se está vivendo e vai se agravar durante o primeiro turno pode inviabilizar aliança no segundo turno, levando à continuação da tragédia do atual desgoverno, e ao risco de um governo do PT fragilizado e radicalizado.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

O que o Brasil tem a ganhar com o sucesso da COP-26

O Globo

De hoje até dia 12 de novembro, a cidade de Glasgow, na Escócia, receberá a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26). Todos aqueles que reconhecem a importância do aquecimento global, mas acompanham o tema à distância têm pelo menos dois bons motivos para prestar mais atenção desta vez. Primeiro, é possível que sejam tomadas decisões históricas, uma vez que grandes potências parecem convencidas da necessidade de avanço nas negociações rumo ao corte nas emissões. Segundo, o Brasil poderá ser um dos maiores beneficiários da evolução de uma economia global de baixo carbono.

Ao fim do encontro, ficará evidente quais países fazem parte da solução e quais querem continuar sendo problema. Desgraçadamente, há um risco nada desprezível de que o Brasil, sob o governo de Jair Bolsonaro, seja incluído no segundo grupo. A última evidência veio à tona na semana passada, quando o Relatório sobre Lacuna de Emissões 2021 confirmou que o governo brasileiro tenta usar uma manobra contábil para, numa “pedalada climática”, aumentar as emissões de gases causadores do efeito estufa até 2030, em vez de reduzi-las no ritmo com que o país se comprometera antes.

Há um problema de fundo. Bolsonaro comunga a ideia retrógrada do tempo da ditadura militar, acreditando que a soberania sobre as áreas de floresta só pode ser exercida por meio de destruição e ocupação. Isso explica a vida fácil de grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegais no seu governo. Se for essa a diretriz a nortear a delegação brasileira ao chegar em Glasgow, é certeza que perderemos uma grande chance.

Poesia | Graziela Melo - Apito final

Silêncio

na alma

medo

no coração!

É

o ponto

final,

a ultima

estação

   dos que

   nascemos

   juntos,

dos que

vivemos

juntos,

da nossa

geração!

O jogo

Acabou,

o juiz

apitou,

sem

prorrogação...

Se foram

os amores

tardios

ficaram

os

recantos

vazios

e

a solidão!!!