Folha de S. Paulo
Ao contrário de 1922, celebração do
Bicentenário corre o risco de virar uma motociata
Na coluna do último sábado (12), ao registrar a farra de Pixinguinha e do conjunto Os Batutas na Paris de 1922, não contei como tudo terminou. Fora a saudade e o frio, eles tinham forte motivo para voltar. Não queriam perder uma festa no Rio que prometia ser ainda maior: a Exposição do Centenário da Independência, que ergueu uma cidade dentro da cidade.
Maior, feérica e quase interminável. Inaugurada
em setembro, na área aberta conquistada ao mar e pelo arrasamento do morro do
Castelo, encerrou-se em julho de 1923. Calcula-se que três milhões de pessoas
—200 mil só no primeiro dia— visitaram dezenas de pavilhões nacionais e
internacionais, entrando pelo portão ao lado do Palácio Monroe, com arcos que
se abriam para a avenida Rio Branco.
Nos bailes, banquetes e coquetéis para
delegações dos 14 países participantes, o governo aproveitou para impulsionar a
economia. Fechou parcerias e firmou contratos, envolvendo exploração de minério
e madeira, pecuária, navegação e atividades industriais, enquanto Pixinguinha
se apresentava em concertos ao ar livre.
Adolescente na época, o futuro romancista
Marques Rebelo jamais esqueceu o espetáculo de luzes e as ofertas no parque de
diversões: "Biscoitos, balas e chocolates, garrafinhas de groselha e de licor,
caixinhas de mate, latinhas de chá (...), perfumados sachês, ventarolas
anunciando mil produtos, e folhetos, calendários, espelhinhos,
cartões-postais".
Menos badalada que a Semana de Arte em São
Paulo, a exposição valorizou a nova arquitetura brasileira, que propunha um
estilo moderno sem ruptura com a tradição, em que predominasse a funcionalidade
dos espaços, a pesquisa de materiais e estruturas simples, com fachadas
sóbrias, paredes brancas, colunas, varandas.
E hoje, como estamos? Cadê a comemoração do
Bicentenário da Independência? Até agora o regime da pátria amada nem sequer
anunciou a programação oficial.
Triste bicentenário,temos no poder o pior homem de todos os tempos.
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