O Globo
Não há razão para que o Supremo Tribunal
Federal (STF) não atenda ao pedido dos partidos para que o prazo para a
formação de federações seja em agosto, como previsto na legislação aprovada
pelo Congresso, e não em abril, como definiu o presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso.
A isonomia desejada por Barroso com a data final para as definições das candidaturas
e mudanças de legenda não é necessária e, ao contrário, pode atrapalhar a
composição das federações. Passado o prazo de 2 de abril, teremos um quadro
mais claro da disputa eleitoral, e os parlamentares poderão levá-lo em conta
para compor as federações partidárias, uma das ideias mais importantes surgidas
na nossa legislação sobre partidos.
O STF já tem um antecedente crítico quando impediu a implementação das
cláusulas de barreira, anos atrás, na intenção de proteger as siglas menores, e
abriu a porteira para a criação de uma enxurrada de novas legendas sem nenhum
compromisso com a higidez do sistema partidário, que só fez se deteriorar.
É verdade que os partidos políticos brasileiros não têm o hábito de obedecer a
prazos e, enquanto aumentam exorbitantemente as verbas dos fundos partidário e
eleitoral, devem cerca de R$ 100 milhões à União, a maior proporção em multas
da Justiça Eleitoral. Parte já está renegociada, mas R$ 84 milhões estão em
aberto, com dívidas de FGTS e Previdência de seus funcionários.
Mas, no caso das federações, o adiamento não provocará prejuízo ao Erário nem
ao processo eleitoral. Desta vez, se dificultar por uma razão formal a criação
das federações, o STF estará novamente impedindo que o quadro partidário se
modernize, reduzindo o número de participantes do jogo eleitoral.
Criando federações, os partidos são obrigados a trabalhar com um programa
único, porque terão de ficar juntos uma legislatura inteira. Por si só, é um
incentivo formidável para que passem a atuar mais em nome de programas e menos
em torno de interesses regionais particulares. Partidos pequenos farão
federações para continuar atuando, para superar as cláusulas de barreira, e
terão de se adaptar a um programa comum com o partido principal.
O ideal é que esses partidos criados do nada, sem história, apenas para servir
aos interesses — políticos, mas sobretudo financeiros — de seus controladores,
fossem obrigados a enfrentar a exigência de uma votação mínima, de caráter
nacional, para poder continuar atuando no Congresso. Não tendo sido possível, a
federação é um passo adiante em relação às coligações proporcionais, um avanço
democrático elogiável.
O PT está negociando com partidos de esquerda, que sempre foram seus satélites,
como PSB, PCdoB, PV, PSOL. O único desses que pode andar sozinho é o PSB; por
isso está ficando difícil chegar a um acordo. O partido tem candidatos fortes,
como Márcio França em São Paulo, e o PT faz tudo para abrir caminho para
Fernando Haddad no governo do estado.
A escolha por Lula do ex-tucano Geraldo Alckmim para seu vice tem, além da
sinalização de que um eventual governo seu será de equilíbrio centrista, a
vantagem de abrir espaço à eleição de Haddad para o governo de São Paulo, que o
PT nunca conseguiu conquistar. Noutros estados também o PSB é forte, como
Pernambuco e Espírito Santo. O Cidadania está procurando o PSDB e o Podemos.
Tendo cada federação um programa comum que una diversas legendas partidárias,
melhorará muito a relação do Executivo com o Congresso, pois haverá menos
partícipes com que negociar. Com as federações, a negociação poderá ser feita
de uma vez com até meia dúzia de partidos, o que ajudará muito a administração
da política no dia a dia.
O União Brasil, prestes a ser oficializado pelo TSE, será procurado também
pelos nanicos, porque terá estrutura importante. Esse é um caso interessante:
PSL, o que tem o maior caixa financeiro, e DEM, um dos de maior capilaridade
nacional, pularam das coligações majoritárias e federações partidárias para a
fusão, criando o que pode vir a ser o maior partido do país. Daí a importância
de acompanhar sua movimentação na corrida presidencial. Se fará como o MDB
durante anos, apostando na formação de grandes bancadas, ou se terá candidato
próprio.
Sintetizou o tema muito bem.
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