quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Bruno Boghossian: As dores da centro-direita

Folha de S. Paulo

Números indicam espaço estreito para uma candidatura alternativa a Bolsonaro nesse campo

Sem segredo, uma ala do PSDB trabalha para derrubar a candidatura de João Doria ao Palácio do Planalto. Tucanos que sempre nutriram antipatia pelo governador paulista querem aproveitar seu desempenho quase insignificante nas pesquisas para trocá-lo por outro nome na corrida presidencial.

Os desafetos de Doria dizem que ele tem poucas chances de vitória e que há nomes mais competitivos, como a senadora Simone Tebet (MDB) e o governador gaúcho Eduardo Leite (numa possível mudança para o PSD). O argumento inicial faz sentido, mas há poucas razões para acreditar no segundo ponto.

Muitos tucanos são contra a candidatura de Doria porque, de fato, ele parece ser um candidato fraco. Mas a razão principal para fazê-lo desistir é financeira: sem um nome na corrida ao Planalto, o partido teria mais dinheiro para campanhas de deputados, senadores e governadores.

Ainda que Doria seja um problema, é difícil enxergar sinais claros de que Tebet e Leite seriam uma solução. Embora exista no meio político uma tentativa obstinada de fabricar um nome alternativo a Bolsonaro pela centro-direita, o eleitorado-alvo dessa candidatura é estreito.

Tucanos e congêneres miram um estoque de votos que esteve com o PSDB por 20 anos e migrou para Jair Bolsonaro na última disputa. O problema é que uma fatia considerável desses eleitores permanece ao lado do presidente –basta ver o apoio ainda sólido à sua reeleição nas regiões Sul e Centro-Oeste, em municípios do interior e entre os mais ricos.

Uma parcela desse grupo se desprendeu de Bolsonaro, mas aderiu rapidamente a seu herdeiro mais próximo, Sergio Moro. Outra fatia dos votos foi para o campo oposto, o que pode ser identificado na adesão a Lula em áreas urbanas, no Sudeste e na população mais escolarizada.

A disputa nos antigos territórios tucanos também é limitada pela alta concorrência. Ali, um conjunto de nanicos soma pouco mais de 5% nas pesquisas. Doria é só um sintoma das dificuldades desse grupo.

 

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