quarta-feira, 6 de abril de 2022

Ranier Bragon: Playground dos Bolsonaros

Folha de S. Paulo

Jair e Eduardo têm, juntos, mais de dez representações que nunca deram em nada

A oposição anunciou o envio ao Conselho de Ética da Câmara de representações contra mais uma quebra de decoro cometida por um integrante da família Bolsonaro.

Trata-se da publicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ironizando a tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão durante a ditadura militar.

Qual a chance de isso dar em alguma coisa? Não precisa ir até o final do texto. É zero.

Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo são antigos clientes do Conselho de Ética. Juntando as novas representações, são mais de dez, um recorde. Só encontram concorrência, vejam só, no bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ), com nove.

Os Bolsonaros frequentaram o conselho por considerações sobre estupro mediante merecimento, defesa de torturador, troca de cusparadas, agressões, defesa da volta do AI-5, entre outros casos.

Nunca o órgão aplicou sequer uma advertência verbal. O que ajuda a explicar a ascensão de Bolsonaro, do bolsonarismo e do modo bolsonarista de ser.

O Conselho é dominado pelo centrão de Arthur Lira (PP-AL). Em 2022 não houve uma única representação analisada.

Lira segura em sua gaveta, sem enviar ao órgão, representações contra deputados como Josimar Maranhaozinho (PL-MA), suspeito de desvio de emendas parlamentares, flagrado em vídeo manuseando notas de dinheiro e alvo de três operações da Polícia Federal.

Antes de ir para o Conselho, as representações passam antes pela Mesa da Câmara. Caso as de Eduardo cheguem mesmo algum dia lá, o caso será analisado ainda por um colegiado de largo histórico corporativista, com 21 integrantes, sendo apenas 6 da oposição. A legislatura termina em janeiro.

No mundo ideal, esse texto deveria ser corrigido no fim do ano: diferentemente do escrito na versão original, Eduardo Bolsonaro sofreu punição inédita da Câmara, dessa vez por ter zombado e, por consequência, legitimado tortura praticada pela ditadura militar contra uma mulher grávida.

 

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