sábado, 1 de janeiro de 2022

Poesia | Ferreira Gullar: Ano Novo

Meia-noite. Fim 

de um ano, início 

de outro. Olho o céu: 

nenhum indício. 

 

Olho o céu: 

o abismo vence o 

olhar. O mesmo 

espantoso silêncio 

da Via-Láctea feito 

um ectoplasma 

sobre a minha cabeça 

nada ali indica 

que um ano novo começa. 

 

E não começa 

nem no céu nem no chão 

do planeta: 

começa no coração. 

 

Começa como a esperança 

de vida melhor 

que entre os astros 

não se escuta 

nem se vê 

nem pode haver: 

que isso é coisa de homem 

esse bicho 

estelar 

que sonha 

(e luta).

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