quarta-feira, 30 de março de 2022

Elio Gaspari: Sete ministros de Bolsonaro

O Globo / Folha de S. Paulo

Em três anos de governo, Jair Bolsonaro empossou sete ministros na Educação e na Saúde. Esse desfile seguiu um padrão. Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, na Saúde, respeitaram os critérios de competência profissional e acabaram fritos. Os demais atolaram na inépcia e no destrambelho: Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, na Saúde; Ricardo Vélez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro, na Educação.

Ribeiro revelou-se um campeão. De um lado, ganha um fim de semana num garimpo ilegal quem for capaz de apontar uma só iniciativa competente que ele tenha patrocinado no MEC. Não mexeu em malfeitorias passadas e meteu-se com pastores das sombras que pediam capilés para tramitar processos junto ao benevolente Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O ministério que já foi ocupado por Gustavo Capanema, Darcy Ribeiro e Ney Braga acabou nas mãos de um pastor que patrocinava colegas que enfiavam fotografias suas em exemplares da Bíblia. Coisa de deslumbrado.

Existem traficâncias federais, estaduais e municipais, Ribeiro meteu-se em malfeitorias municipais. Os dois pastores que o orientavam levavam prefeitos ao ministério, acompanhavam processos para a construção de escolas ou creches e mordiam os alcaides. Num caso, com pedido de um quilo de ouro, segundo a vítima.

Ribeiro parece típico, mas, no primarismo de suas falas e no silêncio de suas iniciativas, assemelhou-se a Ricardo Vélez e a Abraham Weintraub. Nenhum desses dois expoentes do primarismo deixou registro de que tenha se metido em pastoreios.

O capitão assumiu dizendo que havia formado um ministério de técnicos. Na Educação, atrasou a chegada da internet à rede pública. Em certa medida, até fez o certo quando, em seu governo, a Controladoria-Geral da União detonou o edital do FNDE que torraria R$ 3 bilhões em equipamentos eletrônicos. Essa teria sido uma verdadeira traficância federal, mexendo com o equivalente a dez toneladas de ouro. Os 255 alunos da escola Laura Queiroz, em Itabirito (MG), receberiam 30.030 laptops. Parou de fazer o certo quando não perguntou quem fez o maldito edital.

Bolsonaro cultiva superstições. A cloroquina derrubou dois ministros da Saúde e lesou um terceiro. Felizmente, suas paixões pelo nióbio e pelo grafeno foram contidas. Sua visita a uma empresa americana que pesquisava a transmissão de energia elétrica sem fios ficou no talvez.

Em qualquer época, um ministro deve trabalhar olhando para a gestão de sua pasta e para os desejos do presidente ou de seu círculo de conselheiros. Dos sete ministros da Educação e da Saúde de Bolsonaro, dois (Mandetta e Teich) olharam mais para o serviço. Os outros cinco, pelos mais diversos motivos, olharam mais para o Palácio do Planalto. Ralaram-se.

Ribeiro passará o resto de seus dias lembrando que recebeu os pastores das sombras a pedido de Bolsonaro. Faltou-lhe a percepção do limite. O çábio que patrocinava a causa da transmissão de energia elétrica sem fio foi discretamente colocado em seu lugar, e o assunto morreu. Ribeiro, julgando-se mais esperto, lidava com pastores que ilustravam Bíblias com sua ilustre figura.

 

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