terça-feira, 16 de novembro de 2021

Merval Pereira - A mesma linguagem

O Globo

A demonstração exemplar de que o presidente Bolsonaro já não é mais o mesmo está contida na discussão virtual de baixo calão que teve com seu grande líder político Valdemar da Costa Neto, dono de fato e direito do Partido Liberal (PL). Estou falando do ponto de vista de poder, e não de ideologia, pois Bolsonaro, como admitiu recentemente, sempre foi do Centrão, embora figura do baixo clero que nunca teve expressão política nos nove partidos dos quais já fez parte.

Não é mais o mesmo porque não encontra uma legenda que aceite suas condições, e nem conseguiu criar a sua própria, num quadro partidário que tem mais de 35 partidos em ação, e outros tantos pedindo registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com o PSL, seu último  partido, por cuja legenda elegeu-se presidente da República, a briga foi pelo butim partidário. Junto com o PT, o PSL é o partido mais rico com os fundos partidário e eleitoral, graças ao tsunami eleitoral liderado por Bolsonaro em 2018.

Míriam Leitão - Mil e uma mentiras nos países árabes

O Globo

O que leva esse governo a repetir mentiras com tanta frequência, e de tão forma compulsiva? Ontem, em apenas uma apresentação em Dubai, foi uma sucessão de falsidades. A Amazônia não pega fogo porque a floresta é úmida, mais de 90% dela permanece como estava em 1500, os ataques que o governo sofre quando se fala de Amazônia são injustos, disse o presidente Jair Bolsonaro. O Brasil está crescendo acima da média mundial e mesmo na recessão de 2020 criou emprego, disse o ministro Paulo Guedes. Os fatos: o governo Bolsonaro estimulou a grilagem e o desmatamento na Amazônia e, por isso, a destruição da floresta voltou a superar 10 mil km2 por ano e tem tido recorde de focos de incêndio. Na economia, o Brasil terá um PIB positivo este ano, mas abaixo da média mundial. No ano que vem, o mundo crescerá forte e o Brasil ficará estagnado. E não, o país não criou emprego no ano passado. Ao contrário, em 2020 houve destruição de empregos como registram as estatísticas do IBGE.

É cansativo, toma tempo, ficar desmentindo o que dizem os integrantes deste governo em qualquer área. O hábito da mentira que sempre acompanhou Bolsonaro, em sua vida pública, contaminou o governo. Os ministros em geral se comportam à moda Bolsonaro, repetindo afirmações falsas, totalmente descoladas da realidade.

Carlos Andreazza - Aprendeu-se nada

O Globo

Sergio Moro apenas formalizou, pela via partidária, atividade política que remonta a seu tempo de juiz. Atividade política de um tecnocrata que — autoritário como Bolsonaro — despreza a atividade política; razão por que sua militância teve efeito quando era magistrado, lugar desde o qual explorou as tintas arbitrárias da caneta, e não quando ministro de Estado, circunstância em que ficaram evidentes suas inconformidades para com a lógica representativa da democracia liberal.

Nenhuma novidade aqui. É a parte vista, porção pequena, de um homem público cuja atuação na Lava-Jato associou-se — contra o Estado de Direito — à dos procuradores. Mais um que quer ser presidente da República pedindo votos sob argumentos panfletários, que generalizam para criminalizar os outros eleitos com quem teria de governar. O produto está aí.

Há muita gente, sem ter aprendido coisa alguma, mergulhando na candidatura Moro. Um desconhecido. Como Witzel. “Desconhecido? Ele está na janela desde 2014. Todo mundo sabe quem é Moro.” Sabe? Que se diga, então, uma só ideia dele que não relativamente ao fetiche do “combate à corrupção”. Porque tratamos de alguém que seria candidato a presidente; e não a justiceiro-geral da República.

Luiz Carlos Azedo - Federação de partidos complica as alianças regionais de Bolsonaro

Correio Braziliense

O projeto político nacional se imporá às alianças regionais e provocará intensa troca de partido, em razão do alinhamento aos governadores e da sobrevivência eleitoral

A grande novidade nas eleições do próximo ano será a formação de federações partidárias, de caráter nacional e duração de pelo menos quatro anos, o que está complicando a vida do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição. Sua filiação ao PL, de Valdemar Costa Neto, por exemplo, subiu no telhado, porque a aliança do político paulista em São Paulo é com o candidato do PSDB a governador, Rodrigo Garcia. Mas não é somente isso. A formação de frentes partidárias exige mais nitidez em relação ao projeto nacional, o que complicou também a relação de Bolsonaro com o Centrão, a fortaleza patrimonialista e oligárquica, porque uma parte do seu eleitorado rejeita essa aliança e começa a migrar para a pré-candidatura do seu ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que se notabilizou como juiz da 13a Vara Federal de Curitiba, com a Operação Lava-Jato, por ter condenado à prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A tendência é a formação de quatro ou cinco blocos partidários. A mudança parecia um retrocesso, por facilitar a vida dos pequenos partidos em dificuldades para montar chapas proporcionais nos estados, capazes de ultrapassar o quociente eleitoral (votação mínima para eleger um candidato, cujo cálculo é a divisão do número de votos válidos pelo número de vagas de cada estado); agora, estamos vendo que a formação de federações pode ser um avanço no sentido de dar mais nitidez aos projetos nacionais, pois o eixo de formação desses blocos políticos são as candidaturas à Presidência da República. Por enquanto, o bloco com mais nitidez é o formado pelo ex-presidente Lula, que articula uma “frente ampla”, nucleada por aliados tradicionais do PT: PSB, PSol e PCdoB.

Hélio Schwartsman - O preço da reeleição

Folha de S. Paulo

Os estragos que o vandalismo presidencial provoca não seguem uma escala linear

O Brasil aguenta a reeleição de Bolsonaro?

Há turbulências à vista em nosso horizonte econômico e acho que elas serão poderosas o bastante para fazer com que nos livremos de Jair Bolsonaro em 2022. Isso dito, é bom lembrar que o futuro é contingente e que uma das mais sólidas lições que a ciência política nos ensina é a de que presidentes que disputam a reeleição nunca podem ser dados como carta fora do baralho. Na verdade, a vantagem que o cargo lhes dá é de tal magnitude que perder o pleito é mais a exceção do que a regra. A chance de êxito na conquista do segundo mandato é de mais de 80%.

Cristina Serra - Moro, a fraude

Folha de S. Paulo

Ex-juiz e Bolsonaro se igualam na mesma inclinação totalitária

Eis que Sérgio Moro reaparece, com o messianismo e o discurso justiceiro de sempre, transbordantes no seu retorno aos holofotes. Moro exercitou as cordas vocais e estudou pausas teatrais, tentando dar alguma credibilidade ao estilo "corvo" moralista, atualizado para o século 21, só que sem a capacidade retórica do modelo original, o udenista Carlos Lacerda.

O erro de Moro é achar que o Brasil ainda está em 2018 e que vai votar em 2022 movido pelo ódio, por ele estimulado quando conduziu a Lava Jato. No processo que levou à condenação do ex-presidente Lula, o então juiz rasgou o devido processo legal e a Constituição. Isso não é versão nem narrativa. É o entendimento consagrado pelo STF, que o considerou um juiz suspeito.

Joel Pinheiro da Fonseca - Sergio Moro é a terceira via?

Folha de S. Paulo

Se ele tem consistência para ir além do mero símbolo, os próximos meses dirão

Sergio Moro surgiu na semana passada como um dos principais nomes da possível terceira via na centro-direita. Surpreendeu com seu discurso no ato de filiação ao Podemos. De onde nada se esperava, veio algo, não extraordinário, mas competente e que falou de prioridades nacionais.

Acima de tudo, Moro representa o combate à corrupção. Críticas legítimas à parte, a Lava Jato colocou atrás das grades criminosos de colarinho branco graúdos. Políticos, empresários, banqueiros. Não é normal ver indivíduos tão poderosos pagando por seus crimes.

Partidos políticos saquearam estatais e cobraram propina de empresas privadas numa escala nunca antes vista. Tudo isso foi real, assim como são reais os bilhões devolvidos ao Estado brasileiro. Para todos aqueles que não aderem ao negacionismo e a teorias da conspiração para proteger algum político ou partido, esses feitos foram positivos.

Eliane Cantanhêde - Bolsonaro em Dubai, sem noção e sem limite

O Estado de S. Paulo

Depois da ONU, das lives e do cercadinho, Bolsonaro agora mente em Dubai

Não bastassem os vexames na Europa, com ausência na COP 26, inutilidade no G-20 e agressão a manifestantes na Itália, o presidente Jair Bolsonaro mente, com um sorriso sem graça, em Dubai, numa viagem de uma semana aos Emirados Árabes.

Para espanto geral, o presidente brasileiro disse que a Amazônia é uma floresta úmida que não pega fogo e está igualzinha desde 1500. Para piorar, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse na maior cara dura que o Brasil “cresce acima da média”.

Peguem os dados do Inpe, um instituto público, e do Observatório do Clima, que é independente, e a verdade está toda lá: as queimadas e o desmatamento da Amazônia (e não só) são os piores em muitos anos.

Se tiverem paciência e estômago, também vão ver que as multas ambientais despencaram com Bolsonaro, para alegria de grileiros e criminosos e profunda tristeza de quem se preocupa com Amazônia, florestas, ambiente e planeta.

Antonio Corrêa de Lacerda* - O paradoxo dos juros no Brasil

O Estado de S. Paulo

Pressão inflacionária atual se caracteriza nitidamente num choque de oferta, e não de excesso de demanda

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, na sua reunião passada, acelerar o ritmo de aumento da taxa Selic para 1,5 ponto. Agora em 7,75% e com nova perspectiva de elevação da mesma dimensão em dezembro, a taxa se aproxima rapidamente dos dois dígitos, antiga saga brasileira.

A questão da taxa de juros básica no Brasil representa um expressivo paradoxo, especialmente em face da situação em curso: diante da prevalência do regime de metas de inflação e da inoperância de outros instrumentos de combate à inflação, o aumento da Selic se torna uma aparente alternativa única, com custos econômicos e sociais dramáticos.

A pressão inflacionária recente tem “nome e endereço”. O aumento das cotações das matérias-primas, especialmente petróleo e grãos (commodities), no mercado internacional, associado à desvalorização do real, tem pressionado os preços domésticos dos combustíveis, do gás de cozinha e da alimentação, entre outros.

Andrea Jubé - Sobre tirar as meias com o sapato nos pés

Valor Econômico

Valdemar disse a Lula que não punirá quem optar pelo PT

Um presidente de partido, que está em campo desde os tempos dos acordos firmados e cumpridos no fio do bigode, disse à coluna estar perplexo diante de tantas patacoadas protagonizadas pelos principais atores da política nacional.

Um exemplo de amadorismo para este decano da política são os apupos entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, depois que o mandatário anunciou o “casamento” com legenda.

Outro fato digno de reprimenda seria a negociação à luz do dia para levar o tucano Geraldo Alckmin para o PSB, e torná-lo companheiro de chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma das mais inusitadas acrobacias políticas da história recente.

Para este dirigente partidário, de tão sensíveis, esses movimentos deveriam ser conduzidos detrás das coxias. Aumentariam as chances de serem bem sucedidos se alinhavados na surdina.

“Publicar passo a passo nos jornais gera ruídos e atrapalha”, criticou este veterano. Ele pondera que as atuais lideranças políticas deveriam seguir a cartilha das velhas raposas.

Maria Clara R.M. do Prado - Inflação é ruim, mas é pior no Brasil

Valor Econômico

A péssima distribuição de renda é um dos motivos que fazem a inflação ter efeito pior no país em comparação com outros

Confrontada com uma inesperada e acelerada taxa de inflação, a sociedade brasileira vê-se diante de uma grande incógnita: até quando e até quanto vai o atual processo de aumento dos preços?

A pergunta é difícil de responder, pois a única certeza que se tem hoje é de que o preço a pagar implica sacrificar o PIB de 2022. Não à toa, as previsões de crescimento para o ano que vem caíram para abaixo da marca de 2% e isso deveria acender um sinal de atenção, pois deixa no ar a incerteza sobre a reação do governo diante de uma provável queda de popularidade em um ano de eleições.

Ou seja, do ponto de vista político institucional o horizonte de curto e de médio prazos revela-se absolutamente nebuloso. Do ponto de vista econômico, as mais pessimistas previsões poderão ser atenuadas pela melhoria das condições que têm afetado os preços da energia e o fornecimento de matérias-primas que atrapalham o processo produtivo.

Pedro Cafardo - Daria para aliviar o custo da pandemia para pobres

Valor Econômico

Sistema voluntário de pagamento de vacina seria possível, mas governo negacionista é um dos entraves

São tão vergonhosas certas decisões tomadas no Brasil, como a aprovação da “PEC do Calote” na semana passada, que muita gente se vê tentada a desistir de participar do debate público.

Com tantas maldades, omissões e negacionismos governamentais, a palavra solidariedade, muito escrita e pronunciada no início da pandemia, está quase esquecida. O uso político-eleitoral de recursos públicos ficou tão explícito que falar em solidariedade sugere hoje mais ingenuidade do que bondade.

Apesar disso, vamos em frente: a carga dos custos da vacinação contra a covid-19 poderia ser menos desigual. Achamos bonito quando empresários, artistas, atletas e outras figuras famosas entraram na fila da vacinação e divulgaram suas fotos com mangas arregaçadas.

Essa exposição pública, sem dúvida, incentivou e incentiva as pessoas a tomar a vacina, única forma de combater a pandemia e promover a retomada da economia.

É constrangedor observar, porém, que essas pessoas ricas e famosas tomaram “de graça” suas vacinas. O “de graça” está entre aspas porque ricos, como todos os brasileiros, são pagadores de impostos - esqueçamos aqui a carga tributária desigual - e têm o direito à vacina, naturalmente. Mas não é preciso fazer pesquisa para saber que dezenas de milhões de brasileiros, das classes altas e médias, não apenas ricos e famosos, concordariam em pagar pelas suas imunizações. Em tempo, não estamos falando em furar fila.

Mirtes Cordeiro* - 132 anos de uma República aviltada, mas resiliente

Falou e Disse (15/11/2021)

Alguns mantêm a esperança e a crença de que um dia seremos um país sério.

Já se foram 132 anos, mais de um século que o Brasil se tornou uma república através de um golpe militar encabeçado pelo marechal Deodoro da Fonseca, que conduziu o primeiro governo provisório, após a proclamação da República, no período de 1889 a 1891.

O Marechal era um defensor da monarquia e considerado herói da guerra contra o Paraguai, mas promoveu o ato movido por várias questões que pressionavam pelo fim da monarquia, como a interferência da monarquia nas questões eclesiásticas, as insatisfações dentro do Exército – especialmente entre as chamadas baixas patentes – as insatisfações dos fazendeiros com a abolição da escravatura e as insatisfações de uma classe média emergente que não encontrava espaço de participação política.

Alguns historiadores falam que a população mais humilde era a favor da monarquia por conta da abolição da escravatura, ainda que o ato de abolição não tenha incorporado um projeto de país que abrigasse a população negra em políticas públicas para inclusão socioeconômica e para o exercício da cidadania com dignidade.

Naquele momento, no Brasil, crescia a cafeicultura e o desenvolvimento do processo de industrialização. O país já havia iniciado também o processo de imigração de famílias trabalhadoras da Europa, motivadas pelas atrações do novo mundo, mas sobretudo pela fome em seus países.

Sobre a proclamação da República, Eduardo Bueno, em postagem de 2017, diz o seguinte: “O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi reafirmado com a proclamação civil de integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao contrário do que aparentou, a proclamação foi consequência de um governo que não mais possuía base de sustentação política e não contou com intensa participação popular. Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo, a proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de forma bestializada.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Fernández em xeque

Folha de S. Paulo

Presidente argentino vê oposição fortalecida e fratura em coalizão após eleições

O desempenho dos peronistas aliados ao presidente argentino Alberto Fernández nas eleições legislativas foi melhor do que prenunciavam as primárias, em setembro. Ainda assim, o pleito configurou derrota dos governistas e mostrou a insatisfação dos votantes com a condução do país vizinho.

Pela primeira vez desde 1983, o peronismo perdeu o controle do Senado, o que certamente tornará ainda mais complexa a tarefa de administrar pelos próximos dois anos uma crise já profunda.

Os eleitores foram às urnas no domingo (14) com a finalidade de renovar um terço do Senado e metade da Câmara. A coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio, do ex-presidente Mauricio Macri, avançou e se fortaleceu para as eleições presidenciais de 2023.

Deve garantir 31 cadeiras no Senado, ante 35 da aliança governista Frente de Todos —que perdeu 6 postos— e 6 de outros partidos.

Na Câmara, a vantagem da agremiação de Macri foi menor, mas a oposição venceu uma corrida apertada na província de Buenos Aires, tradicionalmente peronista.

O presidente deve se ver obrigado a fazer concessões à oposição na difícil renegociação da dívida de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que precisa ser aprovada pelo Legislativo.

Ao mesmo tempo, precisa lidar internamente com o grupo da vice-presidente Cristina Kirchner, mais à esquerda, que quer a manutenção de gastos sociais diante do ajuste fiscal defendido pelo ministro da Economia, Martín Guzmán.

Poesia | Ferreira Gullar - A alegria

O sofrimento não tem 
nenhum valor 
Não acende um halo 
em volta de tua cabeça, não 
ilumina trecho algum 
de tua carne escura 
(nem mesmo o que iluminaria 
a lembrança ou a ilusão 
de uma alegria).

Sofres tu, sofre 
um cachorro ferido, um inseto 
que o inseticida envenena. 
Será maior a tua dor 
que a daquele gato que viste 
a espinha quebrada a pau 
arrastando-se a berrar pela sarjeta 
sem ao menos poder morrer?

A justiça é moral, a injustiça 
não. A dor 
te iguala a ratos e baratas 
que também de dentro dos esgotos

espiam o sol 
e no seu corpo nojento 
de entre fezes 
querem estar contentes. 
- Ferreira Gullar, em "Na vertigem do dia", 1980