domingo, 13 de fevereiro de 2022

Elio Gaspari: Flávio Bolsonaro disse quase tudo

O Globo / Folha de S. Paulo

Na sua entrevista à repórter Jussara Soares, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse quase tudo:

— Para mim, quem soltou o Lula foi o Moro. Segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, ele fez coisas que estavam fora da lei. Era só ter cumprido a lei que o Lula estava preso até hoje.

Quase tudo, porque não há como garantir que, cumprindo-se a lei, Lula estaria preso. Quase tudo, porque também faltou lembrar o famoso tuíte do general Eduardo Villas Bôas. Mesmo assim, é certo que ao divulgar às vésperas do primeiro turno a colaboração do ex-ministro Antonio Palocci, Moro levou água para o moinho de Bolsonaro. Fortaleceu-o aceitando a costura de Paulo Guedes, ocorrida (sem divulgação) pouco antes do segundo turno.

Numa trapaça da sorte, Bolsonaro foi ajudado primeiro pela colaboração premiada de um ex-ministro da Fazenda (divulgada por Moro), e depois pelo futuro ministro da Economia, à época chamado de Posto Ipiranga.

A entrevista do senador pareceu um momento de moderação e, sobretudo, revelou a possibilidade de uma campanha na qual são aceitas as regras do jogo, até mesmo da vacina. Referindo-se a manifestações dos aliados do presidente que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo, ele disse que “se fosse chutar o balde, o Brasil afundaria”. Boas palavras, admitindo-se que o tamanho do chute viraria o balde. De qualquer forma, vale a conclusão: o Brasil afundaria.

Prever os próximos lances dos Bolsonaro é coisa temerária, mas fica o registro de que essa entrevista do senador foi pelo menos um momento de moderação.

Ele diz que o governo se comunica mal. Na realidade, Jair Bolsonaro se comunica de forma eficaz para seus admiradores e assim chegou à Presidência da República em 2019. A conjuntura era outra, e nela teve não só a ajuda de Moro, mas também de um outro tipo de negacionismo, vindo de seus adversários.

Se há um problema, não está na forma da comunicação, mas no seu conteúdo.

Bolsonaro com o pé no acelerador

A entrevista do senador Flávio (01) Bolsonaro estava nas ruas quando seu pai fez a live semanal e apontou para um novo desentendimento com o Tribunal Superior Eleitoral.

Nas suas palavras:

“Nosso pessoal do Exército, da guerra cibernética, buscou o TSE e começou a levantar possíveis vulnerabilidades. Foram levantadas várias, dezenas de vulnerabilidades. Foi oficiado o TSE para que pudesse responder às Forças Armadas. Passou o prazo e ficou um silêncio. O prazo de 30 dias se esgotou no dia de hoje. Isso está nas mãos do ministro Braga Netto (Defesa) para tratar desse assunto. E ele está tratando disso e vai entrar em contato com o presidente do TSE. E as Forças Armadas vão analisar e dar uma resposta”.

Além disso, prometeu para “os próximos dias” algo para “nos salvar”.

Na véspera, o deputado Eduardo (03) Bolsonaro, havia dito que “a gente vai dar um golpe que vai acabar com o Lula”.

A dificuldade de Doria

O governador João Doria definiu como “jantar dos derrotados” o encontro em que estavam, entre outros tucanos de muita plumagem, Tasso Jereissati, Eduardo Leite e Aécio Neves.

De fato, Doria derrotou-os na prévia do partido, mas seu modesto desempenho nas pesquisas estimulou-os para costurar alianças mais adiante, sobretudo com a senadora Simone Tebet, do MDB.

Menosprezar adversários do mesmo partido sempre é uma política arriscada. A menos que Doria esteja em busca do título de candidato derrotado.

O preço do nazismo

O deputado Kim Kataguiri disse que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo. Depois, explicou-se, desculpando-se. Para quem acha a mesma coisa, até mesmo em nome da liberdade de opinião, aqui vai uma lembrança das boas razões que levaram os alemães a isso.

Se fosse possível esquecer o que o nazismo fez com os outros, hoje completam-se 77 anos do dia em que as sirenes de Dresden começaram a soar. Em 25 minutos, oitocentos aviões ingleses despejaram cerca de duas mil toneladas de bombas sobre a cidade medieval. A “Florença do rio Elba” foi bombardeada por outros dois dias. Uma tempestade de fogo derreteu até estruturas de aço. Tudo o que poderia queimar, queimou e restou uma paisagem lunar.

Os ingleses perderam apenas seis aviões, e os americanos da segunda leva, um. Morreram cerca de 25 mil alemães.

(Nunca uma população civil tinha sofrido ataques de tais proporções. Em março, os americanos queimaram parte de Tóquio, e em agosto jogaram duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki).

Os alemães criminalizaram o nazismo porque, entre outros crimes, tendo iniciado a guerra, persistiu nos combates, mesmo sabendo que sacrificava seu próprio povo.

A Alemanha criminalizou o nazismo por vários motivos mas, acima de tudo, pelo mal que ele custou aos alemães.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota, nunca trabalhou na vida nas encantou-se com o doutor Zezeco. José Medeiros Nicolau, diretor do Departamento de Ordenamento, Parcerias e Concessões da Secretaria Nacional de Atração de Investimentos do Ministério do Turismo, informava em sua agenda que estava ocupado com “despachos internos”.

O repórter Patrik Camporez descobriu que ele estava na região de Courchevel, nos Alpes franceses. Explicando-se, Zezeco disse que trabalhou de forma remota e “nada parou”.

Eremildo vai a Brasília para ver se descola uma boquinha em Courchevel e promete que nada haverá de parar.

De mão em mão

Vender aeroportos tem sido motivo de orgulho para sucessivos governos brasileiros.

Falta explicar o que esses governos sentem quando os compradores devolvem a mercadoria.

O aeroporto do Galeão foi vendido em 2013 para a Odebrecht, com financiamento do BNDES e do FGTS, mais a participação minoritária da Changi, administradora do celebrado terminal de Cingapura, que tem até piscina para os passageiros. Antes mesmo do impacto da pandemia, os concessionários reclamavam do negócio, e em 2017 a Odebrecht foi-se embora.

Em outubro passado, a Changi começou a negociar a venda da concessão, e na semana passada decidiu devolvê-la à Viúva.

Com isso, o Galeão será oferecido junto com o aeroporto do Centro da cidade.

Os governos gostam de falar bem de tudo o que fazem. Falta contar porque o Galeão virou um mico.

Trump

Vem aí, às vésperas da eleição americana de novembro, um novo livro sobre Donald Trump, e o título já diz bastante: “Confidence Man”, “Vigarista”, em tradução livre. A autora é Maggie Haberman, repórter na Casa Branca durante o governo do presidente.

Ela já revelou que às vezes o pessoal da limpeza encontrava papéis rasgados nas privadas do seu gabinete. No caso de Trump, papéis em privadas são coisa suspeita, pois acredita-se que o doutor destruía documentos que, por lei, deveria preservar. Já se sabe, por exemplo, que Trump usava os celulares de assessores para não ser rastreado.

Puro palpite

Bolsonaro vai se vacinar.

Se o fizer, não tomará a vacina chinesa.

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