Folha de S. Paulo
União entre legendas pode tornar viável uma
liderança realmente conservadora; Bolsonaro e Moro são apenas as expressões do
caos
Conversas em curso para a formação
de federações partidárias podem trazer à luz, quem sabe, o que até
agora não há: o candidato conservador viável. Será o nome da segunda via! O da
primeira, como resta evidente, é Lula, do PT. Pertencem à "terceira
via", neste meu raciocínio, Jair Bolsonaro e Sergio Moro. Vamos ver.
Não era simpático à ideia das federações
porque garantem a sobrevivência de legendas que só subsistem em razão do fundo
partidário. Ainda que uma ou outra possam defender causas meritórias, deveriam
ser correntes de opinião em partidos maiores. Nas democracias estáveis, as
disputas são, em sua essência ideológica, dualistas. Uma terceira força só se
robustece em caso de erros de operação da tendência que hegemoniza, para ser
genérico, o progressismo e o conservadorismo.
O STF começou a julgar ontem um recurso do PTB contra a formação das federações, que impõem que a união entre siglas dure ao menos quatro anos e reproduza nos Estados o acerto que se fizer em escala nacional. Não vejo por que o tribunal deva se meter na questão. A lei não impõe a formação dos blocos; apenas oferece essa alternativa.
Revejo meu ponto de vista e retiro minhas
restrições. Os desdobramentos políticos decorrentes da possibilidade de se
fazerem as federações já se mostram virtuosos. Espero que não fiquem só na
conversa. Legendas, mesmo algumas grandes, que não teriam por que estar
separadas do ponto de vista ideológico, buscam a longa união temporária.
Eis aí, entendo, mais um efeito positivo
da entrada
de Lula (PT) na disputa. Como, a rigor, ele lidera a corrida presidencial
desde 2013 — sim, eu realmente escrevi "2013" —, assumiu a ponta nas
pesquisas de intenção de voto tão logo o Judiciário corrigiu alguns dos
desmandos do juiz-ministro-consultor-candidato, que comandou o transe coletivo
de ataque à democracia que resultou em Bolsonaro.
A elegibilidade do ex-presidente representa
um freio de arrumação na ordem democrática. Se a vontade renitente (desde
2013!!!) de parcela considerável do povo é fraudada por patranha judicial, o
que se tem é democracia corrompida. Depois de tudo o
que se sabe sobre a Lava Jato e a Vaza Jato, com a Alvarez & Marsal
como a cereja no bolo da impostura, Sergio Moro estar por aí, a voejar sobre o
processo político, constitui a prova provada do acerto das decisões do STF.
No embate essencial entre
"conservadores" e "progressistas", sempre destacando o
apelo à terminologia genérica, o PT lidera a pressão mudancista,
redistributivista, igualitarista, que atribui ao Estado um papel ativo na
correção das iniquidades sociais. O PDT de Ciro Gomes parece negar a evidência,
o que pediria longa digressão sobre o partido e o político. Não cabe aqui. O
que importa: se Lula estiver no segundo turno e Ciro não, a maior parte do
eleitorado do pedetista migra para o petista. E também o contrário.
Se Lula é o principal nome dos
"progressistas", quem é que vai comandar os democratas "conservadores"?
Essa é, convenham a questão posta desde que o ex-presidente voltou ao jogo. É
mentira que se está a buscar uma "terceira via". Isso, tenho
repetido, é bobagem. O que se tenta, de verdade, é mesmo encontrar quem tem
condições de hegemonizar a segunda: a do conservadorismo legítimo.
"Ei, Reinaldo, esse seu raciocínio
está a ignorar Bolsonaro?" Pois é... Está, sim! Porque ele nunca foi e
nunca será um conservador de instituições. É a aberração que o delírio
persecutório lavajatista tornou viável. Este senhor, seja por filiação a
algumas ideias literalmente exóticas (importadas da extrema direita dos EUA e
da Europa), seja por destrambelhamento e ignorância, é diruptivo. Moro, como
resta a cada dia mais claro, é só o candidato ao lugar de Bolsonaro no panteão
do reacionarismo.
As federações partidárias dão aos realmente
conservadores a chance de encontrar um nome para enfrentar os progressistas.
Hoje, vivemos sob o governo da "terceira via", que é a do caos. Com
as federações, entendo, o país tem a chance de voltar aos confrontos no terreno
da normalidade democrática. Vai acontecer? Não sei. Não faço previsões.
Reinaldo Azevedo tinha tanta raiva do PT,quem te viu,quem te vê.
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