quarta-feira, 9 de março de 2022

Bruno Boghossian: Petróleo e reeleição

Folha de S. Paulo

Ameaça de disparada de preços dos combustíveis produziu um ajuste na máquina da reeleição

O risco de uma disparada do preço dos combustíveis produziu um ajuste na máquina eleitoral de Jair Bolsonaro. Embora defendam o uso de armas diferentes, a ala política e a equipe econômica do governo sinalizam que alguma intervenção será necessária para conter aumentos excessivos nas bombas nos próximos meses. A campanha levou os dois lados a falarem línguas parecidas.

A reação do consórcio bolsonarista à nova alta do petróleo indica o perigo que esse grupo enxerga nas bombas de combustíveis. Símbolo do desconforto vivido pelos brasileiros nos últimos anos, a alta acentuada de preços é considerada dentro do governo uma das principais ameaças à recuperação da popularidade do presidente e à reeleição.

A guerra na Ucrânia mexeu com algumas expectativas políticas para o ano de campanha. Os últimos meses haviam dado algum alívio a Bolsonaro, com sinais difusos de bem-estar econômico se traduzindo em pontos positivos para o presidente nas pesquisas. Mas os impactos do conflito nos preços dos alimentos e da energia devem renovar alguma insatisfação no eleitorado.

Uma pressão inflacionária atingiria grupos importantes para Bolsonaro. A comida mais cara, com a alta do trigo e dos fertilizantes, afetaria principalmente os mais pobres, recém-beneficiados com o Auxílio Brasil. A alta dos combustíveis azedaria uma classe média com inclinações bolsonaristas e grupos organizados, como os caminhoneiros.

O Brasil vai atrás de fontes para compensar a limitação dos fertilizantes russos, mas o esforço de guerra mais significativo do governo está na gasolina e no diesel. Mesmo a equipe de Paulo Guedes reduziu as resistências a alguma política de controle temporário nas bombas.

Até aqui, Bolsonaro foi convencido a deixar no papel seus planos de interferência no setor, em nome da manutenção de uma fantasiosa marca liberal do governo. Agora, com sua sobrevivência em jogo e uma guerra como justificativa, o preço político dessa conversa mudou.

 

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