Folha de S. Paulo
Presidente exagera na propaganda e quase
desaparece na agenda concreta
Após encontrar Vladimir Putin, o presidente
Jair Bolsonaro descreveu Brasil e Rússia como "duas grandes
potências". O capitão tentou transmitir a imagem de que aquela era uma
conversa entre iguais, mas não convenceu muita gente. Na passagem da comitiva
brasileira por Moscou, quem apareceu foi o político de baixo clero dos velhos
tempos.
O Bolsonaro que visitou Putin exibiu sua
própria falta de expressão. Ninguém se incomodou muito quando o presidente
disse que os
brasileiros eram "solidários à Rússia" –o que poderia
indicar que o país apoiava o Kremlin nas tensões com a Ucrânia. Na mesa dos
adultos da diplomacia, ele praticamente desapareceu.
O presidente preferiu investir na retórica e na propaganda, suas ferramentas políticas favoritas desde os tempos de deputado. Tentou pegar carona na piada que o associava ao recuo das tropas russas na fronteira e, para conseguir uma foto ao lado de Putin, se curvou silenciosamente às regras que costuma contestar com valentia no Brasil, como o confinamento e o uso de máscara.
Como compensação, Bolsonaro buscou dar a
seus apoiadores algumas migalhas ideológicas. Citou o apoio de Putin num
fantasioso embate internacional sobre a Amazônia e disse compartilhar com o
russo valores "como a crença em Deus e a defesa da família". Deu
pouco destaque, é claro, à visita que fez ao
túmulo de soldados soviéticos.
Tal qual um político com poder limitado,
Bolsonaro ficou sem forças até para cometer exageros sobre os resultados
concretos da viagem. Coube a ele destacar as negociações em torno do comércio
de fertilizantes entre os dois países –um
assunto estratégico para a agricultura brasileira, mas que poderia ter sido
discutido por um punhado de ministros, numa visita mais modesta.
Não fosse a pompa oferecida a chefes de
Estado, o presidente poderia ter sido confundido com um de seus auxiliares. A
viagem serviu a alguns dos propósitos de Bolsonaro, mas também o obrigou a
assumir sua verdadeira estatura política.
Bolsonaro e sua pequenez internacional.
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