sexta-feira, 15 de abril de 2022

Bernardo Mello Franco: O crepúsculo dos olavistas

O Globo

Os pupilos de Olavo de Carvalho se desiludiram com o Mito. Nos últimos dias, Arthur Weintraub e Ernesto Araújo emergiram do pântano para criticar Jair Bolsonaro. Os dois atacaram o governo e expuseram mágoas com o ex-chefe.

Weintraub ligou o presidente ao escândalo no Ministério da Educação. Contou ter recebido ordens de Bolsonaro para entregar o FNDE ao Centrão. O fundo foi depenado pela quadrilha que atuava na pasta.

Enquanto o Planalto se esforça para barrar uma investigação no Senado, o ex-ministro disse que “adoraria ver uma CPI do MEC”. “Tenho muita coisa para contar”, provocou.

Ernesto também surpreendeu. Em março, acusou Bolsonaro de reproduzir “desinformação russa” sobre a guerra. Dias depois, ironizou as novas companhias do capitão, que fez comício ao lado de Fernando Collor e Valdemar Costa Neto.

“Caberia perguntar por que algumas pessoas que estavam no palanque com o presidente e já foram condenadas por corrupção merecem uma segunda chance”, criticou o ex-chanceler.

Em tempos normais, Weintraub e Ernesto nunca teriam saído dos subterrâneos da extrema direita. Após a eleição de Bolsonaro, saltaram dos blogs obscuros para a Esplanada. Os dois viraram ministros graças às ligações com o finado guru da Virgínia.

No governo, eles não tinham pudor de bajular o chefe. Num discurso delirante, Ernesto comparou o capitão a Jesus Cristo. Weintraub endossou os ataques ao Supremo e defendeu a prisão dos juízes da Corte.

Bolsonaro não mudou. Mudaram seus ex-ministros, que ainda parecem inconformados com o retorno ao anonimato. Weintraub não conseguiu apoio para concorrer ao governo de São Paulo. Ernesto ficou proscrito no Itamaraty: não ganhou nem uma embaixada como prêmio de consolação.

Curiosamente, os dois andam piscando para o PT. Quando o capitão defendeu Valdemar, o ex-chanceler perguntou se Lula também merecia uma “segunda chance”. Weintraub foi mais explícito: disse que o sonho bolsonarista virou “pesadelo”. “Hoje ou é com Lula ou a gente continua piorando”, declarou.

Para azar da dupla, a frente lulista não parece ser ampla o suficiente para recolher os náufragos do olavismo.

 

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