sábado, 30 de abril de 2022

Alvaro Costa e Silva: Golpe e deboche

Folha de S. Paulo

No Dia do Trabalhador, a ordem é esticar a corda até arrebentar

Primeiro de Maio bom é (ou era) na Quinta da Boa Vista. Piquenique no gramado, passeio de pedalinho e trenzinho, resenha no pagode chinês e no fim da tarde um grande show de música clássica ou popular nos jardins projetados pelo francês Glaziou. Arrisco a dizer que neste ano o antigo Paço de São Cristóvão, onde nasceram Pedro 2º e a princesa Isabel, estará vazio de trabalhadores. Falta dinheiro até para passagem de trem, quanto mais para churrasquinho de gato.

Tradicional data de reivindicações da esquerda, o Dia do Trabalhador também será usado para manifestações da extrema direita em Brasília, São Paulo, Rio e outras capitais. Para realizá-las dinheiro não falta, nem apoio da máquina estatal. A intenção é reviver o Sete de Setembro do ano passado, quando houve um ensaio de golpe. A ordem é esticar a corda até arrebentar.

Dos oradores, não se deve esperar palavra sobre o desemprego de 12 milhões de pessoas, um dos mais altos do mundo, ou a inflação em foguete (o preço do gás de cozinha é o maior do século). Tampouco sobre a situação de pobreza que atinge metade da população.

O alvo mais uma vez será o STF, com pedidos para implantação da ditadura militar e novos AI-5. Discurso de desprezo à democracia, camuflado como liberdade de expressão, que Bolsonaro e os generais do Planalto adotam desde o começo do governo.

No Congresso, o tecido vai se esgarçando. Depois de Carla Zambelli propor "anistia geral" a parlamentares condenados por manifestações antidemocráticas, Daniel Silveira foi indicado para compor a Comissão de Constituição e Justiça. Um deboche. Líder da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante apresentou um projeto para dificultar a perda de mandato, alterando o número de votos, dos atuais 257 para 340.

Com ataques ao sistema eleitoral, Bolsonaro desvia a atenção do caos econômico e prepara a cama do golpe. Já tem gente louca para se jogar nela.

 

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