domingo, 24 de abril de 2022

Cristovam Buarque*: Voltem aos Quartéis

Blog do Noblat / Metrópoles

O governo militar eleito está degradando a imagem militar muito mais do que o governo militar golpista, tanto dentro quanto fora do país

Durante 21 anos de regime militar, as Forças Armadas foram temidas e criticadas, mas havia respeito, temeroso e indignado. Depois desse período, as Forças Armadas se recolheram aos quarteis e ao respeito somou-se admiração. Em 2018, um capitão e um general foram eleitos e levaram o Exército de volta ao poder, comprometendo as FFAA. Os eleitos representam seus partidos, não as instituições a que pertencem. Mas os soldados – Presidente, Vice-Presidente e os muitos militares – que foram eleitos em 2019 optaram por comprometer o Exército, a Marinha e a Aeronáutica nos erros do novo governo.

Em consequência, a partir de 2019, nossas Forças Armadas começaram a degradar sua imagem, em função do destempero irresponsável de um presidente despreparado para o cargo; da incompetência de ministros incompetentes para gestão; da falta de empatia diante do sofrimento dos doentes e mortos pela epidemia e dos mortos sob tortura durante a ditadura; diante também dos desperdícios de gastos com compras desnecessárias e até ridículas; por suspeitas de corrupção e conivência com ameaças às instituições democráticas e pelo desprezo diante de nossas riquezas naturais e nossos povos indígenas.

O governo militar eleito está degradando a imagem militar muito mais do que o governo militar golpista, tanto dentro quanto fora do país. Depois de quase quatro anos de governo, a imagem das FFAA está desgastada e ridicularizada, debochada em alguns momentos. Isto não é bom para o Brasil.

Um país com nossa dimensão precisa

de FFAA fortes, preparadas, profissionais, bem equipadas e, sobretudo respeitada pela população, uma instituição de todos, sem partidarismo e sem comprometimento com os erros do governo do momento, passageiro como todos governos.

Por isto, o Brasil precisa retomar confiança e respeito por seus soldados, e não há outra forma, salvo eles se descomprometerem com os erros do governo e retornarem aos quarteis.

As FFAA não deveriam ser um partido, mas parece que se preparam para disputar eleição com uma chapa puro sangue militar. Se perderem, voltarão aos quarteis rejeitadas; se ganharem, ficarão mais quatro anos com o atual presidente, e a desmoralização será ampliada. Se decidirem apoiar ruptura na ordem democrática, poderão ficar mais tempo, adiarão a saída, mas sairão do poder com a imagem ainda mais desgastada, como mostra a experiência no Brasil e em todas partes.

Todo cidadão, civil ou militar, tem direito de se candidatar, mas sem levar as FFAA como reféns de líderes ou seus partidos. O Brasil precisa de seus soldados respeitados, profissionalizados na caserna. Se forem patriotas, voltem aos quarteis.

*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador

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