Folha de S. Paulo
Centrão e até donos do dinheiro dão sinais
de que podem aderir ao petista
Partidos do centrão, quase o Congresso inteiro,
e gente "do mercado" dão sinais de que Lula da Silva (PT) pode
ser também para eles a alternativa incontornável, se por mais não fosse porque
a opção, até agora, é Jair
Bolsonaro (PL).
Ainda é muito cedo, em especial para políticos e "o mercado", que precisam de perspectivas menos incertas antes de fazerem seus arranjos. Faltam oito meses para o primeiro turno, mas algumas características da política e da economia destroçadas do Brasil talvez induzam certa precipitação ou conformismo.
No PSD, no MDB, no Republicanos (Igreja
Universal), no PSC há adeptos da debandada pró-Lula. Tantos que esses partidos
podem ser incapazes de "fechar questão" em favor de tal ou qual
candidatura. É esse o caso mesmo do PP, dos regentes do governo Bolsonaro, Ciro
Nogueira, ministro da Casa Civil, e Arthur Lira,
presidente da Câmara. No PP, a conversa é liberar "acordos regionais"
(aderir a Lula ou ficar "neutro" até saber em qual barco pular).
Adesão a vitoriosos sempre houve, claro.
Com a fragmentação partidária ainda maior, com partidos ainda menores, qualquer
meia dúzia de evasões tende a provocar "rachas". Apenas dois partidos
têm mais de 50 deputados (PSL e PT); apenas outros dois têm mais de 40 (PL e
PP).
Como Lula é particularmente forte no
Nordeste, o regionalismo de conveniência contribui para os "rachas".
O Nordeste tem quase 30% das cadeiras da Câmara. Dado que Bolsonaro tem por ora
apenas um quarto dos votos e aversão maior em grandes cidades, o racha dos
governistas deve ser significativo também no Sudeste (quase 35% da Câmara).
É fato que dois partidos maiores de extrema
direita ou quase isso estão para se formar. O PL de Bolsonaro pode ter de 60 a
70 deputados com a migração dos bolsonaristas do PSL para o
nacional-mensalismo. A União
Brasil pode ter bancada semelhante, juntando ao DEM o resto do PSL,
entre outros, embora nesse novo partido direitista existam lulistas de ocasião.
Essa conta é meio boba, se levada ao pé da
letra. Coalizões não garantem votos presidenciais, claro, vide as eleições de
1989 e 2018 (duas eleições também particulares, de ruína de políticos
dominantes) ou mesmo a de 2006. Com celulares a propagar ondas de loucura e
mentira, o resultado fica menos previsível.
A depender da distância em que estiver de
Bolsonaro lá por abril, Lula ainda pode ser objeto de campanha de trituração —a
depender também de sua viagem ao centro, da quantidade de mingau que comerá
pelas bordas (até do PSDB ou do PDT de Ciro Gomes) e da "conciliação
nacional" que vai propor.
"Conciliação" é a palavra em que
parte do "mercado", elite da finança, presta atenção. "Ruim com
Lula, pior com Bolsonaro e Terceira Via não existe" é uma conversa que se
ouve. Apenas nomear um vice decorativo, um Geraldo Alckmin, é pouco, mas sinal
de boa vontade. Um acordo maior no Congresso e um programa econômico
convencional, para início dos trabalhos, ao menos, é uma possibilidade que
acalmaria qualquer dono de dinheiro e diminuiria as chances de um governo Lula
3 naufragar já em 2023 —ninguém aguenta mais ruína econômica persistente, fora
os golpistas. A gente já vê aqui e ali gente do "mercado" ou seus
porta-vozes dizerem tal coisa em público.
Na reabertura do Congresso, Rodrigo
Pacheco (PSD), presidente do Senado, disse na fuça de Bolsonaro que não vai
tolerar propaganda de mentiras em massa por celular, ameaças à legitimidade da
votação e investidas autoritárias. O clima não está bom para Bolsonaro, embora
os primeiros acordos informais da política sejam fechados apenas lá por volta
de abril. Acerto firme, apenas em setembro, se a eleição estiver com uma cara
definida, dizem cabeças e chefes da política.
Não vejo a hora que passa tudo isso.
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