segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Fernando Gabeira: O lugar da Amazônia nas eleições de 2022

O Globo

Na semana passada, tive a chance de moderar um debate, organizado pela rede Uma Concertação pela Amazônia, sobre o papel da região nas eleições. O encontro virtual envolveu líderes indígenas, empresários e artistas da própria região, assim como inúmeras e importantes vozes nacionais.

A ideia básica era oferecer algumas propostas aos candidatos à Presidência e aos que ocuparão o Congresso. A primeira questão que se levanta é esta: se os partidos têm gente especializada para formular programas, por que se importar com o tema?

Por mais que um pequeno grupo possa formular ideias sobre a Amazônia, a complexidade e a extensão do problema demandam uma contribuição social, principalmente das pessoas que moram lá.

Num determinado momento da conversa, houve uma proposta interessante. Por que falar do assunto apenas com partidos que disputam as eleições, e não nos dedicarmos também a falar sobre ele com os eleitores, que têm papel decisivo?

Todos sabemos que, em termos internacionais, a Amazônia é o assunto que mais interessa nas eleições brasileiras. Mas há um longo caminho para que o destino da floresta ocupe um espaço maior no imaginário nacional.

Argumentos não faltam. O primeiro deles é este: cerca de 30 milhões de pessoas vivem na Amazônia Legal, brasileiros como nós, mas com alguns índices, como o de saúde pública, mais baixos que o restante do país. A sorte de toda essa gente depende dos rumos econômicos que o Brasil definir para a região.

O valor do carbono sequestrado na floresta é um aspecto importante nessa equação. A mata em pé contribui com a proposta planetária de reduzir as emissões.

A exploração sustentável dos recursos naturais, a bioeconomia que promove o encontro do conhecimento científico com os tesouros da floresta — tudo isso significa possibilidades de investimento e progresso não apenas para os amazônidas, mas para o país no conjunto.

Estamos no mesmo barco no planeta Terra. Não só o aquecimento global é um efeito negativo da destruição da floresta.

Há outros que podem nos atingir mais diretamente. Um deles é o desmatamento alterar nosso regime de chuvas, com várias consequências negativas, sobretudo na produção da comida.

Um bom começo para qualquer governo que escolhamos em 2022 seria combater diretamente o desmatamento. Ideias para isso não faltam. Um grupo bem amplo de entidades da região já formulou propostas que podem nos reconciliar com a floresta e suas populações tradicionais, que, além do desmatamento, sofrem com a poluição do garimpo.

Na verdade, a redução do desmatamento não é um grande mistério. Ela foi conseguida durante uma década, entre 2004 e 2014.

O objetivo possível seria uma moratória no desmatamento. É uma outra expressão para o desmatamento zero, porque alguma árvore ainda poderia ser derrubada, para projetos familiares de sobrevivência, intervenções de segurança nacional.

Há um caminho muito bonito pela frente. Recuperar o prestígio internacional, a liderança na luta planetária pelo meio ambiente, desenvolver a Amazônia de forma sustentada. Isso não deveria ser passado apenas aos partidos políticos, mas a todos os eleitores.

Passamos por momentos sombrios. Pandemia e um governo devastador e desumano associaram-se para arrasar nossos recursos e nossas mentes.

De um governo destruidor, podemos nos livrar pelo voto. Não é muito arriscado dizer que a preservação da Amazônia é também uma forma de evitar novas grandes epidemias.

Um lembrete: não é só presidente que conta. Uma pesquisa apresentada no debate mostra que nenhum deputado ou senador se interessa pela Amazônia em seu trabalho nas redes sociais.

Tudo isso precisa mudar.

De qualquer forma, saímos do encontro com bastante energia para encarar essa tarefa que, no fundo, é a luta pela nossa sobrevivência futura.

 

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