O Estado de S. Paulo
Em vez de cair, Bolsonaro recupera pontos lentamente e não está fora do segundo turno
No dia seguinte ao Festival da Ovelha,
banhistas de Atlântida, no Rio Grande do Sul, divertiam-se fazendo churrasco na
areia da praia. Cena inusual, digna de curiosidade e elogio. Mas o dono de uma
das barracas reagiu mal, ao ver que a curiosa era de Brasília: “Sai ‘pra’ lá!
Vai comer churrasco com o Lula!”
Isso mostra várias coisas: a politização de tudo, a grosseria de certos bolsonaristas, a força do “mito” no Sul e que, se adversários acham que o presidente Jair Bolsonaro já perdeu, estão enganados. Assim como o trumpismo nos EUA, o bolsonarismo está enraizado no Brasil.
Quem vai ao Rio se depara com a bandeira
brasileira em casas, apartamentos e negócios da zona norte, da zona sul, da
região dos Lagos, com o uso irritante dos símbolos nacionais na campanha de
Bolsonaro, que tem base eleitoral no Estado. E quem tem endereço ou família no
Centro-oeste ou no interior – de Minas, por exemplo –, testemunha com espanto,
ou medo, o quanto o bolsonarismo “pegou”.
No maior colégio eleitoral do País, o
candidato do presidente ao governo, o ministro Tarcísio Gomes de Freitas
(Infraestrutura), já larga bem, mesmo sem ter nada a ver com São Paulo, e
replica o Rio, onde a família Bolsonaro e toda a direita se unem em torno do
governador Cláudio Castro, enquanto o centro e a esquerda estão rachados.
Assim, o ex-presidente Lula mantém a
liderança nas pesquisas, mas a distância para Bolsonaro vai lentamente
diminuindo e o sonho de vencer em primeiro turno vai se dissipando, como a
estratégia do centro, que imaginava passar Bolsonaro e disputar o segundo turno
com Lula, inclusive com apoio do eleitorado bolsonarista.
Ainda falta muito tempo para as urnas e
muita sujeira vai borbulhar na campanha, mas o cenário assusta, pois um quarto
do País finge que não sabe, ou, pior, releva o que Bolsonaro fez e disse contra
a ciência, o bom senso, a realidade, o ambiente, a cultura, a educação, a
política externa… Guerrear contra máscaras, isolamento, vacinas, até de
crianças?! É o fim do mundo, mas eleição não é racional, é emoção e dogmatismo.
Assim, a alta rejeição não define a derrota
de Bolsonaro desde já, ele não é um adversário fácil nem o Centrão está prestes
a abandonar o barco. Isso é o que milhões gostariam que acontecesse, mas ele
tem uma base fanática, marketing, fake news, queda da inflação, dinheiro na
veia dos pobres e meios de mostrar força, com PMS fazendo paralisação e civis
armados. Desses que reagem a gentilezas atacando estranhos: “Vai comer
churrasco com o Lula!”
O bolsonarismo é uma praga como o trumpismo.
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