Folha de S. Paulo
Desmatamento na Amazônia subiu 56,6% de
agosto de 2018 a julho de 2021
No domingo (6/2), os leitores desta Folha foram apresentados
ao que seria o rascunho de um cartapácio da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República, contendo nada menos de 200 diretrizes
de ação governamental. Não ficou claro, porém, se foram imaginadas para ser
cumpridas nos meses que podem restar a Bolsonaro no Planalto, como plataforma
de candidato à reeleição, ou só para não deixar ociosos os comandados do
almirante Flavio Rocha, chefe do órgão.
De toda forma, as presumíveis propostas surpreendem pela distância entre o que sugerem e o que tem sido dito e feito —ou, não— pelo governo do ex-capitão. Abrem alas o compromisso expresso com a eliminação do desmatamento ilegal; o fomento à bioeconomia e à floresta em pé; o aumento da capacidade de monitoramento dos biomas e a afirmação da sustentabilidade como eixo do desenvolvimento. Delírio ou desfaçatez —dá no mesmo.
Enquanto isso, estudo recente do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia) constata que, entre agosto de 2018 e julho de 2021, as taxas
anuais de desmatamento subiram 56,6% em relação aos três anos anteriores. Mais
da metade do estrago ocorreu em terras da União —florestas públicas não
destinadas e unidades de conservação—, bem assim em terras indígenas. Nada que
surpreenda.
De seu ângulo, o Greenpeace estima que 1/3 da devastação da floresta tropical
se dá hoje em terras públicas. Para entender o processo, a ONG prescrutou o
que vem acontecendo em quatro áreas críticas no entorno da BR-163, na sua
porção amazônica. Encontrou o esperado: inegáveis evidências de roubo e venda
irregular de áreas que a União deveria proteger.
O aumento do ritmo da derrubada não se deve
ao acaso nem ao imponderável. O estudo do Greenpeace, apropriadamente
intitulado "Grilagem: uma empreitada conjunta do governo federal e do
Congresso", mostra que o rentável mercado da apropriação ilegal de terras
viceja sob a maligna negligência do governo e a expectativa de aprovação de
alguns dos projetos que tramitam no Parlamento para pavimentar o caminho à
regularização da propriedade das terras açambarcadas.
Políticas regulatórias, como as de defesa
ambiental, nascem de incentivos às condutas desejadas, de punições daquelas que
se quer banir e, sobretudo, da fiscalização da obediência às regras
estabelecidas.
Em tempos idos, o país mostrou que sabia fazê-las bem, acumulando um patrimônio
institucional reconhecido no exterior. Hoje, ele sangra sob o bolsonarismo
instalado no Planalto e representado no Legislativo federal.
Até a própria natureza está pedindo para o Bolsonaro sair,e não ''ficar'',como no samba da Beth Carvalho,rs.
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