O Globo
Na semana passada, tive a chance de moderar
um debate, organizado pela rede Uma Concertação pela Amazônia, sobre o papel da
região nas eleições. O encontro virtual envolveu líderes indígenas, empresários
e artistas da própria região, assim como inúmeras e importantes vozes
nacionais.
A ideia básica era oferecer algumas
propostas aos candidatos à Presidência e aos que ocuparão o Congresso. A
primeira questão que se levanta é esta: se os partidos têm gente especializada
para formular programas, por que se importar com o tema?
Por mais que um pequeno grupo possa formular ideias sobre a Amazônia, a complexidade e a extensão do problema demandam uma contribuição social, principalmente das pessoas que moram lá.
Num determinado momento da conversa, houve
uma proposta interessante. Por que falar do assunto apenas com partidos que
disputam as eleições, e não nos dedicarmos também a falar sobre ele com os
eleitores, que têm papel decisivo?
Todos sabemos que, em termos
internacionais, a Amazônia é o assunto que mais interessa nas eleições
brasileiras. Mas há um longo caminho para que o destino da floresta ocupe um
espaço maior no imaginário nacional.
Argumentos não faltam. O primeiro deles é
este: cerca de 30 milhões de pessoas vivem na Amazônia Legal, brasileiros como
nós, mas com alguns índices, como o de saúde pública, mais baixos que o
restante do país. A sorte de toda essa gente depende dos rumos econômicos que o
Brasil definir para a região.
O valor do carbono sequestrado na floresta
é um aspecto importante nessa equação. A mata em pé contribui com a proposta
planetária de reduzir as emissões.
A exploração sustentável dos recursos
naturais, a bioeconomia que promove o encontro do conhecimento científico com
os tesouros da floresta — tudo isso significa possibilidades de investimento e
progresso não apenas para os amazônidas, mas para o país no conjunto.
Estamos no mesmo barco no planeta Terra.
Não só o aquecimento global é um efeito negativo da destruição da floresta.
Há outros que podem nos atingir mais
diretamente. Um deles é o desmatamento alterar nosso regime de chuvas, com
várias consequências negativas, sobretudo na produção da comida.
Um bom começo para qualquer governo que
escolhamos em 2022 seria combater diretamente o desmatamento. Ideias para isso
não faltam. Um grupo bem amplo de entidades da região já formulou propostas que
podem nos reconciliar com a floresta e suas populações tradicionais, que, além
do desmatamento, sofrem com a poluição do garimpo.
Na verdade, a redução do desmatamento não é
um grande mistério. Ela foi conseguida durante uma década, entre 2004 e 2014.
O objetivo possível seria uma moratória no
desmatamento. É uma outra expressão para o desmatamento zero, porque alguma
árvore ainda poderia ser derrubada, para projetos familiares de sobrevivência,
intervenções de segurança nacional.
Há um caminho muito bonito pela frente.
Recuperar o prestígio internacional, a liderança na luta planetária pelo meio
ambiente, desenvolver a Amazônia de forma sustentada. Isso não deveria ser
passado apenas aos partidos políticos, mas a todos os eleitores.
Passamos por momentos sombrios. Pandemia e
um governo devastador e desumano associaram-se para arrasar nossos recursos e
nossas mentes.
De um governo destruidor, podemos nos
livrar pelo voto. Não é muito arriscado dizer que a preservação da Amazônia é
também uma forma de evitar novas grandes epidemias.
Um lembrete: não é só presidente que conta.
Uma pesquisa apresentada no debate mostra que nenhum deputado ou senador se
interessa pela Amazônia em seu trabalho nas redes sociais.
Tudo isso precisa mudar.
De qualquer forma, saímos do encontro com
bastante energia para encarar essa tarefa que, no fundo, é a luta pela nossa
sobrevivência futura.
Os políticos estão marcando toca,a juventude gosta do tema.
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