domingo, 19 de dezembro de 2021

Luiz Sérgio Henriques*: As palavras e o tempo

O Estado de S. Paulo

Não subsistem otimismos fáceis nem se pode contar com horizontes finais que resistam às ‘duras réplicas da História’

Complexo e contraditório como é, todo tempo histórico convida a conceitos-síntese que, mesmo parciais e sumários, algum fragmento de verdade sinalizam e, de um modo ou de outro, respondem a uma necessidade imediata do espírito.

Há duas gerações, com o “socialismo realmente existente” assentado numa parte extensa do mundo e os processos de descolonização, poucos discordariam de Jean-Paul Sartre, para quem o marxismo – designado assim mesmo, sem nuances – seria o horizonte insuperável da época. As revoluções se seguiriam como num jogo de dominó e as gestas do romantismo revolucionário não se deteriam com a morte de Guevara, antes se multiplicariam em mil Vietnãs. A “metrópole” capitalista estaria sob o assalto da classe operária ou, então, cercada pelo “campo” global.

Algumas décadas depois, o espírito do tempo se inverteria. As reformas de Gorbachev chegaram tarde demais e as palavras que ele trouxera, como a glasnost ea perestroika, logo perderam o viço. Talvez tenham facilitado a implosão relativamente pacífica do anquilosado país dos sovietes – o que não foi pouco, dado o arsenal atômico ali acumulado –, mas o fato é que desapareceram sem deixar rastro, tal como o marxismo genérico antes anunciado pelo filósofo existencialista.

Merval Pereira: Inventar a própria roda

O Globo

A falta de opções na disputa presidencial pode ser definida pela atual situação refletida nas pesquisas de opinião, especialmente as das empresas mais bem equipadas, IPEC (ex-Ibope), e Datafolha. O brasileiro votou em Bolsonaro para tirar o PT, e está votando no ex-presidente Lula para tirar Bolsonaro do governo. Não apareceu alternativa, a famosa terceira via, que permita acabar com esse jogo de empurra de um lado para outro, que acaba dando errado.

Sempre estamos escolhendo o “menos ruim”, que se revela posteriormente inevitavelmente ruim. Desde a redemocratização, só elegemos candidatos populistas, como Collor, Lula, Dilma, Bolsonaro. Com exceção do Plano Real que elegeu Fernando Henrique Cardoso, que não foi feito para ser populista, mas atingiu o bolso dos cidadãos ao conter a hiperinflação. Já havíamos tido uma experiência anterior com o Plano Cruzado, que, ao derrubar a inflação temporariamente, deu a vitória ao MDB de Sarney em todo o país.  

O diretor do DataFolha, Mauro Paulino, diz que o eleitor vota pragmaticamente, naquele que vai ajudá-lo no sofrido dia a dia. A prioridade do brasileiro médio é o bolso e a sobrevivência, e essa situação hoje está muito agravada. Cerca de 15 milhões de brasileiros estão desempregados, a inflação dos mais pobres já ultrapassa os 10% da inflação oficial, 27 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza, cerca de 50 milhões são tecnicamente pobres, a fome nos dá diariamente exemplos terríveis de gente disputando ossos com resto de carne e famílias inteiras morando nas ruas das grandes cidades.

Bernardo Mello Franco: O Natal de Guedes

O Globo

Quando menos se espera, chega o Natal. E com ele, os inevitáveis balanços de fim de ano. Na sexta-feira, Paulo Guedes apresentou o seu. Vendeu um país imaginário, onde a economia decola e a democracia vive um momento de esplendor. “Se eu tivesse que fazer uma síntese de 2021, eu diria que o Brasil se reergueu”, proclamou o ministro. Era só o começo de uma sessão de duas horas e meia de autoelogios.

Com a economia em recessão técnica, Guedes fez mais um discurso triunfalista. “As previsões de que o Brasil ia dar errado falharam. O país está de pé”, disse. Ele insistiu na tese da retomada em V, que nunca se confirmou nos números oficiais. “A economia voltou em V. Não era um V de virtual”, garantiu. Na véspera da entrevista, o Banco Central reduziu para 1% a previsão de crescimento em 2022.

Míriam Leitão: Difíceis escolhas do possível governo Lula

O Globo

O ex-presidente Lula encontrou o campo arado em 2003 e se beneficiou de um boom de commodities. Mas isso não tira dele os méritos de decisões acertadas na economia. Se ele voltar ao poder, a dúvida que se tem é como será sua condução da economia. Nesse aspecto, a possível dobradinha com o governador Geraldo Alckmin é uma espécie de “carta aos brasileiros 2.0”, ou seja, um aceno ao centro. Se naquela época era importante agradar ao mercado, agora o sinal é para o centro de uma forma geral.

Os petistas popularizaram a expressão “herança maldita” para firmar a lógica daquele tempo que era o da polarização PT-PSDB. Mas o lema não correspondeu à realidade. O governo Fernando Henrique tinha consolidado a estabilização, enfrentado a crise bancária, saído da âncora cambial e instituído as metas de inflação. Depois disso aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal e entregou o país com superávit primário. O país estava preparado para crescer em 2003.

Todo esse trabalho se perderia se o ex-presidente Lula não tivesse tido a sabedoria de manejar a economia com a manutenção das bases do real e a nomeação do recém-eleito deputado Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central, que teve independência para agir.

O dólar havia disparado diante da incerteza em relação à política econômica que o novo governo adotaria. Essas decisões de política econômica no início do mandato reverteram o quadro e provocaram a queda do dólar e a redução da inflação. E aí veio um longo boom de commodities. E de novo a política econômica adotada pelo governo petista foi sábia: acumulou reservas cambiais. A Argentina, por exemplo, não teve a mesma sabedoria.

Carlos Pereira*: Lula anabolizado

O Estado de S. Paulo

A alta aversão a Jair Bolsonaro tem turbinado a candidatura de Lula

No momento atual da corrida presidencial, o melhor panorama para que um(a) candidato(a) da terceira via alcance viabilidade eleitoral é a disparada de Lula nas pesquisas e a sinalização de que ele já venceria no primeiro turno.

Esse cenário produziria a percepção cada vez mais nítida de que Bolsonaro seria incapaz de derrotá-lo, o que levaria a uma desagregação ainda maior da base de eleitores do presidente e a uma progressiva desidratação de sua candidatura à reeleição.

A maioria dos eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 não nutre conexões com o perfil conservador do presidente. Na realidade, eles são essencialmente pragmáticos. Apoiaram Bolsonaro na expectativa de que seu governo ofertasse o que de fato lhes interessava: políticas econômicas liberais, combate à corrupção e, principalmente, contenção do petismo. O governo Bolsonaro, especialmente na gestão da pandemia e da economia, frustrou profundamente tais expectativas, o que tende a levar esses eleitores antilulistas a considerar alternativas.

Eliane Cantanhêde: Quem ‘ripa’ poderá ser ‘ripado’

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro ‘ripou’ quem lhe desagradou e está sendo ‘ripado’ pelo eleitor

Ao assumir a Presidência, uma das primeiras providências de Jair Bolsonaro foi punir o fiscal do Ibama que o multou por pesca ilegal em santuário ecológico. Uma mesquinharia e o prenúncio de que estava disposto a fazer o que bem entendesse, impor suas próprias convicções e visões de mundo e usar os instrumentos de poder em favor dele e dos filhos, amigos e aliados e contra quem lhe desagradasse.

Não sossegou até tirar o delegado Maurício Valeixo da direção-geral da PF e o ex-juiz Sérgio Moro do Ministério da Justiça. Moro, bem mais popular do que ele, não admitia a ingerência política do presidente na PF, órgão de Estado, armado e responsável por investigações, logo, autônomo por definição.

Valeixo foi apenas a vítima mais lustrosa na PF. Remoendo desde 2018 a antipatia pelo primeiro delegado responsável por sua campanha, Bolsonaro tratou de afastá-lo ao descobrir, no tenso 7 de Setembro, que ele ocupava uma função chave na PF, onde a lista de perseguidos é grande.

Celso Ming: A economia sob novo impacto

O Estado de S. Paulo

Os cientistas ainda não dominam as características da nova variante da covid-19, a Ômicron. Sabem que se espalha rapidamente e que produz sintomas mais leves, mas seu nível de letalidade ainda segue em análise. Também pouco se sabe até que ponto as vacinas são eficazes para controlá-la e se os plenamente vacinados estão imunes a ela.

A partir destas incertezas, as consequências sobre a economia do mundo e do Brasil também estão envolvidas em mais incertezas. No entanto, pelo sim ou pelo não, na semana passada, três dos maiores bancos centrais do mundo decidiram fazer o que está a seu alcance.

As autoridades sanitárias de muitos países já começam a restringir não apenas viagens internacionais, mas, também, aglomerações de pessoas. Muitos analistas acreditam que, outra vez, a recuperação da atividade econômica será contida por três fatores: pela necessidade de manter funcionários em casa; por novas paralisações ou retardamentos nos fluxos globais de mercadorias, que, por sua vez, podem atrasar a chegada de matérias-primas e produtos intermediários às linhas de produção; e pela redução do ritmo de contratação de mão de obra.

Elio Gaspari: Uma santa vitória dos evangélicos

O Globo / Folha de S. Paulo

Os bons costumes nacionais devem à boa parte da bancada evangélica da Câmara um grande serviço. Ela travou a trama que pretendia legalizar o jogo em Pindorama. À primeira vista, o que havia era apenas um truque do presidente da Câmara, Arthur Lira, levando ao plenário no escurinho de Brasília um velho projeto, que legaliza os jogos de azar e permite a reabertura de cassinos, chamando-os de resorts. O filé mignon e o pote de veneno dessa inciativa estão na abertura dos cassinos. Por trás de uma panaceia arrecadatória e turística, há muito mais.

Aos fatos:

Em maio de 2018, entrando pela cozinha do Copacabana Palace, o candidato a presidente Jair Bolsonaro e o economista Paulo Guedes se encontraram com o bilionário americano Sheldon Adelson. Ele veio ao Brasil com dois objetivos: obter a promessa da instalação da embaixada brasileira em Jerusalém e tratar da abertura de cassinos em cidades turísticas. Adelson, grande financiador do partido Republicano nos Estados Unidos, tinha cassinos em Las Vegas, Singapura e Macau.

O jabuti andou. Em dezembro daquele ano, o então prefeito do Rio, Marcelo Crivella, defendeu a criação de um complexo hoteleiro com cassino no Porto Maravilha. Meses depois, já na presidência da República, Bolsonaro informou: “Não quero adiantar aqui. Brevemente, estará sendo apresentado aos senhores um projeto que, com todo o respeito ao Paulo Guedes, a previsão é de termos dinheiro em caixa maior do que a reforma previdenciária em dez anos”.

Nas contas dos amigos do jabuti, os cassinos poderiam render à Viúva até R$ 18 bilhões em arrecadação. Bolsonaro teria discutido o assunto num de seus encontros com o presidente americano Donald Trump, dono de cassinos na sua terra.

Janio de Freitas: O povão fala, os papagaios ouvem

Folha de S. Paulo

Não é simples aceitar que metade do empresariado veste-se mentalmente de papagaio

Difícil saber se mais impressionantes foram as pesquisas Ipec e Datafolha, duas bombas com intervalo de 48 horas, ou as explosões de excitação que disseminaram entre a euforia e o aturdimento, o alívio e o susto. Dos próprios pré-canditatos não pôde sair recepção diferente, com certeza. O que faz esperáveis, para breve, modificações em várias campanhas e, daí, na configuração da disputa de Bolsonaro para baixo.

Os dados mais eloquentes das pesquisas cabem ao ex-presidente Lula e os mais críticos são de Moro, em inversão da adversidade que o perseguidor impôs ao perseguido no frente-a-frente anterior. O dado mais forte, igual nas duas pesquisas, está nas citações espontâneas, em que o eleitor menciona o preferido sem consultar a lista oferecida. Moro tem aí a preferência de não mais do que 2%. Situação pouco observada e, no entanto, acachapante para alguém tão conhecido (por 88%, no Datafolha) e celebrado pela imprensa e a TV.

Se também nos seus domínios ideológicos, os estados do Sul, o melhor índice de Moro foi o de 13% gaúchos, nisso Doria encontrou esperanças e Bolsonaro achou mais uma ilusão. As duas pesquisas pulverizaram a convicção generalizada de que o Sul seria absoluto pró-Moro. Ainda poderá ser, mas à custa de empenhos que outros também poderão fazer, Doria em particular.

A compaixão pelo país permite arriscar que, entre os 47% de empresários da ultradireita, não faltem abalados pelas pesquisas. Não é simples aceitar que metade do empresariado veste-se mentalmente de papagaio como Luciano Hang. É o sectarismo incapaz até da memória, ou da honestidade, de reconhecer os ganhos de todo o empresariado com a melhoria da vida em geral no governo Lula, razão dos extraordinários 82% de aprovação ao fim do mandato.

Vinicius Torres Freire: Eleitor de Lula não é mais aquele

Folha de S. Paulo

Memória do período luliano não explica eleitor e opções de um país que mudou muito

A memória dos oito anos bons de Lula dá votos bastantes para o petista ficar na liderança das pesquisas, de longe, ainda mais porque os últimos oito anos foram de um empobrecimento que agora se degrada em miséria, desespero e destruição. É o que diz o lugar-comum, em parte de obviedade razoável.

Mas quem de fato se lembra ou tem condições de se lembrar dos anos lulianos? Lembra-se em quais termos? Por que o passado seria necessariamente mais relevante do que a promessa ou a excitação de uma novidade? A novidade até pode ser Lula, mas não é essa a questão.

O eleitorado não é um conjunto estável de pessoas de vida eterna ou de experiências imutáveis. Cerca de 31% dos eleitores que poderão ir às urnas em 2022 não tinham idade para votar em Lula 2, em 2006. Quase 23% do eleitorado de 2022 não terá tido idade legal para votar em Dilma Rousseff 1 (2010).

Claro que o eleitor mais jovem tem uma ideia de Lula, de lembranças juvenis ou mesmo infantis até interpretações que se formaram em conversas com família e amigos; no trabalho, em algum tipo de associação, no debate político. Aliás, esse é também o caso também do eleitor mais velho, embora em outra chave, pautada por uma experiência mais direta da vida naqueles anos.

Bruno Boghossian: Uma campanha em dois tempos

Folha de S. Paulo

Nenhum sentimento parece mover o eleitor com tanta intensidade agora quanto o repúdio ao presidente

O antibolsonarismo se firmou como a principal marca desta pré-campanha ao Planalto. Nenhum sentimento político parece mover os eleitores com tanta intensidade, até aqui, quanto a rejeição a Jair Bolsonaro.

Quando um presidente disputa a reeleição, a pergunta que inicia o processo de definição do voto é: ele merece continuar no cargo? Nas contas apresentadas pelo Datafolha, há um sonoro "não" na cabeça do eleitor.

Seis em cada dez entrevistados dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum. No primeiro turno, ele tem só 22% das intenções de voto. No segundo, alcança no máximo 34%.

Hélio Schwartsman: A loteria genética

Folha de S. Paulo

Embora se pense os genes como determinantes, seu efeito sobre a maioria das características que nos interessam é muito mais probabilístico

O morticínio e as iniquidades provocados por ideias supostamente científicas sobre genes e raças são conhecidos. Em boa medida por causa desse histórico sombrio, a esquerda passou as últimas décadas ignorando, quando não combatendo, pesquisas no campo da genética humana, particularmente da genética comportamental. Não é uma estratégia particularmente brilhante.

Um dos maus hábitos da realidade é que ela não vai embora só porque você não gosta dos resultados que ela produz. Esse panorama começou a mudar nos últimos anos, com a publicação de livros escritos por cientistas com agenda abertamente progressista que mostram que os genes são relevantes para o comportamento humano e que reconhecer isso não nos condena a reviver o nazismo.

"The Genetic Lottery", de Kathryn Paige Harden, é uma dessas obras. Seu maior mérito é apresentar e desmitificar o problema. Genes importam não só no âmbito individual mas também para os grandes desafios sociais, como a igualdade. O peso da genética no desempenho escolar de uma criança é igual ao da renda dos pais, ou seja, bem forte. E o desempenho escolar, vale lembrar, é uma variável-chave na definição da renda, felicidade e até do número de anos que a pessoa vai viver.

Dorrit Harazim: Longa travessia

O Globo

É raro um discurso de paraninfo entrar para a História. O de Joseph Brodsky, pronunciado num 18 de dezembro de 33 anos atrás para formandos da Universidade de Michigan, é uma dessas raridades. Fugindo do convencional roteiro de colorir o futuro que aguarda os jovens, o laureado poeta e ensaísta descreveu em tons pouco faiscantes o mundo adulto à espera dos alunos. Brodsky conhecia a vida: nascera na antiga União Soviética, fora condenado a trabalhos forçados com banimento de sua literatura, acusado de parasita social e posteriormente expulso do país. Num de seus ensaios mais pungentes (“A part of speech”, de 1977) descreveu como, gradualmente, perdeu cabelos, dentes, consoantes e verbos. Exilado nos Estados Unidos, teve de aprender a escrever e a ser em outra língua. Fez da dura travessia uma continuidade existencial. Mas conseguiu, a ponto de receber o Nobel de Literatura em 1987.

Naquele dezembro de 1988, falou sobre tempo e vida aos formandos de Ann Arbor. Em tradução livre, o parágrafo abaixo dá o tom do que Brodsky se preocupou em dizer:

— O mundo que vocês haverão de adentrar, e em que passarão a existir, não tem boa reputação. Seu desempenho geográfico tem sido melhor que o histórico; ele continua a ser muito mais atraente visualmente que do ponto de vista social. Vocês haverão de descobrir que tampouco o mundo é um lugar propriamente acolhedor; e tenho dúvidas de que será muito melhor quando vocês o deixarem. Ainda assim, é o único disponível, não existe alternativa... Lá fora é uma selva, também um deserto, um precipício escorregadio e um atoleiro — tanto no sentido literal quanto metafórico...

Entrevista | Raul Jungmann: 'Não vai acontecer golpe'

João Victor, Paula Losada / Diário de Pernambuco (18/12/2021)

Em 1974, o Brasil completava uma década sob jugo da ditadura militar. Naquele ano, o jovem recifense Raul Jungmann, então com 22 anos, decidiu integrar o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), único partido de oposição formal ao regime. Sua vida pública teve início em 1977, ao assumir a gerência de projetos do Centro de Desenvolvimento Empresarial de Pernambuco. Em 1990, foi nomeado secretário de Planejamento do estado e, três anos depois, catapultado a nível federal ao ser empossado no cargo de secretário-executivo da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação da Presidência da República (Seplan), no governo de Itamar Franco.

Entre idas e vindas do MDB para o PPS (Partido Popular Socialista, hoje Cidadania), Jungmann comandou o então recém-criado Ministério de Política Fundiária e Desenvolvimento Agrário, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Após ser eleito deputado federal, em 2002, se aproximou de temas como a segurança pública e defesa nacional. Em 2016, foi convidado por Michel Temer para assumir o Ministério da Defesa. Deixou o cargo, dois anos depois, passando a comandar o Ministério da Segurança Pública. Em entrevista ao Diário, ele fez uma ampla análise sobre a conjuntura nacional, incluindo o cenário para a eleição presidencial, e a “bolsonarização” das polícias, e cobrou do Congresso Nacional sua responsabilidade sobre a regulação dos cargos e o papel dos militares em um governo.

Deixou o cargo, dois anos depois, passando a comandar o Ministério da Segurança Pública. Em entrevista ao Diario, ele fez uma lúcida análise sobre a conjuntura nacional, incluindo o cenário para a eleição presidencial, e a “bolsonarização” das polícias, e cobra do Congresso Nacional sua responsabilidade sobre a regulação dos cargos e o papel dos militares em um governo.

Entrevista - Raul Jungmann // ex-ministro da Defesa

Cristovam Buarque*: Maldições históricas

Blog do Noblat / Metrópoles

Bolsonaro será vista como uma maldição na história do Brasil. Mas não será a única que caracteriza nossa história

Quem observa a política e a realidade social no presente, tem razão dese assustar com as maldições que pesam sobre nossa história, é preciso olhar adiante para perceber o potencial que temos, se formos capazes de reorientar nosso destino nacional.

Por sua estupidez e maldade no tratamento da epidemia, pela desmoralização do país no exterior, pela desconstrução de nosso sistema científico, pela desconfiança sobre a as eleições e ameaças à democracia, a presidência de Bolsonaro será vista como uma maldição na história do Brasil. Mas não será a única que caracteriza nossa história, e de fato ela é consequência de outras anteriores que amarram há séculos nossa evolução civilizatória.

A estrutura escravocrata por quase toda nossa história, submetendo parte de nossa população ao trabalho escravo deixou a maldição que até hoje pesa provocando racismo, aceitação da desigualdade, da corrupção e da violência. Como irmão da escravidão, o latifúndio, imposto desde as capitanias hereditárias, deixou a maldição da terra como reserva de valor nas mãos de especuladores e não como fator de produção nas mãos dos trabalhadores.

Memória | (Gilvan e Graziela) Exilados voltam e passam o Natal presos

Jornal do Brasil - terça-feira, 26/12/78

Legenda: Graziela e Gilvan Cavalcanti de Melo foram liberados na Polícia Marítima às 11 horas

Exilados voltam e passam o Natal explicando por que voltaram sem passaportes

Fora do país há seis anos, absolvido em setembro último da acusação de pertencer ao PCB, o ex-funcionário do INPS Gilvan Cavalcanti Melo, chegou do Panamá com a mulher e os dois filhos, no domingo e foi preso. A Embaixada do Brasil informara que poderiam desembarcar só com a carteira de identidade, mas a polícia deteve o casal por 12 horas durante a noite de Natal, para saber porque estavam sem passaportes.

O Sr. Gilvan e D. Graziela Cavalcanti Melo passaram a noite num sofá da Delegacia de Polícia Marítima, onde foram interrogados ontem de manhã e liberados depois de preencherem um questionário mimeografado. Os filhos, Gilvan de 16 anos, paralítico, e Ana Amélia, de 12, foram dispensados pela polícia ainda no aeroporto e ficaram com parentes.

Antonio Risério: A ideologia e a comunicação

O Estado de S. Paulo / Aliás

Combater expressões supostamente ‘racistas’, como se faz no Brasil, é de uma ignorância atroz, caracterizando eugenia verbal

A essa altura do campeonato, com a polícia da língua em ação repressora incansável, já nem faço ideia de como hoje, nas Minas Gerais, as pessoas estão chamando o Aleijadinho, que, por sinal, era um mulato (ou negro?) escravista.

E agora, que decretaram que a expressão latina “doméstica” se refere a escravas negras e, portanto, seria afrontosa, logo teremos campanhas contra as placas racistas de “embarque doméstico” que vemos em nossos aeroportos.

Também não sei como racialistas neonegros reagiriam à informação de que a palavra preto começou a ser acionada, com referência a pessoas de pele escura, no Portugal do século 15. É um conceito linguístico do colonizador. Vamos deixar de usá-lo?

O fato é que o combate a expressões supostamente “racistas”, que ganha corpo por aqui, é de uma ignorância atroz. Ponto de emergência do fascismo legiferante semiletrado que ameaça se impor (graças à ignorância geral sobre a nossa história linguística) – e que também chega a ser racista.

Como no caso do combate à expressão “macumba”. A palavra é de origem banta, nos veio do kikongo e do kimbundo, originalmente “makuba”, com o sentido de “reza” ou “invocação”. É racismo querer banir palavras africanas da língua que falamos diariamente.

Além disso, surgiu a “língua” do x-@-e ou “linguagem inclusiva”, que não inclui ninguém e exclui muitos. Pessoas com dislexia, por exemplo. Pessoas semianalfabetas ou em processo de alfabetização, também.

A “língua” do x-@-e, por sinal, já começa querendo nos obrigar a falar não de língua portuguesa, mas de língux portuguesx ou língue portuguese. No caminho da transformação do português numa pedreira consonantal impronunciável.

E haja disparates.

O que pensa a mídia: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

A fome no centro do debate eleitoral

O Estado de S. Paulo.

O tamanho da crise econômica e o desalento da população são uma oportunidade para que o País volte os olhos àquilo que realmente importa

O discurso de lançamento da pré-candidatura de Simone Tebet (MDB-MS) à Presidência trouxe a dose de realidade que tem faltado às discussões de 2022. Acertadamente, a senadora disse que o foco de sua plataforma eleitoral será a fome, mazela social que voltou a assombrar milhões de famílias. “No Brasil, hoje, 5 milhões de crianças vão dormir com fome. No Brasil, hoje, nós temos mais de 20 milhões de brasileiros que ficam dia sim, dia não, sem se alimentar. Esse Brasil é o Brasil que exige coragem, que exige altruísmo, que exige um esforço de todos nós”, afirmou Tebet, no dia 8 passado. “Nada é mais prioritário do que isso”, acrescentou. Em um pronunciamento de 23 minutos, ela mencionou a fome quatro vezes. A título de comparação, Sergio Moro, do Podemos, falou por quase 50 minutos no evento de sua pré-candidatura e citou a palavra duas vezes.

Tem razão a senadora, e os eleitores parecem concordar com ela. Pesquisa da Genial/Quaest mostra que 41% dos entrevistados consideram a economia o principal problema a ser enfrentado pelo País, especialmente o desemprego. Saúde e pandemia foram apontadas por 19%. Questões sociais foram lembradas por 14% e, dentre elas, as menções à fome subiram de 4% em julho para 11% em dezembro.

Fica claro que as preocupações com a covid-19 arrefeceram em razão do avanço e do sucesso da vacinação. É sintomático, portanto, que o Brasil esteja novamente às voltas com problemas econômicos e sociais que pareciam superados há alguns anos – no caso da fome, ao menos, limitados. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios talvez seja o maior exemplo do caos em que o País mergulhou. De uma só vez, o texto acaba com a âncora fiscal do teto de gastos e institucionaliza o calote de dívidas da União já reconhecidas pela Justiça, tudo sob o pretexto de abrir espaço para o Auxílio Brasil. O programa social, no entanto, continuará a ter filas, uma mudança feita a pedido do governo, para que os parlamentares possam contar com os recursos bilionários das emendas de relator, escândalo revelado pelo Estadão.

Poesia | Graziela Melo: Saudades

Saudades

dos pássaros

é que vou

sentir,

 

quando

deste mundo

solitária

me for!!!

 

Das flores,

dos amigos,

até mesmo

das dores,

 

das emoções

mais sutis!!!

 

Parada,

pálida

e fria,

 

inerte,

sem

qualquer

ação,

 

debaixo

daqueles

palmos

de terra,

 

estarei

distante

das maldades,

da guerra,

dos homens

sem compaixão!!!

 

Enquanto

se desmancha

meu corpo,

no frio,

na escuridão!!!